Mostrar mensagens com a etiqueta Louise Glück. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Louise Glück. Mostrar todas as mensagens

01 janeiro, 2021

Iniciar 2021 em poesia...


                                  



Tinha nevado. Lembro-me
de música saindo de uma janela aberta.

Vem a mim, dizia o mundo.
Não significa
que o fizesse com frases
mas era assim que eu intuía a beleza.
Aurora. Uma película de humidade
sobre cada ser vivo. Poças de luz fria
formavam-se nas sarjetas.

Eu esperava
na soleira,
por mais ridículo que pareça agora.

O que outros encontravam na arte,
encontrava eu na natureza. O que outros encontravam
no amor humano, encontrava eu na natureza.
Muito simples. Mas não havia nenhuma voz ali.

Louise Glück, Averno



08 outubro, 2020

Louise Glück vence Prémio Nobel da Literatura 2020

 



A poeta norte-americana Louise Glück é a vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2020. O galardão foi-lhe atribuído pela sua “voz poética inconfundível que, com beleza austera, torna a existência individual universal”, justificou a Academia Sueca.

Louise Glück é a 16ª mulher a vencer o Nobel da Literatura desde a sua criação, em 1901, e uma das poucas norte-americanas a recebê-lo.

Louise Glück, de 77 anos, é uma das mais celebradas poetas norte-americanas. A escritora nasceu a 22 de abril de 1943, em Nova Iorque, e estreou-se no mundo da literatura em 1968, com a coletânea de poemas Firstborn, sendo desde logo apontada como uma das vozes mais fortes da nova geração de poetas dos Estados Unidos da América. Temas como a infância e vida familiar ou as relações estreias entre pais e irmãos destacaram-na de outros autores, e continuaram presentes na sua obra, constituída hoje por 12 volumes de poesia e alguns ensaios.



Paisagem/3

Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono

fora muito seco; o campo
ardeu como palha.

Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.

Nada havia para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –

Onde está o campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.

Ninguém sabe responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.

É como perder um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?

Mais tarde regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.

Pensas: como pude viver aqui?

Mas na altura era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.

Um único fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.

O campo crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer.