02 setembro, 2024

𝑨 𝑻𝒓𝒊𝒍𝒐𝒈𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝑵𝒐𝒗𝒂 𝑰𝒐𝒓𝒒𝒖𝒆, de Paul Auster

 

Autor: Paul Auster
Título: A Trilogia de Nova Iorque
Tradutor: Alberto Gomes
N.º de páginas: 298
Editora: Biblioteca Sábado
Edição: Junho 2008
Classificação: Novelas
N.º de Registo: (3557)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Livro surpreendente. O que de início aparenta um romance policial, vai evoluindo para questões existenciais, de reflexão e questionamento do “eu” a partir de um “outro”.

Nas três histórias - Cidade de Vidro, Fantasmas e Quarto Fechado - que compõem o livro, o efeito-surpresa está nos nomes das personagens e no absurdo das tramas vividas pelos protagonistas, todos detectives, que se encontram completamente à deriva.

As três histórias, que podiam bem ser apenas uma, perturbam e incomodam na medida em que a obsessão excessiva da personagem principal se cola à pele do leitor. Não é possível desvincular-se da agitação interior que a invade e com ela mergulha no abismo.
"Nova Iorque era um espaço inesgotável, um labirinto de passos intermináveis;(…) ficava sempre com a sensação de estar perdido. Perdido, não apenas na cidade, mas também dentro de si (…). Ao caminhar sem destino, todos os lugares se tornavam semelhantes, deixando de ter importância o sítio onde se encontrava. Nos seus melhores passeios, conseguia atingir o sentimento de que não estava em sítio algum. Nova Iorque era esse nenhures que havia construído à sua volta, e apercebeu-se de que não tencionava abandonar aquela cidade, nunca." (pp. 7 e 8).

No final da última história, o autor, explica a relação entre os três livros, sem, contudo, desvendar alguns mistérios, mantendo o leitor a pairar perante o não-dito, a incerteza do enigma.

A escrita de Auster é enganosa porque a simplicidade inicialmente aparente, torna-se intrincada e densa. O jogo de misturar narrador e escritor (Paul Auster é também personagem) confunde o leitor para o melhor prender à história. (“Para si, Auster não passava de um nome, um invólucro sem conteúdo. Ser Auster significava ser um homem sem interior, um homem sem pensamentos.”(p. 62)).Também não pretende apresentar soluções para os mistérios, pelo contrário, constrói personagens complexas e caóticas que na busca de um sentido acabam por se perder completamente. E o leitor deixa-se conduzir página a página e, no final, sai maravilhado com a originalidade da escrita, mesmo sem entender toda a complexidade da trama.

Sempre fugi dos livros de Paul Auster. Tenho uma amiga que há muito tenta que eu os leia, mas sempre me esquivei. Não tenho nenhuma razão que o justifique. Manias. Porém, com a morte dele, achei que tinha chegado o momento de lhe dar uma oportunidade. Gostei. Já cá tenho mais dois à espera da sua vez.



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