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18 setembro, 2021

𝑨 𝑻𝒆𝒓𝒄𝒆𝒊𝒓𝒂 𝑹𝒐𝒔𝒂, de Manuel Alegre

 


Autor: Manuel Alegre
Título: A Terceira Rosa
N.º de páginas: 133
Editora: Círculo de Leitores
Edição: Julho 1999
Classificação: Romance
N.º de Registo: (1047)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Neste pequeno livro em prosa, Manuel Alegre relata-nos simultaneamente uma história de amor e o final do Estado Novo.
Numa escrita poética, o autor tece um paralelismo entre o amor de Xavier e Cláudia que oscila entre encontros e desencontros, entre felicidade e solidão, e entre a decadência do regime e a Liberdade.
“Viveu a euforia de Lisboa Libertada, as chaimites que se passeavam, o sorriso das pessoas, a corrente que passava entre todos, o sentimento de pertença a um país, um movimento, um sonho. (…) Estava alegre e estava triste, partícipe e ausente. (…) Havia uma ausência, faltava o resto da sua mais secreta e íntima liberdade.” (p. 115)

Num tom confessional, e numa mescla de prosa e poesia, o autor recorre a pequenos textos, fragmentos intimistas para nos mostrar o caminho do amor, da paixão, da liberdade, mas também da solidão, da perda, da morte.
“ (Que nome te dar? Tu és única. Tu és todas. Ou talvez nenhuma. Eu sou tu. Tu és eu. A outra metade de mim. A parte de ti que em mim ficou. A parte de mim que foi contigo. Ninguém me foi tão próximo. Ninguém me escapou tanto.
Como foi que constantemente nos encontrámos e nos perdemos?
Esta é a história. Uma história sem história. Uma história só isto.)” (p.51)

É portanto uma leitura cativante, na medida em que o pensamento (de Xavier) convoca os momentos, as memórias mais marcantes e importantes de uma vida.


25 dezembro, 2011

Poemas de Natal

 Vamos entoar Graças a Deus.


Natal Divino

Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.

O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…

Miguel Torga
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A NOITE DE NATAL

Em a noite de Natal

Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.

Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.

Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.

– Deu-lhes sim, muitos bonitos.
– Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.

Mário de Sá-Carneiro

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NATAL

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre
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Poema de Natal


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.


Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.


Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes

25 abril, 2009

Liberdade

LIBERDADE

Sobre esta página escrevo
teu nome que no peito trago
escrito laranja verde limão
amargo e doce o teu nome.

Sobre esta página escrevo
o teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento
primavera pátria exílio.

Teu nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio
onde já fui marinheiro
naufragado no teu nome.

Sobre esta página escrevo o teu nome: tempestade.
E mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio.

Esta chama ateada no meu peito
por quem morro por quem vivo este nome rosa e cardo
por quem livre sou cativo.

Sobre esta página escrevo o teu nome: liberdade.

Manuel Alegre, A Praça da Canção