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08 setembro, 2025

Onda Literária | 5, 6 e 7 Setembro 2025



A 3.ª Edição da Onda Literária promovida pelo Centro de Artes de Sines e Biblioteca Municipal ofereceu-nos um programa de luxo.Foram três dias intensos de iniciativas e de partilha de livros, leituras, conversas, fotografias, sorrisos, gargalhadas e abraços.
Adorei cada momento.
Descobri novos autores, confirmei valores certos da nossa literatura.
Este ano, tive o privilégio de moderar dois encontros com escritores que integram a minha lista de autores de leitura imperdível (tinha escrito obrigatória, mas alterei porque o pessoal detesta o que é obrigatório 😉)
A primeira moderação foi com Isabel Rio Novo e Paulo M. Morais e a segunda com Ondjaki. Dois momentos distintos, mas ambos enriquecedores e convincentes quanto à qualidade da obra que publicam.
Fiquei muito mais rica com as aprendizagens adquiridas e feliz com os momentos vividos.
O tempo ora quente, ora frescote, ora ainda chuvoso veio acrescentar alguma imprevisibilidade ao evento.
Apenas um lamento. Constatei, mais uma vez, que em Sines, um excelente Festival Literário não enche recintos. Valeu-nos a presença de um gato atento e curioso para colmatar um pouco esse vazio.
Até pró ano!









17 agosto, 2025

𝑨 𝑴𝒂𝒕é𝒓𝒊𝒂 𝑫𝒂𝒔 𝑬𝒔𝒕𝒓𝒆𝒍𝒂𝒔, de Isabel Rio Novo




Autora: Isabel Rio Novo
Título: A Matéria Das Estrelas
N.º de páginas: 191
Editora: D. Quixote
Edição: Maio 2025
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3711)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Já o referi, mais do que uma vez, e reitero que considero a Isabel Rio Novo uma das melhores escritoras portuguesas na nossa produção literária contemporânea.
Ao iniciar, A Matéria das Estrelas, já sabia que a fasquia estava elevada. O romance já recebera um prémio e as críticas eram muito positivas. Sabia de antemão que ia gostar, quando se gosta muito de um(a) autor(a) nunca se fica desiludido. Mas sabendo tudo isto, ainda fui surpreendida e fiquei muita agradada ao perceber que este romance dava uma enorme “piscadela de olho” a uma obra de Paulo M. Morais (obra magnífica e que recomendo muito). Não vou revelar muito desta interacção, para não retirar o prazer da descoberta, refiro, apenas que o protagonista, Jacinto, é também uma personagem do livro A Boneca Despida.
Esta cumplicidade entre os dois escritores, engrandece-os, na minha opinião. E se no livro, a dedicatória de Isabel Rio Novo “Ao Paulo, com quem caminho pelos terrenos da realidade e da ficção”, já fazia sentido pelo apoio mútuo com que se brindam, agora, faz ainda muito mais sentido.

Em A Matéria das Estrelas, Isabel Rio novo conduz o leitor até meados do século XX (anos 60 e 70) com incursões ao tempo das navegações, sobretudo de Bartolomeu Dias. A narrativa balança harmoniosamente entre a história de Jacinto, de Bartolomeu Dias e a do narrador investigador e omnisciente. A autora revela uma grande mestria ao cruzar os diversos tempos da narração: o histórico, o psicológico, o da memória, e o da ficção.

A narrativa oferece diversas camadas de leitura. São vários os temas abordados, mas podemos referir que se foca, essencialmente, no incidente misterioso que alterou o destino do jovem oficial da marinha, Jacinto da Silva Fernandes. É através da investigação conduzida pelo médico, com quem ainda mantém laços familiares, que tomaremos conhecimento, de forma não cronológica, da história de Jacinto, de alguns aspectos familiares que influíram na vida do jovem e de acontecimentos de um Portugal bafiento, injusto e hipócrita.

Isabel Rio Novo numa escrita simples e cuidada cria personagens fortes e perturbadoras e oferece-nos uma viagem maravilhosa sobre memórias, paixões e segredos da qual nunca saímos indiferentes porque, na história dos outros, encontramos, por vezes, a nossa, como referiu o doutor Eduardo a certa altura da investigação.

