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05 outubro, 2023

Jon Fosse vence Prémio Nobel da Literatura 2023

 

                                                               Foto retirada da internet 


O Prémio Nobel da Literatura 2023 foi atribuído ao escritor norueguês Jon Fosse, de 64 anos, "pelas suas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível", anunciou hoje a Academia Sueca, às 12.47 horas.

"A sua imensa obra, escrita em norueguês e abrangendo uma série de géneros, consiste numa grande variedade de peças de teatros, romances, coleções poéticas, ensaios, livros para crianças e traduções. Apesar de ser um dos mais representados dramaturgos no mundo, também se tornou crescentemente reconhecido pela prosa", referiu a organização do prémio.

Jon Olav Fosse nasceu em Haugesund, na Noruega, em 29 de setembro de 1959.

Jon Fosse escreveu romances, contos, poesia, livros infantis, ensaios e peças de teatro. As suas obras foram traduzidas em mais de 40 idiomas.

Desde 2011 que foi concedido a Fosse o "Grotten", uma residência honorária pertencente ao estado norueguês e localizada no Palácio Real de Oslo no centro da cidade de Oslo. O uso do Grotten como residência permanente é uma honra especialmente concedida pelo Rei da Noruega pelas contribuições para as artes e a cultura norueguesas.

Em Portugal, a Cavalo de Ferro tem vindo a publicar a prosa de Fosse, com destaque para manhã e noite (2020), Trilogia (2021) e Septologia I-II (2022).

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca.








19 dezembro, 2022

𝑻𝒓𝒊𝒍𝒐𝒈𝒊𝒂, de Jon Fosse

Autor: Jon Fosse
Título: trilogia
Tradutora: Liliete Martins
N.º de páginas: 204
Editora: Cavalo de ferro
Edição (3.ª): Fevereiro 2022
Classificação: Novelas
N.º de Registo: (3357)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Trilogia requer, de início, um enorme esforço de concentração para aceitar a escrita de Jon Fosse e não desistir. Quase sem sinais de pontuação e com repetições exaustivas de frases, de falas, de verbos introdutores de discurso (“diz ele”), o texto torna-se, por vezes, insólito. Mas o que se estranha, no início, após algumas páginas, acaba por se entranhar e apreciar. E a partir daí, o leitor não mais quer parar. É a escrita simples e a melodia das frases provocada pelas repetições e pelas pausas inerentes ao diálogo que cativam e agarram o leitor.

Composto por três novelas, e apesar da distância temporal entre elas, as personagens mantêm-se sobretudo através da evocação constante e repetitiva de lugares, de pessoas e de acções. O passado, o presente e o futuro enleiam-se e tropeçam em enredos impossíveis, em ilusões, em sonhos, em memórias.
A primeira novela inicia com um jovem casal que, obrigado a sair da sua aldeia, vagueia ao frio e à chuva, na escuridão de uma cidade à procura de um abrigo. Ao longo desta trilogia, percorremos os mesmos caminhos de Asle e Alida, compreendemos a dificuldade de sobrevivência numa sociedade hostil, o desamparo de ser rejeitado e incompreendido por todos, e aplaudimos o amor existente entre os dois jovens que acaba por justificar os erros cometidos. Afinal, se segundo a sinopse, estamos perante uma “parábola de inspiração bíblica sobre o amor, o crime, o castigo e a redenção”, então tudo fará sentido num mundo dividido entre o Bem e o Mal.
Destaco a terceira novela pela beleza e sensibilidade da escrita na descrição das emoções de Alida. O seu amor por Ales mantém-se imutável e eterno mesmo para além da morte.
“ (…) e Alida acredita que ela e Asle ainda são um casal de namorados e estão juntos, ele com ela, ela com ele, ela nele, ele nela, pensa Alida e olha na direção do mar e do céu, e vê Asle, vê que o céu é Asle, e sente o vento, e o vento é Asle, ele está ali, ele é o vento, mesmo que ele não exista, ainda continua ali presente, (…)” p. 183

31 maio, 2021

𝒎𝒂𝒏𝒉ã 𝒆 𝒏𝒐𝒊𝒕𝒆, de Jon Fosse



Autor: Jon Fosse
Título: manhã e noite
N.º de páginas: 111
Editora: Cavalo de Ferro
Edição: 1.ª Novembro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3268)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


O título “manhã e noite” exprime metaforicamente o acto de nascer e de morrer. As duas partes abordam, assim, o nascimento e a morte de Johannes, protagonista deste romance.
Na primeira parte, o autor coloca, Olai, o pai de Johannes num monólogo reflexivo a ansiar pelo nascimento do filho, sem contudo, perder consciência de que quem nasce, ao nada voltará. Na segunda, a longa “reflexão encantatória” é feita pelo próprio Johannes.
“e agora ele virá, enquanto Marta, a mãe grita de dor, (…) e mais tarde, quanto tudo terminar , quando a hora dele chegar, desvanecer-se-á e tornará a ser nada e regressará ao lugar de onde veio, do nada para o nada, é esse o trajecto da vida, “ (p.14)

Jon Fosse de uma forma intensa, simples e despojada apresenta-nos uma belíssima reflexão sobre a efemeridade da vida. Neste texto, o nascimento está associado à dor, à angústia, à ansiedade da espera, enquanto a morte, pelo contrário, é leve e serena, sem medo e sem sofrimento.
Gostei muito da maneira como o protagonista foi conduzido por um amigo, Peter, também ele já morto, ao barco da travessia, indicando-lhe o bom caminho e levando-o para junto das pessoas que amou em vida. É uma clara alegoria a Caronte, o barqueiro que conduzia as almas dos recém-mortos à margem do Bem ou do Mal.
“E porque eu era o teu melhor amigo, cabe-me a mim ajudar-te a atravessar.” (p-107)

Neste pequeno livro, o autor pensa e questiona-se sobre a vida, sobre a existência de Deus. Segundo as suas reflexões, por vezes provocadoras, a vida e a morte, a manhã e a noite, devem ser encaradas com simplicidade, e dignidade. Aceitar o que Deus “porque ele existe” (p.15) rege para a vida de cada um, mas aceitar, de igual forma, o que Satanás também vai providenciando.

Na minha opinião, estamos perante uma reflexão filosófica escrita de forma simples e poética. Gostei muito, principalmente, da segunda parte.