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01 agosto, 2022

𝑶 𝑷𝒓𝒊𝒎𝒐 𝑩𝒂𝒔í𝒍𝒊𝒐, de Eça de Queirós

 



Autor: Eça de Queirós
Título: O Primo Basílio
N.º de páginas: 457
Editora: Livros do Brasil
Edição: s/data
Classificação: Romance
N.º de Registo: (546)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Volta e meia, regresso a Eça de Queirós e à sua crítica mordaz da sociedade lisboeta do século XIX. Desta vez, escolhi O Primo Basílio, um romance de costumes que satiriza a moralidade de uma família burguesa. Eça recorre ao sarcasmo e à ironia para descrever a podridão da sociedade e explora o carácter das personagens para tipificar os comportamentos dos portugueses da época. As suas críticas recaem sobre adultério, incesto, ociosidade, futilidade, devassidão, falsidade e oportunismo.

As personagens são fabulosas, com grande dinamismo e realismo vamos acompanhando a trama tecida à volta de uma família burguesa. Através de um narrador omnisciente, conhecemos ao pormenor os diversos ambientes e o âmago das personagens como a bela, romântica e inconsequente Luísa, vítima do universo fantasioso das suas leituras, que ama o seu marido, mas facilmente se deixa envolver num caso, caindo nas armadilhas do sedutor, elegante, fútil e cínico primo Basílio. Luísa revela sentimentos contraditórios e indefinidos, confunde amor e desejo e ora prefere o primo, ora anseia pelo regresso e amor do marido que se ausentou em trabalho para o Alentejo.

Eça desenhou bem a intriga e torna Luísa na figura típica da falta de moral representativa da família burguesa. Através do seu comportamento, o autor critica a farsa de um casamento aparentemente perfeito, e desmonta a imoralidade, os vícios e algumas virtudes (poucas) de todos os que com a protagonista convivem. Destaco duas personagens: Sebastião o leal e sincero amigo sempre disponível para ajudar a resolver os problemas e Juliana, a empregada virgem, feia e oportunista que anseia por uma vida melhor e que aproveita um descuido de Luísa para alcançar os seus objectivos.

A partir daí, a intriga arrasta-se para a chantagem e culmina num final trágico.

Eça, magistralmente, demonstra de forma caricatural a perversidade da imoralidade existente bem como a mediocridade e a decadência do país.

“Tinham palpitado no mesmo amor, tinham cometido a mesma culpa. – Ele [Basílio] partia alegre, levando as recordações romanescas da aventura: ela ficava, nas amarguras permanentes do erro. E assim era o mundo! (,,,) Ia para sempre. Safava-se!” (pp. 267 e 268).

“ – O transtorno nacional! Descarrilou tudo! Estamos aqui por milagre! Abjecto país!... (…) - Aqui estamos! Aqui estamos num chiqueiro! “ (pp. 446 e 447)

Finalmente, gostaria ainda de salientar a intertextualidade deste romance com a obra Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Já não me recordo dos pormenores, mas tenho a ideia de que para além do tema do adultério há um registo e uma estrutura muito semelhantes, como a fase da conquista e o final. Será talvez uma boa oportunidade de reler esta obra-prima da literatura francesa.



28 maio, 2020

O Egipto - Notas de Viagem, de Eça de Queiroz



OPINIÃO


Estas notas são os registos e impressões de Eça resultantes da viagem que realizou ao Oriente, em 1869, como convidado para assistir à inauguração do canal de Suez. Tinha então quase 24 anos, e a viagem prolongou-se por 2 meses e 10 dias… 

Eça conhece várias cidades e aí visita mesquitas, museus, túmulos, cemitérios, bazares, pirâmides, … ; toma um banho turco; viaja de comboio, de barco, de caleche, de burro; deambula pelas ruas estreitas e pelos bairros apinhadas de gente, pelo rio Nilo, pelo deserto e tudo e todos observa atentamente e regista nos seus cadernos.

