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15 julho, 2025

Encontro Regional de Bibliotecas Escolares



Nos dias 10 e 11 de Julho de 2025, em Évora, decorreu o Encontro Regional, subordinado ao tema “Legados de Engenho, Arte e Pedagogia”, colaboração entre o CFAE Beatriz Serpa Branco e as Bibliotecas Escolares do Alentejo. As sessões plenárias tiveram lugar no auditório da DGEstE e os workshops no Agrupamento de Escolas André de Gouveia.


Foram dois dias plenos de aprendizagens, partilhas e convívio.
Na abertura do encontro Jorge Serafim brilhou e animou o pessoal ainda entorpecido.
O programa seguiu o seu curso com uma homenagem a Beatriz Serpa Branco e com a apresentação de Boas Práticas de várias bibliotecas escolares do Alentejo (nos dois dias realizaram-se três sessões plenárias). São momentos enriquecedores e que evidenciam o que de bom se pratica nas nossas bibliotecas escolares.
Os dois momentos previstos de workshops simultâneos oferecem-nos possibilidades de aprendizagem, algumas fora da nossa zona de conforto, de contacto com outras artes, de partilha de saberes, de sorrisos e boa disposição. Gostei de descobrir a “Ciência em Camões” com o Mário e o Alexis, do Centro de Ciência Viva de Estremoz e adorei conhecer a actriz Cátia Terrinca que, sabia e assertivamente, nos envolveu nas “Palavras para lá do papel” . Trabalhámos a desconstrução da palavra, da escrita, da poesia; criámos sons com sentido; inventámos onomatopeias; percebemos o poder da palavra escrita, dita, ouvida, compreendemos a importância do silêncio, do saber escutar.

Nestes dois dias, fomos ainda brindados com duas conferências magníficas. A primeira, dita pelo Professor Carlos Reis – “Legados de um ‘épico d’outrora’: figurações camonianas”; a segunda, pelo Dr. Pacheco Pereira – “Engenho, arte e saber ao serviço das bibliotecas”.
Dois oradores cultos e inteligentes que nos concedem conhecimentos válidos e nos incitam à reflexão.

O encerramento do encontro contou com uma tertúlia sob o tema “Legados de Engenho, Arte e Pedagogia”. Cinco convidados, entre os quais o Professor Carlos Reis, moderados pela Doutora Zélia Parreira, Directora da Biblioteca Pública de Évora, discorreram sobre o assunto. Foi um momento empolgante com opiniões controversas de um dos palestrantes.
Entusiasmei-me com o rumo da conversa, com os argumentos dos restantes convidados e sobretudo com a arte e engenho do Professor Carlos Reis. Terminámos maravilhosamente. 

Após a conclusão dos trabalhos agendados para o primeiro dia, um grupo de amigas bibliotecárias do Alentejo Litoral, deambulou pelas ruas de Évora e refastelou-se numa esplanada para conversar, gargalhar, degustar uns saborosos petiscos e beber uma generosa sangria. Apesar do vento frio que se impôs ao anoitecer, fomos felizes.

Foram dois dias maravilhosos. Eu, no papel de aposentada, desfrutei serenamente de tudo.
Até pró ano, se ainda me aceitarem.




07 julho, 2024

Encontro Regional Ler, escrever e contar a LIBERDADE | 4 e 5 Junho | Évora



“Lembra-me um sonho lindo,…”diz a canção do Fausto. Também eu poderia iniciar assim o meu balanço dos dois dias do Encontro passados na bela e quente cidade alentejana.

Mas não foi um sonho! Foi concreto, foi vivido, foi sentido! Por isso, adapto o verso e inicio com “lembra-me um encontro lindo,…”, um Encontro de aprendizagem, de partilha de boas práticas, de livros, de escrita, de poesia, de contos e recontos, mas também de descoberta de arte, património, gastronomia, de encontros, de conversas, de abraços, de emoções, de LIBERDADE!