Recomendo muito.


26 janeiro, 2025

𝑭𝒐𝒓𝒕𝒖𝒏𝒂, 𝑪𝒂𝒔𝒐, 𝑻𝒆𝒎𝒑𝒐 𝒆 𝑺𝒐𝒓𝒕𝒆, de Isabel Rio Novo


Autora: Isabel Rio Novo
Título: Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
N.º de páginas: 727
Editora: Contraponto
Edição: Junho 2024
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3596)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


No ano em que celebramos os 500 anos do nascimento de Camões, Isabel Rio Novo oferece-nos - Fortuna, Caso, Tempo e Sorte - um livro fascinante que revela um conhecimento profundo do homem e do poeta. O rigor da extensa e minuciosa pesquisa permite-lhe coligir informação dispersa, relacionar fontes já conhecidas, referenciar excertos, poemas, obras, clarificar aspectos pouco aprofundados ou imprecisos e apresentar dados novos. E quando não lhe é possível afirmar com certeza, por falta de dados, a autora interpela o leitor a imaginar a situação ou a decidir por si próprio. Aprecio esta interacção com o leitor, já manifestada numa outra biografia também de sua autoria, já que estabelece uma relação de cumplicidade.

Esta biografia dá a conhecer o homem e o poeta genial que escreveu a obra maior da nossa Literatura – Os Lusíadas. Mas desvenda, sobretudo, o homem de armas, o soldado que lutou com uma espada, que foi um “homem do seu tempo” com os seus “erros, má fortuna e amores ardentes”. Mas não nos iludamos, Camões foi bem mais do que isso e Isabel Rio Novo deixa-o bem claro nas suas páginas que o leitor lê como se fosse um romance.

Se já considerava Camões um dos meus poetas preferidos, agora que deslindei os detalhes de uma vida atribulada e intensa, plena de dificuldades e contradições; que verifiquei o seu entusiasmo e a sua curiosidade em aprender, estudar, ler  autores clássicos e outros do seu tempo; que confirmei a sua prodigiosa capacidade de escrever para si e para outros (por encomenda), de manejar a espada, de conquistar damas da corte e mulheres dos prostíbulos; que aprofundei o meu conhecimento da sua obra; agora, como referia, encaro-o e leio-o com mais admiração. Só lamento, não a vida miserável que teve, porque sendo um homem do seu tempo, outros a viveram e ele próprio a provocou, mas, lamento, os poemas, as obras que, certamente, se perderam no decorrer das suas desventuras.

Concluo, convidando-vos a descobrir esta belíssima obra escrita de forma exímia pela Isabel Rio Novo que tão bem soube elevar a beleza e a genialidade do poeta e demonstrar as fragilidades e infortúnios do homem que viveu “um momento excecional da história da humanidade” e nos deixou um legado literário único e extraordinário.


13 março, 2022

𝑴𝒂𝒅𝒂𝒍𝒆𝒏𝒂, de Isabel Rio Novo

 

