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27 junho, 2024

𝑼𝒎𝒂 𝒗𝒂𝒍𝒔𝒂 𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝑴𝒐𝒓𝒕𝒆, de João Tordo

 

Autor: João Tordo
Título: Uma valsa com a Morte
N.º de páginas: 216
Editora: Companhia de Letras
Edição: Maio 2023
Classificação: Ensaios
N.º de Registo: (3459)




OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐




Em Uma valsa com a Morte, João Tordo regressa à não-ficção (ainda não li o Manual de Sobrevivência de um Escritor) e alinha uns primeiros passos mais intimistas com o leitor.
“Num primeiro andamento”, revela-nos um conjunto de ensaios sobre a música, a literatura, a criatividade, a espiritualidade, a religião e vai entretecendo algumas relações entre estes temas, vai expondo alguns pensamentos, algumas teorias (as suas). À medida que “valsamos” no livro, outros “compassos” se vão impondo e nos orientam na reflexão da passagem do tempo, do medo de morrer, na aceitação da morte, bem como nos afundam nos relatos de depressão, de loucura, de melancolia, e nos elevam nos momentos de alegria, de felicidade e de esperança na superação das fragilidades, das fraquezas, da loucura.
João Tordo, no texto inicial, informa o leitor “ que este livro era sobre a Morte”. Após a morte da sua avó, o autor sentiu a necessidade de expurgar a dor sentida e encontrou a “agulha” que uniria todos os fios soltos que compunham os textos escritos.
Nós, leitores, deixamo-nos conduzir e sentimos a omnipresença da Morte que valsa ao nosso lado, ora mais sombria, ora mais afoita, ora mais serena.
João Tordo revela-se ao leitor. Escancara a porta da sala de baile e convida-nos a valsar ao ritmo imposto pela sua escrita. Num andamento mais moderado, mais alegre, ou mais lento, acompanhamos os seus gostos, os seus medos, as suas crenças, e até as suas obsessões e o seu amor pela avó, ou seja, a forma como vive, pensa e sente.
Em suma, e como o referiu João Tordo, estes textos interligados são a tentativa de dar resposta à pergunta “ que fazer da vida quando a presença da Morte é incontornável?” João entende que se começarmos “ quanto antes a tratar a Morte por “tu” é um passo largo para nos apaziguarmos diante do assustador negrume.” (p. 202), mas também a tentativa (muito conseguida) de explorar e encontrar o Belo e o Sublime face à finitude da existência.
Depois de ter lido este livro e de “ter valsado com a Morte”, acredito que consiga mais facilmente tratar a Velha Senhora por “tu”. Afinal, a vida é isso mesmo. É aceitar o tempo que dura a valsa, e se for de forma agradável e em boa companhia, tanto melhor.



02 novembro, 2021

𝑨 𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝒄𝒐𝒓𝒓𝒆𝒖 𝒂𝒕𝒓á𝒔 𝒅𝒐 𝒗𝒆𝒏𝒕𝒐, de João Tordo

 

Autor: João Tordo
Título: A mulher que correu atrás do vento
N.º de páginas: 456
Editora: Companhia das Letras
Edição: Março 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3146)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


A Mulher que Correu Atrás do Vento é constituído por oito partes, algumas datadas no tempo e no espaço, numa estrutura complexa, mas que no final se encaixam como um puzzle. É um romance no feminino, sobre a vida de 4 mulheres (Beatriz, Lisbeth, Graça e Lia) e com inúmeras referências a livros, músicas, filmes, peças de teatro, pinturas, …. São histórias dentro de uma grande história. Um romance dentro de um romance. Será isto possível?
Como já é habitual no autor, a sua narrativa transborda de emoções. As suas personagens correm “atrás do vento” numa luta contra o abandono, a solidão, o medo, o remorso, a clausura interior. É um livro sobre as memórias, a redenção.
“Que aquilo que imaginamos é tão verdadeiro como a realidade, porque tem o poder de nos salvar, de redimir uma vida tantas vezes brutal, sempre efémera, desgostosamente solitária.” (p. 446)

Ao longo dos capítulos, as histórias das 4 mulheres vão-se entrelaçando e criando uma maior densidade. É este cruzamento que dificulta a leitura, por vezes, é necessário voltar atrás, reler algumas passagens, deixar o vento amainar. Mas é por isso que aprecio a escrita do autor, o ritmo, o jogo, a forma como subverte a arte de narrar, e até o final é surpreendente e esclarecedor, ou talvez não…

“As coisas começam num lugar distante no tempo e na geografia e, depois, parecem repetir-se infindavelmente, tal qual um relógio cujos ponteiros atravessam a mesma hora todos os dias. Assim é a vida humana: a repetição dos mesmos erros, dos mesmos atalhos, das mesmas esperanças.” (p. 439)



10 janeiro, 2021

𝑭𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, de João Tordo

                                                     

Autor: João Tordo
Título: Felicidade
N.º de páginas: 390
Editora: Companhia das Letras
1.ª Edição: Outubro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: 3253


OPINIÃO: ⭐⭐⭐⭐

É o nono livro que leio de João Tordo e a minha admiração pela sua escrita, pelo seu poder criativo quer ao nível da construção quer do enredo, tem vindo a crescer de livro para livro. 