“A pureza indizível da cor, da diafaneidade, da vida da água, o desenho nítido das pequenas vegetações formam um todo cheio de suavidade. Dá vontade de nos banharmos, de movermos o corpo naquela virgindade viva do elemento” (…) Ao fundo , o morro de Gibraltar, escuro sobre o doce azul, com o seu perfil violento e altivo (…) De longe o seu aspecto é duro, hostil, repulsivo e a cidade, amarelada e humilde, parece uma aldeia pobre perdida na serra áspera, sem nada das outras doces cidades do Sul, (…). O morro de Gibraltar é impenetrável como um deus bárbaro, severo como a lei inglesa.” (pp. 22 e 23)

Tudo nos é descrito com minúcia, por vezes de forma repetitiva, e com grande riqueza de detalhes.

[nos bazares do Cairo] “Tudo aquilo é feito de materiais ligeiros, ténues, frágeis: as traves são delgadas como dedos, esculpidos como cabos de punhais venezianos; vêem-se colunas finas como cajados de pastores, torcidas, dobradas sustentando galerias, amparando pórticos de uma fantasia estranha. As fachadas são rendilhadas, tão buriladas, tão cheias de galerias, de ornatos, de arabescos, que parece que de cima a baixo se estende uma cortina de renda suja, escura, deslavada, rasgada aos pedaços. (…) É uma visão, é uma caricatura, é uma fantasmagoria! “ (p. 156)
Nas suas descrições apreendemos e absorvemos os cheiros, os sabores, as cores, os sons, a música, os cantos , as danças. Parece que também nós, leitores, viajamos até ao Oriente e testemunhamos tudo isto.
Só mesmo Eça de Queiroz com um grande poder de observação e uma curiosidade inata para absorver e transmitir tudo o que viveu, visualizou e captou.
“O Nilo ali é estreito, menos largo que o Tejo. Uma vegetação poderosa, profunda, violenta, cobre as margens, e vem mergulhar as suas raízes na água. Ao longe, as culturas têm o aspecto de uma decoração maravilhosa. É solene, é quase bíblico, de uma serenidade profunda e consoladora. Sente-se que quem atravessa aquelas culturas deve falar baixo. Do céu cai uma luz imóvel e abundante. (…) Aquelas longas linhas, aquela transparência de cores, a serenidade daqueles horizontes, tudo faz pensar num mundo que se desprendeu das contradições da vida, e entrou, se fixou na imortalidade.” (pp. 52 e 53)
“ O fellah (cultivador do vale do Nilo) é alegre, risonho, loquaz, imaginoso; tem uma degradação profunda de carácter , desconhece o que é consciência, dignidade, individualidade. Mas no fundo é feliz. Possui o clima! Anda roto, quase nu, mas neste ar puro e tépido não é um sacrifício (…) de resto, o fellah tem vícios: é mentiroso com simplicidade, falsifica tudo.” (p. 60)
No seu estilo muito próprio, acutilante e sarcástico, Eça descreve a beleza da natureza e ataca ferozmente a degradação das cidades, dos portos, das mesquitas, enfim tudo o que caiu, ruiu e pereceu por culpa do homem, da ganância do homem. Este homem tão bem personificado pelo abutre que voa ´”no céu implacável”.
“ E o rio, a verdura vão perder-se ao longe nas culturas do Delta, que se esbatem nos distantes horizontes, sob a pulverização faiscante da luz. Depois, mais longe, sobre a linha amarelada e fulva do deserto, destacam-se com uma das faces alumiada de sol, nítidas, de contornos finos, poderosas, enormes, as três pirâmides de Gizé. (…)
"O Cairo, visto da cidadela, é o Cairo histórico, dramático, sombrio. É a imensa cidade escura, pobre e arruinada, caindo em pedaços. (…) O Cairo morre de todas as feridas que lhe tem feito cada um dos governos, que lhe têm dado uma dentada! (…) Ali sente-se uma política sem força e sem ideal, uma religião sem espírito, uma arquitectura sem ideia, um povo sem pátria, uma existência de acaso, a ignorância, a vaidade, a sensualidade!” (pp.96 e 97)

No final, não nos restam dúvidas sobre o que verdadeiramente extasiou e surpreendeu Eça .

