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15 abril, 2023

Inquietação?

 

O abraço, Gustav Klimt

Será ainda possível
meu amor
trocar a vida por ti…

trazer-te devagar
ao coração?

entregar-me ao teu
secreto abraço
e só então…

abrirmos as asas
devagar
a voar a eternidade

… até ser não."

In Paixão, Maria Teresa Horta


04 maio, 2008

Poema à MÃE de Eugénio de Andrade

Gustav Klimt (1862-1918)
"The Three Ages of Woman", 1905

Mother and Child
(detail from The Three Ages of Woman), 1905

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras

que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo

são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas

que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,

talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me?
-às vezes ainda sou o menino

que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa

no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,

e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.


Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

in "Os Amantes Sem Dinheiro" (1950)