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18 maio, 2025

𝑪𝒐𝒎𝒃𝒐𝒊𝒐𝒔 𝑹𝒊𝒈𝒐𝒓𝒐𝒔𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑽𝒊𝒈𝒊𝒂𝒅𝒐𝒔, de Bohumil Hrabal

 

Autor: Bohumil Hrabal
Título: Comboios Rigorosamnete Vigiados
Tradutora: Anna Almeida
N.º de páginas: 128
Editora: Antígona
Edição: Fevereiro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3376)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Com Comboios Rigorosamente Vigiados, Bohumil Hrabal transporta-nos para uma pequena estação ferroviária Checa. Decorria o ano 1945, mais concretamente, os últimos dias da ocupação alemã da Segunda Guerra Mundial.
A narrativa acompanha o desenrolar diário das tarefas do chefe da estação, do sinaleiro, da telegrafista e do aprendiz que, entre chegadas e partidas de comboios, uns mais rigorosamente vigiados que outros, vão vivendo episódios de rotina, de resistência, entre outros bem divertidos e inesperados que vos convido a descobrir.

Apesar de pequeno, o livro é intenso pela forma como o autor aborda a vida destas personagens e nos narra o enquadramento histórico da ocupação, mas sobretudo da resistência e da coragem de alguns habitantes, nomeadamente, do jovem aprendiz, Milos Hrma, tal como o seu avô o fizera antes.
“O meu avô foi andando estrada fora com os olhos fixos no primeiro tanque, que encabeçava a guarda avançada daquelas tropas motorizadas (…)” (p. 11)
Poder-se-à intuir que o autor checo pretendeu erigir um louvor à resistência patriótica ao fazer explodir um comboio dos ocupantes nazis que transporta armamento, é bem possível, mas penso também, que ao dar relevo, com muito humor, à iniciação sexual do jovem aprendiz , destaca a idade com que muitos jovens participavam na guerra.

Sendo um livro que aborda questões relacionadas com a ocupação alemã, acaba por se tornar numa leitura saborosa porque os assuntos são tratados com subtileza e inteligência.
A escrita simples, mas profunda, flui agradavelmente. Sorrimos perante as hilariantes, porque inesperadas, histórias vividas na pacata estação.

06 novembro, 2021

𝑼𝒎𝒂 𝑺𝒐𝒍𝒊𝒅ã𝒐 𝑫𝒆𝒎𝒂𝒔𝒊𝒂𝒅𝒐 𝑹𝒖𝒊𝒅𝒐𝒔𝒂, de Bohumil Hrabal

 


Autor: Bohumil Hrabal
Tradutora (do checo): Ludmila Dismanová
Título: Uma Solidão Demasiado Ruidosa
N.º de páginas: 143
Editora: Antígona
Edição: Setembro 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3260)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Há 35 anos que Hanta vive numa solidão partilhada com a ruidosa prensa hidráulica. Na Praga de Kafka, assolada pela guerra, acompanhamos a vida absurda deste homem que passa os dias, os anos a prensar papel e livros numa cave suja, a recolher e a ler relíquias que lhe passam pelas mãos, a beber canecas e canecas de cerveja e a dormir numa casa velha repleta de livros. Hanta, apesar do ambiente miserável onde trabalha, é um homem feliz e culto, um pensador e um contador de memórias.

Narrado na primeira pessoa, Hanta relata-nos a sua “love story”. É um homem de contrastes, é um homem que se suja de sangue dos ratos prensados, mas também das letras dos livros.
“… há trinta e cinco anos que me sujo de letras, a tal ponto, que com o passar do tempo, me pareço com uma das pelo menos três toneladas de enciclopédias que terei prensado; sou um cântaro cheio de água viva e de água morta, basta inclinar-me um pouquinho e jorram de mim ideias lindas; sou culto independentemente da minha vontade e, assim nem sei bem que ideias são minhas, saídas da minha cabeça, e quais delas li.” (p.7)

É assim que Hanta se apresenta logo no início. E ao longo deste monólogo, temos uma imensidão de referências a livros, a bons livros. Temos metáforas, imagens lindíssimas. Temos histórias vividas, sonhadas, irreais.
“ …afinal não leio, apenas debico uma bela frase e chupo-a como um rebuçado, como se bebericasse lentamente um cálice de licor, até a ideia se dissolver em mim como álcool, tão devagar que não só penetre no meu cérebro e no meu coração, mas pulse também nas minhas veias até às raízes dos capilares.” (p.7).
Ninguém resiste a um texto destes. É lindo. É intenso. É poético.

Durante trinta e cinco anos, Hanta é o guardião dos livros, do conhecimento, das suas memórias, das suas histórias. Numa profunda solidão, ao ritmo de dois botões, o vermelho e o verde, Hanta cumpre a sua função com devoção, não com total zelo já que muitas vezes pára para ler uma raridade que lhe cai do “céu”, do buraco do tecto.
“…o disco da prensa avançava e recuava conforme eu premia o botão verde ou o botão vermelho e, nos intervalos, eu bebia cerveja e lia a Teoria do Céu, de Immanuel Kant,…” (p. 78) Porém, no final, Hanta é surpreendido pelo progresso (“iniciava-se uma nova era, com novos homens e mulheres e novos métodos de trabalho.” p. 99) +e vai ser substituído por dois jovens, que só bebem leite, mais qualificados, mas indiferentes aos livros e ao seu conteúdo e a sua prensa por uma maior, mais moderna e mais eficaz. Hanta indigna-se e toma uma decisão que não vou desvendar.

É um livro magnífico. Um hino aos livros, à literatura