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25 maio, 2025

𝑹𝒐𝒎𝒂𝒏𝒄𝒆 𝒅𝒂 𝑹𝒂𝒑𝒐𝒔𝒂, de Aquilino Ribeiro



Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Romance da Raposa
Ilustrador: Benjamim Rabier
N.º de páginas: 188
Editora: Bertrand Editora
Edição: Agosto 1996
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3643)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


O clássico juvenil Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro narra as aventuras de Salta-Pocinhas, uma “raposeta matreira, fagueira, lambisqueira - senhora de muita treta”.

Trata-se de uma leitura deliciosa não apenas para as crianças, mas também para os adultos. A linguagem rica e viva do mestre Aquilino Ribeiro aliada a um ritmo e a uma sonoridade musicais (recurso a rimas, métrica e aliterações) e a um sentido de humor apurado fascina o leitor e agarra, seguramente, as crianças (com mais de 10 anos, segundo o autor) com as travessuras da raposinha.

Li este livro há muito, muito tempo. Já não tinha memória de muitas das suas traquinices. Lê-lo, agora, com outro entendimento, é muito mais prazeroso. Deixei-me conduzir pelas palavras desenvoltas e sábias de Aquilino que usa com mestria a matreirice da heroína para criticar a sociedade da sua época. Ora vejamos, a raposa “delambida, atrevida, mas precavida, vai gerir a sua longa vida com o propósito de matar a fome e alimentar a alma, nem que para isso, tenha de enganar homens e bichos, corromper, assassinar e gabar-se orgulhosamente. Metáforas perfeitas que se ajustam, também, aos dias de hoje.

Apenas, acrescentar que esta edição da Bertrand inicia, em jeito de Introdução, com a carta que o autor escreveu ao seu filho Aníbal (Natal de 1924) a explicar por que decidiu escrever este livro. Ficamos, ainda, a saber que retratou a raposa sem falsificações, tal como vem na Fábula do Mestre Esopo.



22 outubro, 2023

𝑼𝒎𝒂 𝑳𝒖𝒛 𝒂𝒐 𝑳𝒐𝒏𝒈𝒆, de Aquilino Ribeiro

 



Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Uma Luz ao Longe
N.º de páginas: 166
Editora: Bertrand Editora
Edição: Setembro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3466)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Uma Luz ao Longe é nesta edição prefaciada pelo escritor Gonçalo M. Tavares que incita o leitor a uma atenção redobrada e a meter-se “ por inteiro no livro que lhe exige energia da bruta e da boa.” Já que toda a energia exigida “por um livro de Aquilino é retribuída, em dobro, pelo prazer que se recebe.” Trata-se de uma fórmula inteligente de estimular a leitura deste livro.

Este romance de formação, e de cariz autobiográfico, narra o período da vida de Amadeu Magalhães, o protagonista, que com dez aninhos tem de sair de casa e apresentar-se no seminário do Colégio da Nossa Senhora da Lapa. Menino inteligente, e curioso é alvo de chacota dos outros colegiais, sente vergonha das suas origens, não aprecia a clausura a que é sujeito, sofre com o afastamento da sua gente, questiona a “hostilidade que se açulara” contra ele, estranha a vida austera e os ensinamentos recebidos pelo que se fecha dentro da sua “timidez selvagem como dentro de uma cidadela”, mostrando desde logo a sua fraca vocação para a vida de sacerdócio.
“ – Este rapazinho é pior que um gato assanhado. Não se metam com ele. Deixem-no que logo amansará!
Tal foi a minha iniciação no Colégio de Nossa Senhora da Lapa, instituído e patrocinado pelo prelado da diocese para ensino de meninos e seu ordenamento na carreira eclesiástica e civil. “ (p. 44)

O protagonista “traquinas, leviano porventura, dado à ribaldia” sempre que algo acontecia, constava na lista dos suspeitos e sentia repulsa pela injustiça praticada pelos padres. “A mim nada me fere tanto como a injustiça” (p. 148)
Até que um dia, após um determinado episódio, e confirmando uma forte personalidade já bastante notória, é expulso do seminário, pondo em causa o sucesso dos exames e a continuação dos estudos. Amadeu, em casa, livre e já com um carácter determinado prepara-se com dedicação e apresenta-se aos exames. Contrariando as expectativas dos seus antigos professores do seminário, passou com sucesso.