Neste Encontro, no auditório da DGEsTE, visionei pequenos vídeos fabulosos que versavam, de variadíssimas formas, sobre Abril, sobre a Liberdade, … elaborados por alunos das nossas escolas.

Neste Encontro, assisti a uma esclarecida e cativante “aula” de História proferida por Fernando Rosas, que para além de nos apresentar factos da Revolução dos cravos, lembrou-me (nos), que no “entardecer sombrio” que toda a Europa vive presentemente, é importante “recorrer à leitura, ao livro, para semear a liberdade”. Obviamente, que como leitora, continuarei a lançar sementes para que a liberdade perdure, inteira e limpa.

Neste Encontro, na Escola Secundária André de Gouveia, participei activamente no Workshop “Escritas em forma de Abril”, dinamizado pelo escritor João Pedro Mésseder. Foram três horas de deslumbramento pelas palavras ditas, lidas e escritas, pelas ilustrações, pelos livros e pelas partilhas. Foram três horas de palavras claras, leves, anoitecidas, livres, musicais, … em forma de Abril.
O calor cortou-me a inspiração, mas não a liberdade de escrever, pelo que partilho o haicai que criei:

Que nunca esqueças
a clara madrugada
de abril pintada


  

Ao entardecer, na companhia bem disposta e amiga de mais seis companheiros de luta, entenda-se, de bibliotecas escolares, deambulámos pelas ruas à descoberta do património, da gastronomia (que belo repasto!) e de uma temperatura abaixo dos 39.º. 

No dia seguinte, regressámos à escola secundária, e voltei a maravilhar-me, desta vez, pelas palavras e ilustrações do multifacetado Pedro Seromenho no Workshop “ O livro e a liberdade”. Tal uma criança ávida de sonhos, deixei-me conduzir pelas histórias poeticamente narradas e apreciei as ilustrações e desenhos revelados/criados. Foi um despertar de memórias, de emoções!

        

        




À tarde, assisti, de novo, à partilha de boas práticas das escolas alentejanas e ouvi João Couvaneiro que nos presenteou com uma conferência interessante sobre Educar para a Liberdade em tempos de Inteligência Artificial. Retive algumas ideias importantes e sugestões de ferramentas. Cito duas frases referidas que considero pertinentes e com as quais também concordo e que se adequam aos novos desafios da IA.
A primeira, “O exemplo não é a melhor forma de educar! É a única!”
A segunda, “Não é no dia em que se plantam as sementes, que se colhem as maçãs.”

E para terminar este longo texto que, provavelmente, poucos lerão, recorro à poesia, mais propriamente, a aforismos de João Pedro Mésseder (Inéditos)

“Liberdade: soubesses defini-la, mas apenas sabes dizer a falta que ela te faz.
Por cada Abril que semeias, mil Abris hás de colher.
A liberdade é um farol, talvez seja até um mar.”

Lucinda, Fátima, Rosa, Antónia, Rute, Mariana, Catarina e Rui (comparsas do Encontro), sei que sabem definir a Liberdade, pelo que resta-vos (nos) continuar a semear Abris. Agradeço-vos por terem partilhado comigo estes dois dias.
Ao João Pedro Mésseder e ao Pedro Seromenho agradeço as palavras, as ilustrações, os livros e, sobretudo, a liberdade na partilha dos vossos conhecimentos e experiências.

A todos os que directa e indirectamente contribuíram para a organização deste evento e que participaram nos diversos momentos, o meu bem-haja.

Marcamos Encontro para 2025. Muitas e boas leituras!


05 junho, 2013

As bibliotecas por Valter Hugo Mãe



Biblioteca do mosteiro de Strahov, Praga
 

 As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.
Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.
Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.
O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.
Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das bibliotecas.
Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde  voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como
carrosséis para as ouvir rir. Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.
As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.
Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.
Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.
As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.
Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.
Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor.


in Jornal de Letras