16 fevereiro, 2019

O Mistério da Estrada de Sintra de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão



SINOPSE

Em viagem de Sintra para Lisboa, o médico Dr.*** e o escritor F… são interceptados por um grupo de quatro mascarados, que os sequestram. Encaminhados, de olhos cobertos, para um prédio misterioso, é apenas quando as suas vendas são retiradas que os dois amigos descobrem os contornos macabros do rapto de que foram alvo - aos seus pés encontra-se o cadáver de um estrangeiro. Quem será este homem e qual a sua história? Publicado inicialmente nas páginas do Diário de Notícias, entre Julho e Setembro de 1870, sob forma de cartas anónimas, e nesse mesmo ano com edição em livro, O Mistério da Estrada de Sintra foi resultado da colaboração de dois grandes mestres, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão. É considerada a primeira narrativa policial da literatura portuguesa.


OPINIÃO

Este livro escrito a duas mãos, apresentado de forma inédita, é considerado o primeiro policial português. Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão agitaram a sociedade lisboeta com a divulgação de “um crime” no Diário de Notícias, entre Julho e Setembro de 1870. Através de cartas anónimas publicadas no jornal, os leitores que acreditam na sua veracidade, vão descobrindo o desenrolar da história, do mistério. Só mais tarde os dois autores revelam que se trata de ficção. 

Apesar de ser o primeiro romance de Eça, as suas principais características já estão patentes, já se evidencia a tendência irónica e satírica à crónica de costumes e à escrita romântica muito difundida na época. A relação entre as personagens está impregnada de um romantismo desmedido (rapto, assassinato, encontros clandestinos, traição, amores, desamores, ciúmes, …) em que as mulheres (Condessa de W. e Cármen) vivem grandes paixões, excessivas, trágicas que as conduzem à morte ou à reclusão. 

Trata-se de um livro agradável repleto de ironia com um suspense bem delineado e com descrições fabulosas apesar de, por vezes, algumas serem um pouco exaustivas e repetitivas o que torna a narrativa lenta. 



04 janeiro, 2019

O Conde d'Abranhos de Eça de Queiroz

            
                                     


SINOPSE

«Alípio Severo Abranhos nasceu no ano de 1826, em Penafiel, no dia de Natal.» Assim se iniciam as notas biográficas assinadas pelo seu fiel secretário, Z. Zagalo, que, pretendendo fazer um sentido elogio a este «português histórico», descreve o seu percurso de afirmação política alicerçado em bajulações calculadas, discursos ocos e um sem-fim de incompetências. Nesta história de um político do século XIX, Eça de Queiroz traça de forma caricatural o perfil dos políticos de todos os tempos e constrói uma notável obra de sátira e crítica social de grande atualidade. Redigido em 1879, O Conde d’Abranhos foi publicado apenas postumamente, em 1925, desde logo acompanhado pelo conto de intenção patriótica A Catástrofe


OPINIÃO 

Fabuloso, mordaz, sarcástico e imperdível. Eça de Queirós, o grande romancista português continua actualíssimo porque muito do que é narrado neste livro assenta perfeitamente nos nossos dias. Portugal continua na mesma: corrupção, oportunismo, lobbies, amizades dúbias e mentalidades pobres. Um país sem alma. 

“ O que não tínhamos era almas … Era isso que estava morto, apagado, adormecido, desnacionalizado, inerte… E quando num Estado as almas estão envilecidas e gastas – o que resta pouco vale…”.

Este livro é uma sátira à sociedade portuguesa do século XIX. Escrito em 1878, pela voz de Zagalo, jornalista e secretário particular de Alípio Abranhos, vamos conhecendo as características do protagonista e de todos os que com ele convivem. Pretendendo elogiar Alípio, acaba por revelar a sua verdadeira condição social, a vergonha dos pais pobres que o leva a abandonar a família e mais tarde a negar ajuda, a sua incompetência, a sua bajulação, o seu egoísmo e sobretudo o seu oportunismo. Afinal, o excelente Conde é uma personagem execrável a todos os níveis. 
A estratégia de Eça é inteligente, como sempre, porque através desta biografia que pretende”glorificar a memória deste varão eminente”, critica a sociedade portuguesa da época. Exagera e ironiza a caracterização das figuras ilustres que frequentam as soirées, desanda na educação, na imprensa, no clero, na cultura e na política exercida por homens oportunistas e pouco inteligentes. 

É um deleite ler Eça de Queirós.



25 novembro, 2018

Eça de Queirós e Os Maias na FCG





Escritor português, José Maria Eça de Queirós nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim e morreu a 16 de Agosto de 1900, em Paris. 