Autora: Isabel Rio Novo
Título: Madalena
N.º de páginas: 199
Editora: D. Quixote
Edição: Fevereiro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3346)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Nunca saio defraudada das leituras que faço dos livros de Isabel Rio Novo. Neste momento, considero-a uma das melhores escritoras portuguesas na nossa produção literária contemporânea.
O livro baseia-se em duas histórias, a da narradora e a da sua bisavó Madalena, assente em tempos distintos: o presente, o passado (1920) e o sonhado, mas que acabam por se interligar e dar sentido à narrativa.
Nesta narrativa há registos autobiográficos soberbamente mesclados à escrita ficcionada. A professora de história doente oncológica vai ocupar o seu tempo, “Tempo para esperar. E até lá, até esse desfecho qualquer, tempo para cumprir.” (p. 55) a ler as cartas dos seus antepassados e a descobrir a “viagem que com elas começava.” (p. 27).
Logo no início, somos informados da doença que afecta a protagonista, receamos pelo teor da narrativa, mas rapidamente percebemos que a urgência da protagonista não é a das “decisões expeditas”, mas sim a de descobrir “novas dimensões do tempo” e por isso opta pela arrumação de coisas velhas herdadas, partindo à descoberta de cartas, livros, fotografias…
Será então o tempo, a passagem do tempo, o fio condutor desta belíssima narrativa. É de vida e de morte, de bons e maus momentos, de sonhos, de memórias, de experiências vividas, de vivências sofridas, de novas dimensões do tempo, de “recorte de momentos, uma coleção de retalhos cheia de emendas e intervalos.” (p. 25)
É na intersecção dos vários tempos que considero que a autora brilhou. A narrativa balança harmoniosamente entre a história da narradora e a da Madalena Brízida, a bisavó, conduzindo o leitor nos meandros da doença e da crise matrimonial, do amor e do desamor, dos amores recalcados. A narrativa é construída no paralelismo destas duas personagens femininas e no final tudo faz sentido.
Gostaria ainda de focar dois aspectos que considerei interessantes. O primeiro é a referência, no enredo, de dois títulos de obras da autora e a segunda é a excelente selecção da obra “Les feuilles mortes”, da pintora surrealista Remédios Varo para a capa. Pormenores que evidenciam a preocupação com os detalhes e com a concepção de uma obra de arte que afinal o livro também é.



27 setembro, 2020

Rua de Paris em Dia de Chuva, de Isabel Rio Novo


OPINIÃO

Parti para a leitura deste livro com enormes expectativas. São muitos e convidativos os ingredientes que o compõem: a escrita da autora que muito aprecio; Paris (a “minha” cidade); Arte; Impressionismo… é uma viagem no tempo, é o regresso ao passado, mas sempre com um pé no presente. 
Adorei conhecer Gustave Caillebotte. Fiquei fascinada. O leitor é conduzido magistralmente pela vida e obra deste milionário, mecenas dos pintores impressionistas, seus contemporâneos, pintor vanguardista, colecionador de selos e de obras de arte, floricultor, velejador de regatas premiado, engenheiro e construtor naval. 

“Estamos, pois, em Paris, no inverno. Novembro ou início de dezembro [de 1877]. Gustave é um homem de estatura mediana, magro, de cabelo castanho-claro. (…). A Autora recorda estas coisas assim, como se as visse, porque na realidade as viu ou sente que as viu.” (p.12) 

A Autora, personagem do livro, vai cruzando a vida do biografado, inscrita nos factos históricos, sociais e culturais parisienses da época (Paris está em plena modernização sob o comando de Haussmann), com as suas recordações, pensamentos e intenções. 

“(…) a Autora tomou rapidamente uma decisão. Nada do que Helena afirmava [sobre Caillebotte] seria verdade. Ela, a Autora decidiria. “ (p.159) 

A intersecção das histórias recriadas é feita de forma sublime, com sensibilidade e paixão. “Era assim entre ela e Gustave Caillebotte” (p.16). Mas, não ficamos por aqui, para além desta intersecção constante ao longo da narrativa, há, ainda, uma outra ponta, uma outra personagem que também se cruza, com a Autora e de forma (in)directa com Caillebotte. Trata-se de Helena, a professora de História de Arte, especialista na vida e obra do pintor. Encontram-se várias vezes, num café em Paris. E apesar de ambas nutrirem uma paixão por Caillebotte, a relação entre as duas é tensa porque Helena enfrenta uma forte depressão. 

Ao longo do livro, a narradora revela-nos tudo sobre Gustave Caillebotte, apresenta-nos a sua família, elenca títulos de quadros pintados pelos artistas da época, descreve detalhadamente alguns dos quadros mais importantes do pintor e relata, ainda, as dificuldades pelas quais passaram os impressionistas e a incompreensão da sociedade perante esta nova maneira de representar a realidade. 

“Tentei, no fundo, mostrar-te o que vi. O que me tocava. O que me emocionava. Que pode ser a nossa passagem pelo mundo senão isso?” (p. 220). Refere Caillebotte sobre a sua pintura. 

Recomendo vivamente.