Felicidade apresenta características de uma tragédia grega, não sendo uma peça de teatro, há contudo aspectos que para aí remetem, como por exemplo, a estrutura do romance, a divisão em três actos; o culto à mitologia grega; o tema da morte e a história trágica e dramática derivada da paixão humana; a tensão permanente em que vive a personagem e o final infeliz e trágico. 

Ao longo da narrativa, acompanhamos um jovem (não lhe foi atribuído um nome) desde os tempos em que frequentava o liceu até à vida adulta, ao desenlace trágico. Conhecemos a sua família, alguns amigos e as trigémeas: Felicidade, Esperança e Angélica. 
Trata-se de uma história intensa, marcada por muito sofrimento, solidão e loucura, ao contrário do que os nomes atribuídos às figuras femininas poderiam indiciar: uma história de amor, de felicidade e de tranquilidade. O leitor nem terá tempo de alimentar essa ilusão porque logo nas duas primeiras páginas, o narrador revela o estado final das irmãs e ao apresentá-las, cria um certo suspense que provoca no leitor uma vontade enorme de descobrir o mistério que envolveu a vida deste jovem. 

“A primeira das trigémeas foi o meu grande amor, a segunda a minha mulher e a terceira participante involuntária da minha ruína. Juntas, elas destruíram a minha vida de maneira lenta e insidiosa, como uma matilha de cadelas que rodeia, dia após dia, um passarinho esfomeado, até este jazer morto no chão da sua gaiola. Finalmente, encontram-se saciadas”. 

Para além do enredo trágico há uma excelente contextualização da História e da Cultura da época em Portugal (anos 70 e 80), bem como uma importante referência à mitologia grega que muito enriquecem a história. Gostei muito desta contextualização porque reavivou a minha memória. Quem viveu estes tempos sabe quão importantes foram. 

Recomendo a sua leitura. É um romance enigmático, trágico com pinceladas de humor e algumas passagens surpreendentes. 

26 janeiro, 2020

A Noite em que o Verão Acabou, de João Tordo



OPINIÃO


Não sou apreciadora de Thrillers. Decidi ler este porque é do João Tordo e porque fiquei curiosa de perceber o que o distinguiria dos seus outros livros. Para mim, é mais um romance. O autor gosta de matar as suas personagens e de criar suspense. Em vários livros seus isso acontece e este é mais um. 

O enredo é narrado em vários tempos e espaços (João Tordo gosta de fazer viajar as suas personagens para vários destinos e volta e meia “regressa” a Nova Iorque) e contém várias histórias que no final se conjugam e todas as peças encaixam na perfeição (e nisto o autor é fabuloso). Temos a história da família Walsh, da família Taborda e, ainda, a história de Pedro Taborda que pretende ser escritor. Esta é para mim, a parte fulcral do enredo, um jovem apaixonado e ambicioso que procura encontrar-se e construir-se como escritor ao ponto de se candidatar, a “um lugar nas aulas de Gary List”, o seu escritor preferido que leccionava uma cadeira na New York University. A paixão que tem por Laura Walsh e o seu envolvimento na tentativa de resolução dos homicídios são os ingredientes certos para o seu crescimento como escritor. 
“Aquele caso (o que acontecera naquela noite de catorze de Setembro) era, na verdade, uma história de amor. Ou mais de uma.
E o amor é, será sempre, uma coisa inexplicável. É o lugar onde todas as coisas nascem e onde todas as coisas perecem (…) que é impossível metê-lo nas páginas de um livro, sobretudo porque o amor é também caos e dispersão, é também miséria, ódio, traição, sexo, ambição e inveja.” (p. 655). 

Todos estes ingredientes integram este livro que apesar da sua extensão, 667 páginas, se lê muito bem. A escrita clara e fluída e o enredo surpreendente agarram muito bem o leitor.