É considerado um dos maiores romancistas realista da literatura portuguesa. Foi jornalista e diplomata. É no estrangeiro que escreve a maioria das suas obras. Em 1888, publica Os Maias. 


Os Maias, de Eça de Queirós - Grandes Livros




A Fundação Calouste Gulbenkian monta uma exposição para "que se possa ver tudo o que Eça trazia no saco". Comemora-se os 130 anos da publicação de Os Maias. Esta mostra incide nesta obra, mas haverá também referência às restantes obras bem como a muitos objectos do seu espólio da Casa de Tormes.

A exposição encontra-se patente de 30 de novembro a 18 de fevereiro 2019.






06 outubro, 2014

Os Maias realizado por João Botelho






O filme retrata bem o essencial do livro escrito por Eça de Queirós. No início, estranha-se um pouco os cenários, grandes telas que representam os exteriores, mas os interiores e as personagens estão de acordo com a época. Não gostei muito da atriz que desempenhou o papel de  Maria Eduarda e adorei o João da Ega




03 agosto, 2013

Eça Agora


Eles vão continuar 'Os Maias'
 
 
125 anos depois da primeira edição de Os Maias, o Expresso apresenta uma coleção especial, composta por sete volumes e onde se escreve a continuação do romance de Eça de Queirós, até aos dias da fundação do jornal Expresso.
 
A cena final do romance acontece  em janeiro de 1887, e toda a ação se desenrola a partir desse preciso momento: José Luís Peixoto escreve  o primeiro capítulo e prolonga-o até 1910,  seguido por José Eduardo Agualusa que o leva até 1925, Mário Zambujal é o escritor que se segue e vai até 1930, José Rentes de Carvalho situa a história na década de 30, Gonçalo M. Tavares, nos anos 50 e 60 e, finalmente,  Clara Ferreira Alves cria a década de 70.

As personagens, pela mão dos diferentes autores, vão ganhar  vida própria. A criação de José Luís Peixoto evidencia isso mesmo pelo que o projeto promete ser deveras  interessante. 
 
Sendo Os Maias um romance do século XIX, que descreve  notavelmente os defeitos do nosso país, pergunta-se de que forma os autores demonstrarão a atualidade e a premência deste romance?



30 janeiro, 2009

Os Maias no palco do Trindade


O Teatro da Trindade, em Lisboa, vai receber o clássico de Eça de Queiroz, Os Maias.

O espectáculo, a cargo do dramaturgo António Torrado, assinala os 142 anos do Teatro Trindade.

Encenada por Rui Mendes, a peça mantém-se fiel ao romance, mas vai mais longe na análise, questionando se, de facto, «a sociedade portuguesa mudou assim tanto?».

"É um vasto friso de tipos caricaturais que nos surgem em forma de crónica de costumes, servindo de pano de fundo à trágica historia amorosa de Carlos e Maria Eduarda, que, com a companhia da excentricidade de João da Ega, projecção do próprio autor, constituem o trio central do drama a que Eça deu o sub-título de Episódios da vida romântica."


Texto:António Torrado

Encenação:Rui Mendes

Cenografia e figurinos:Ana Paula Rocha

Desenho de luz:Carlos Gonçalves

Direcção musical:Afonso Malão

Intérpretação:Afonso Malão, Augusto Portela, Igor Sampaio, João Didelet, José Airosa, José Fidalgo, Luis Alberto, Luis Mascarenhas, Mário Jacques, Pedro Górgia, Rogério Vieira e Sofia Duarte Silva. Produção Fundação INATEL/Teatro da Trindade


SALA Principal - 5 de Fevereiro a 26 de Abril

4ª a Sábado 21h30 e Domingo 16h

Duração 120 min (com intervalo)

Preço 10€ a 15€

Paralelamente ao espectáculo haverá um conjunto de iniciativas à volta do escritor Eça de Queiroz.

20 outubro, 2008

O Ultimo Eça - Paris

Conferências Internacionais
O Último Eça
Centro Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian, Paris

21 Outubro - 18h30

Programa:

Conferência Apresentada por Marie-Hélène Piwnik

Héritières portugaises d’Emma Bovary:l’adultère féminin dans l’oeuvre d’Eça de Queiroz
por Elena Losada Soler,
université de Barcelona
e
Eça de Queiroz au seuil de la modernité por Lucette Petit,
université Paris III-Sorbonne Nouvelle