 

25 agosto, 2019

O Poço e a Estrada - Biografia de Agustina Bessa-Luís de Isabel Rio Novo


SINOPSE

Agustina: uma mulher controversa, uma vida extraordinária, uma obra genial.

«Mas tenho uma história, e que história. […] Ninguém a conhece.» Era com estas palavras enigmáticas que, aos setenta anos, muito perto da viragem do século, Agustina Bessa-Luís perspetivava a sua existência. Já nessa altura contava com mais de cinquenta títulos, entre romances, contos, biografias, peças de teatro, ensaios, livros para a infância e de memórias, dialogando com a História, com a sociedade que a rodeava, com outros escritores, com outros artistas.

Desde cedo, Agustina revelou ter consciência de que não era uma pessoa convencional. Não foi uma criança comum. Não casou nas circunstâncias que se esperariam de uma rapariga da sua condição social. Não foi a típica esposa e mãe burguesas. Não foi a apoiante política esperada. Nunca se afirmou feminista, mas a sua história de vida foi mais radical e corajosa do que a de muitas feministas convictas. E, como escritora, raros são os que têm dúvidas em apontá-la como uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa.

Através de uma pesquisa extensiva e rigorosa, baseada em dezenas de entrevistas, testemunhos, documentários, registos oficiais e textos epistolares, estabelecendo pontes constantes com a obra literária de Agustina, Isabel Rio Novo, uma das mais talentosas romancistas portuguesas da atualidade, reconstitui o percurso de vida de uma figura ímpar da nossa cultura contemporânea, numa biografia que se lê como um romance.



OPINIÃO

Quando comprei, na feira do livro, O Poço e a Estrada - Biografia de Agustina Bessa-Luís, de Isabel Rio Novo sabia que era um livro que não iria ficar muito tempo na estante à espera que chegasse a sua vez de ser lido. Sabia que a autora era uma apaixonada pela obra de Agustina Bessa-Luís. Isto, só por si, já era razão suficiente para acreditar que estaria perante uma boa biografia, mas também porque gosto da Isabel Rio Novo, porque gosto da sua escrita (li Rio do Esquecimento e A Febre das Almas Sensíveis, dois romances que recomendo muito). 

Considero que a Isabel fez um excelente trabalho nesta biografia. Demonstrou ter pleno conhecimento da obra da biografada e fez uma extensa e minuciosa pesquisa baseada em testemunhos e registos de vária ordem, devidamente referenciados. Conseguiu ser rigorosa e isenta nas suas opiniões. Gostei do seu testemunho pessoal que, de vez em quando, irrompe no meio da narrativa e apreciei os factos relatados que tão bem caracterizam a época e assim ajudam a compreender alguns aspectos da vida da biografada.

Mais o mais importante para mim, e tal como o desejou a Isabel quando autografou este meu livro, é que a sua leitura me faça (re)descobrir Agustina. De facto, isso foi conseguido e prometo reler A Sibila e ler outros que nunca li (A Ronda da Noite será um dos primeiros). Agora, que conheço melhor a Agustina Bessa-Luís, estarei, certamente, mais apta a compreender a sua obra considerada por alguns (muitos) tão controversa.



09 março, 2018

A Febre das Almas Sensíveis de Isabel Rio Novo




Neste romance Isabel Rio Novo conduz o leitor até meados do século XX, época marcada pela problemática da tuberculose. Em Portugal, esta doença era a principal causa de morte e como não havia ainda fármacos para a combater, foram construídos sanatórios instalados em zonas montanhosas. 

É neste contexto que a acção ocorre e nos é contada, na primeira pessoa, por um narrador cuja identidade será revelada numa fase já bem avançada do enredo. Através de uma escrita que nos agarra, como se de uma febre padecêssemos, a autora descreve-nos a degradação, a rejeição, o sofrimento e o isolamento dos tísicos sejam eles poetas, professores, médicos ou outros. Concretamente, vamos acompanhar a vida do jovem Armando, e da sua família, nesta caminhada que o levará à morte no sanatório do Caramulo para onde foi conduzido como infectado. 

Recomendo a leitura.