17 novembro, 2019

O deslumbre de Cecília Fluss, de João Tordo


SINOPSE

Aos catorze anos, Matias Fluss é um adolescente preocupado com três coisas: o sexo, um tio enlouquecido e as fábulas budistas. Vive com a mãe e a irmã mais velha, Cecília, numa espécie de ninho onde lambe as feridas da juventude: a primeira paixão, as dúvidas existenciais, os conflitos de afirmação. Sempre que sente o copo a transbordar, refugia-se na cabana isolada do tio Elias.
Cedo, contudo, a inocência lhe será arrancada. Ao virar da esquina, encontra-se o golpe mais duro da sua vida: o desaparecimento súbito de Cecília que, afundada numa paixão por um homem desconhecido, é vista pela última vez a saltar de uma ponte.

Muito mais tarde, Matias será obrigado a revisitar a dor, quando a sua pacata vida de professor universitário é interrompida por uma carta vinda das sombras do passado, lançando a suspeita sobre o que aconteceu realmente à sua irmã — sem saber ainda que regressar ao passado poderá significar, também, resgatar-se a si mesmo.

No final desta «trilogia dos lugares sem nome», iniciada com O luto de Elias Gro, João Tordo explora, através de personagens únicas e universais, numa geografia singular, os temas da memória e do afecto, do amor e da desolação, da vida terrena e espiritual, procurando aquilo que com mais força nos liga aos outros e a nós próprios.


OPINIÃO



Com este livro termino a trilogia dos Lugares Sem Nome. Três romances com personagens que transitam de uns para os outros, mas que podem ser lidos sem qualquer ordem. 

E continuo a achar que estes livros marcam uma viragem na escrita de João Tordo, tal como o enunciei aquando da leitura do Luto de Elias Gro, o primeiro que li e o primeiro da trilogia. A escrita continua sublime e bela, e tal como nos anteriores predominam os sentimentos, o questionamento a procura do eu. 

Neste livro em concreto, o autor explora a temática da perda da memória, do isolamento, da loucura. É Matias Fluss, adulto, numa tentativa de resgatar a sua memória, que nos conta a sua adolescência conturbada, a solidão e a loucura do seu tio Elias, a insatisfação e o desaparecimento da sua irmã Cecília. 

“Antes de começarmos a esquecer, temos de recordar, de começar por recordar, e aquele que começa a recordar, inversamente, começa também a esquecer” (p. 194) 

Mas o envelhecimento e o avanço da demência baralham tudo e é uma aluna de Matias que o ajuda a confrontar o passado e a revisitar a dor ao descobrir a verdade sobre a sua irmã. Trata-se de um complexo caminho para levar o leitor ao questionamento sobre a vida, sobre a condição humana. 

Nos três livros temos a fuga e o isolamento como meios de esquecer o passado. Em todos, o leitor vive o desespero da personagem, assiste à sua decadência, à loucura, à dor, por vezes à esperança. 

“Caminhei até à praia, via as gaivotas saltarem empoleiradas nas suas perninhas ridículas, o mar entrava lentamente pela areia dentro. Nada nos aprisiona, concluí. Somos nós que construímos a cela, que nos enclausuramos, e isso dói. Mas é preciso que doa, que doa muito, até que a dor de abrir uma brecha nesse muro seja menor que a dor de permanecer preso lá dentro, Na maior parte das vidas, tal nunca sucede.” (p. 326) 




22 junho, 2019

O Paraíso Segundo Lars D. de João Tordo




SINOPSE

Numa manhã de Inverno, Lars sai de casa e encontra uma jovem a dormir no seu carro. Ele é um escritor sexagenário e, poucas horas mais tarde, parte em viagem com a jovem deixando para trás um casamento de uma vida inteira e um romance inédito: O luto de Elias Gro.


OPINIÃO

Quando li O Luto de Elias Gro, primeiro livro da trilogia dos Lugares Sem Nome, referi que esta era a mais bonita obra do João Tordo que já tinha lido. Com este segundo livro, a beleza da escrita mantém-se, a narrativa triste e angustiada permanece. Também este se debruça sobre o tema da solidão, do silêncio, do isolamento da personagem, mas, que desta vez, se dedica à escrita como forma de existir e de combater a doença que o vai minando. Lars é escritor e quando desaparece de casa deixa um livro por publicar. Trata-se de O Luto de Elias Gro. 


É pela voz da mulher que vamos conhecendo Lars e tomando conhecimento deste silêncio, do vazio de afectos que se estabeleceu na vida conjunta: “Nunca conheci um homem que tivesse tantos ossos à flor da pele; a verdade é que não conheci muitos homens intimamente, e que este me bastou para uma vida inteira de perplexidade. Como não ficar perplexa perante um sujeito que luta pelo silêncio e pela solidão como quem luta pela pátria? “ . 