E assim, com esta atitude se começa a forjar, desde muito jovem, o seu ex-libris - “Alcança quem não cansa” – porque nas horas de maior tristeza e amargura, uma luz “pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho. (…) A questão para o indivíduo é ter olhos que a descubram.” (p- 130)

Sob a forma de memórias, o mestre Aquilino Ribeiro apresenta-nos um testemunho fabuloso das gentes, da terra e paisagens da Beira Alta, mas mostra-nos sobretudo que “no homem tudo consiste em ser e subsistir. Ser envolve um problema de ordem temporal, mas subsistir um problema de eternidade.” (p. 133)

Resta-me acrescentar que o percurso literário que realizei às Terras do Demo, no início deste mês, e mais concretamente A Nossa Senhora da Lapa com o privilégio de visitar os espaços, quarto incluído, onde Aquilino viveu, proporcionou-me o triplo do prazer na leitura deste livro que recomendo. Afinal, o Gonçalo M. Tavares tinha razão.





23 abril, 2023

𝑽𝒐𝒍𝒇𝒓â𝒎𝒊𝒐, de Aquilino Ribeiro

 


Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Volfrâmio
N.º de páginas: 310
Editora: Bertrand Editores
Edição: Setembro 2015
Classificação: Romance histórico
N.º de Registo: (3446)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Volfrâmio tem como tema a exploração das minas durante a II Guerra Mundial e o colaboracionismo dos portugueses no fornecimento de volfrâmio às fábricas de armamento quer dos alemães quer dos ingleses. Este aspecto retrata a posição ambígua dos governantes portugueses, na época, perante a Guerra. Mas é sobretudo uma caricatura do Portugal rural da Beira, das terras paupérrimas do interior e dos comportamentos bacocos, extravagantes e vis da população devido ao enriquecimento fácil e inesperado provocado pela extração de volfrâmio. Este período de abundância revelar-se-á efémero, porém tempo suficiente para as gentes da terra entrarem em loucura, esbanjarem dinheiro em despesas vãs, entrarem em jogos de enganos, roubarem e até cometerem crimes. Tudo em nome do dinheiro que obtêm na venda do mineral.

Aquilino Ribeiro evidencia um conhecimento apurado e vasto dos lugares e das pessoas e revela ser um observador atento já que na sua narrativa descreve minuciosamente formas de estar e de sentir: a corrida desenfreada ao volfrâmio; a luta infernal pela sua exploração; a vida miserável das gentes que tentam subsistir num território pobre e com um clima agreste; as mudanças económicas e sociais que advieram das novas circunstâncias. Fica claro o crescendo das consequências negativas à medida que a utopia “do ouro negro” se vai diluindo. A alteração de valores, de atitudes, de falta de ética põe a nu a exploração dos trabalhadores, as condições de trabalho, a corrupção aliada ao contrabando, e o fosso cada vez maior entre ricos e explorados. Aquilino nos seus romances oferece-nos uma diversidade lexical muito própria da sua Beira. A sua escrita é erudita e elegante, com toques de ironia, rica em regionalismos, muito apoiada nas raízes culturais e linguísticas do povo. Algum vocabulário é considerado difícil porque em desuso, mas facilmente compreensível em contexto.

Gostei de (re)descobrir a prosa de Aquilino. Há muito que o não lia. Prometo dar continuidade. É necessário promover os bons escritores, os clássicos da nossa literatura. E se “ Aquilino possuía como nenhum outro, a sabedoria da língua e dos segredos gramaticais e estilísticos: metáforas, sinédoques, parábolas, fábulas, analogias, um arsenal de conhecimentos que aplicava nos livros com alegre desenvoltura.” como refere Baptista-Bastos no seu prefácio, então Aquilino não pode continuar esquecido nas estantes.