22 abril, 2018

Vamos aquecer o Sol de José Mauro Vasconcelos



Este livro é a continuação de O Meu Pé de Laranja Lima. Também ele autobiográfico tem como protagonista Zezé, o mesmo menino traquinas e ternurento. Agora mais velho, com 10 anos (vamos acompanhá-lo até aos 15) e a viver com o padrinho que decidiu criá-lo até à conclusão dos estudos e assim lhe proporcionar, no futuro, uma vida melhor. Mas, apesar de viver no conforto, Zezé continua a sentir falta de carinho e compreensão. Para colmatar estas carências, Zezé imagina duas personagens que vão desempenhar um papel fundamental e o vão ajudar a crescer e a ultrapassar algumas das dificuldades que resultam das suas travessuras. Outra personagem fulcral no seu crescimento é o professor e amigo Fayolle, um irmão do colégio que ele frequenta.
Assim, numa mistura de realidade e imaginação, o menino inteligente, com um coração do tamanho do mundo, narra-nos as suas tropelias cada vez mais diabólicas e perigosas. 
É um livro que nos faz sorrir. Recomendo vivamente.



19 abril, 2018

O Rapaz do Pijama às Riscas de John Boyne



A história é-nos apresentada sob a perspectiva de um rapaz de nove anos (Bruno), que vive num ambiente favorecido em Berlim, mais tarde em Auschwitz, e que desconhece totalmente a crueldade existente no mundo, à sua volta e mesmo no seio familiar. 

A história é narrada de forma superficial, é o leitor através das indicações fornecidas por Bruno que vai descortinando a profissão do pai, o sítio para onde se mudaram, as pessoas que vivem num espaço, que ele avista da janela, e que estão vestidas todas de igual com “um pijama às riscas”. Bruno completamente inocente não tem a mínima ideia do que se passa naquele campo e desconhece a profissão do pai. 

Quando, para combater o aborrecimento de estar sempre em casa, decide explorar os arredores, acaba por descobrir um menino da sua idade (Shmuel) que se encontra do outro lado da vedação. Sem qualquer preconceito Bruno questiona-o e tornam-se amigos. Estes encontros duram ao longo de um ano e é este aspecto que me leva a considerar esta história inverosímil. É impossível que durante tanto tempo ninguém os avistasse. Auschwitz era um campo muito vigiado, ninguém conseguia isolar-se e muito menos obter roupa sem levantar suspeitas. 

Porém, retenho a inocência das duas crianças e a amizade que se estabeleceu entre elas. São valores importantes que devem ser transmitidos aos jovens leitores e talvez tenha sido esta a intenção do autor.



18 abril, 2018

Um Gentleman em Moscovo de Amor Towles



Livro encantador. Pleno de humor e ironia, o protagonista, o conde Aleksandr Ilitch Rostov, é um verdadeiro cavalheiro que, de imediato, seduz o leitor. 

Condenado a prisão domiciliária, o conde fica impedido de sair do luxuoso Hotel Metropol. Aceita sem reclamar a condenação dos bolcheviques porque, naquela época, na Rússia, o destino dos condenados era outro bem diferente. 

Ao simpático, culto e influente conde apenas lhe foi retirada a suite onde vivia há quatro anos, depois do seu regresso de Paris, e foi-lhe atribuído um pequeno quarto no último piso. Se no início foi penosa a adaptação, com o passar do tempo foi descobrindo outros (ou os mesmos) prazeres e criando novas amizades. 

De 1922 a 1954, vamos conhecendo a nova vida do conde no Hotel e vamos, simultaneamente, acompanhando a evolução de uma nova Rússia.




07 abril, 2018

A Avó e a Neve Russa de João Reis




O protagonista desta história é uma criança de dez anos que nos narra a história da sua avó Babushka, doente com cancro nos pulmões contraído em Chernobyl. Como sobrevivente, emigra para o Canadá onde vive com os seus netos, Andrei e o narrador (não chagamos a saber o seu nome). 

A história em si é cativante uma vez que a criança vai tentar de tudo para salvar a sua avó. Há momentos ternurentos e momentos divertidos. A criança, que se considera o homenzinho da casa, é muito curiosa e muito instruída, porém, e apesar de ter já um “rico vocabulário”, confunde certas palavras (xenofilia e xenofobia; ornitologia e oncologia, macroscópio e microscópio,… ). Estes equívocos fazem-nos sorrir um pouco e revelam a inocência própria das crianças. 

Porém (é a palavra preferida do narrador, e, tal como ele, também eu a repito), há certos momentos, sobretudo quando a criança nos revela os seus pensamentos sobre os mais diversos temas (políticos, religiosos, sociais, ou outros) que me causam uma certa perplexidade, na medida em que me questiono se o narrador já tem maturidade para tais considerações. 

Apesar deste aspecto, recomendo a leitura do livro porque o mais relevante é o carinho que uma criança de dez anos revela pela sua avó idosa e doente e a esperança de lhe curar os pulmões destruídos pelos “ares venenosos de Chernobyl”.




01 abril, 2018

A Espada e a Azagaia de Mia Couto



Trata-se do segundo livro da trilogia “As Areias do Imperador”, narrado a três vozes, de forma alternada, descreve os últimos dias do chamado Estado de Gaza, império africano governado por Ngungunhane (Gungunhana) e a paixão entre a jovem Imani Nsambe, de etnia Vatxopi, e Germano de Melo, um jovem sargento português que se conheceram em Nkokolani, para onde o sargento foi enviado de serviço. 

O livro, rico na descrição de costumes, rituais, crenças, amores e desamores, lutas e mortes, termina com a vitória das tropas portuguesas, comandadas por Mouzinho de Albuquerque e a prisão de Gungunhana. Esta mesma guerra é a causa da separação do jovem sargento e da jovem nativa. 

É no cruzamento da vivência de Imani e das cartas trocadas entre o sargento e o seu superior, o tenente Ayres de Ornellas, que a história de vencedores e vencidos nos é contada. A magia da escrita de Mia Couto leva-nos a reflectir sobre a problemática da guerra, mas sobretudo sobre a desumanização e o poder.