É ainda ela que na ausência do marido refere a Xavier, seu vizinho mais jovem, que “Os últimos livros do meu marido são um progressivo chamamento ao silêncio”. Ela que nunca se intrometeu no silêncio do marido, que nunca reclamou a sua presença, que sempre aceitou esta forma de existir, vai aproximar-se de Xavier e expor as suas dúvidas e os seus estados de alma. 

Apesar de ser o segundo livro de uma trilogia, não requer a leitura prévia do anterior. Tal como o primeiro, trata-se de um livro intenso em que predominam os sentimentos, as emoções, o questionamento.



10 fevereiro, 2019

O Luto de Elias Gro de João Tordo

SINOPSE


Numa pequena ilha perdida no Atlântico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais. 
A ilha alberga criaturas singulares: um padre sonhador, de nome Elias Gro; uma menina de onze anos perita em anatomia; Alma, uma senhora com um coração maior do que a ilha; Norbert, um velho louco que tem por hábito vaguear na noite; e o fantasma de um escritor, cuja casa foi engolida pelo mar. 
O narrador, lacerado pelo passado, luta com os seus demónios no local que escolheu para se isolar: um farol abandonado, à mercê dos caprichos da natureza - e dos outros habitantes da ilha. Com o vagar com que mudam as estações, o homem vai, passo a passo, emergindo do seu esconderijo, fazendo o seu luto, e descobrindo, numa travessia de alegria e dor, a medida certa do amor. 
O luto de Elias Gro é o romance mais atmosférico e intimista de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso.


OPINIÃO

Este livro de João Tordo marca, na minha opinião, uma viragem na sua escrita. Deixamos de ter uma história que gira em volta de um mistério à procura de uma solução para termos uma narrativa triste e angustiada. Temos um homem cheio de mágoa que escolhe a fuga e o isolamento numa ilha pequena para esquecer os fantasmas do passado que o assombram violentamente (a separação da mulher amada e a morte da filha). Temos personagens fabulosas com histórias e segredos para desvendar. 

A escrita de João Tordo é bela, intensa e profunda e requer uma leitura pausada, introspectiva, silenciosa e triste. Há descrições sublimes de melancolia, de amor, de fé, de solidão, de silêncio, de dor, de perda. Vivemos o desespero da personagem, compreendemos a necessidade de estar só, de “ouvir” o silêncio, assistimos ao seu percurso que o leva à desistência da vida, à decadência humana e sentimo-nos tristes e desesperados, por vezes, esperançados. 

"Se tu morresses eu ficava triste.
Porquê?
Porque fazes parte da minha história.” 

O Luto de Elias Gro, primeiro volume de uma trilogia, “Trilogia dos lugares sem nome”, é sem dúvida, a mais bonita obra do João Tordo que já li e já li quase todos os seus livros. 

"As pessoas são feitas de porcelana, concluiu. Lascam com facilidade, instigam em nós a urgência de não as deixar cair. Partem-se em pedaços se as largarmos. Esses pedaços são inconsoláveis. É impossível tornarmos a juntá-los e, se o tentarmos, ficaremos para sempre a observar as rachas que inadvertidamente lhes causámos, cicatrizes que não passam. Por mais que as pessoas jurem que são feitas de outro material, acredite em mim quando lhe digo que são feitas de porcelana, da mais frágil e dispendiosa." 



20 março, 2017

O Ano Sabático de João Tordo


Os livros que já li do João Tordo levam-me a reflectir, por vezes, de forma extremamente violenta, sobre a vida e o ser humano. Este não foge à regra e estamos, perante um homem, músico, contrabaixista, que atravessa um período difícil e que assim decide regressar a Lisboa, para junto da família na tentativa de encontrar algo que o inquieta e que o impede de concluir uma melodia...
Lê-se bem, no início parece que não avança muito, mas no fim acaba por nos agarrar.




08 março, 2017

12 fevereiro, 2017

O Bom Inverno de João Tordo



Após a leitura de As Três Vidas do mesmo autor, galardoado com o Prémio Saramago, espera-se que este esteja ao mesmo nível.
Bem escrito, o autor apresenta-nos um enredo policial que mantém o leitor preso e por vezes surpreendido com o desenrolar da ação.
O narrador é um escritor português frustado e depressivo (o facto de coxear e usar bengala é apenas psicológico) que aceita um convite para participar num encontro de escritores, na Hungria. Aí conhece outros escritores e vai envolver-se numa aventura estranha e negra...
Gostei, lê-se bem. No entanto, continuo a achar que As Três Vidas está num patamar superior.