29 outubro, 2023

Possibilidades - Exercício de escrita criativa

 

                                                         Criador de imagens do Bing


Baseado no poema "Possibilidades", integrado na obra  Paisagem com Areia, de Wislawa Szymborska (pp.250 e 260), criei e o meu "Possibilidades"


Prefiro café sem açúcar.
Prefiro o livro ao filme.
Prefiro o vermelho e o preto.
Prefiro ler nos tempos livres.
Prefiro sonhar acordada porque me invento.
Prefiro José Saramago a António Lobo Antunes, apenas uma questão de preferência, nada de embirração. 
Prefiro o silêncio que me constrói.
Prefiro a paz.
Prefiro ouvir.
Prefiro que não me digam "Não te ofereço mais livros porque já tens muitos.".
Prefiro livros bons.
Prefiro a amizade honesta, os amigos que nada prometem e que marcam presença sempre que a tristeza se impõe.
Prefiro o afastamento à incerteza da relação de amizade, de amor,...
Prefiro a humildade à vaidade de tantos "ilustres" - felizmente não são imortais.
Prefiro a tranquilidade à inquietação e ao desassossego.
Prefiro a verdade mesmo que sofrida.
Prefiro palavras livres e perfumadas.
Prefiro o ridículo de escrever ao ridículo de não escrever. Mesmo que seja só para mim. 
Prefiro cartas (de amor) ridículas.
Prefiro flâner junto ao mar porque me oferece uma visão sublime.
Prefiro deixar-me deslumbrar pelas palavras.
Prefiro a travessia segura do tempo.
Prefiro que o Natal seja quando o homem quiser. 
Prefiro bla bla bla. 



27 outubro, 2023

LÀ-BAS, JE NE SAIS OÙ

 


Claude Monet, Chegada do Comboio da Normandia, Gare de Saint-Lazare, 1877




LÀ-BAS, JE NE SAIS OÙ...



Véspera de viagem, campainha...
Não me sobreavisem estridentemente!

Quero gozar o repouso da gare da alma que tenho
Antes de ver avançar para mim a chegada de ferro
Do comboio definitivo,
Antes de sentir a partida verdadeira nas goelas do estômago,
Antes de pôr no estribo um pé
Que nunca aprendeu a não ter emoção sempre que teve que partir.

Quero, neste momento, fumando no apeadeiro de hoje,
Estar ainda um bocado agarrado à velha vida.
Vida inútil, que era melhor deixar, que é uma cela?
Que importa? Todo o universo é uma cela, e o estar preso não tem que ver com o tamanho da cela.
Sabe-me a náusea próxima o cigarro. O comboio já partiu da outra estação...
Adeus, adeus, adeus, toda a gente que não veio despedir-se de mim,
Minha família abstracta e impossível...
Adeus dia de hoje, adeus apeadeiro de hoje, adeus vida, adeus vida!
Ficar como um volume rotulado esquecido,
Ao canto do resguardo de passageiros do outro lado da linha.
Ser encontrado pelo guarda casual depois da partida —
«E esta? Então não houve um tipo que deixou isto aqui?» —

Ficar só a pensar em partir,
Ficar e ter razão,
Ficar e morrer menos...

Vou para o futuro como para um exame difícil.
Se o comboio nunca chegasse e Deus tivesse pena de mim?

Já me vejo na estação até aqui simples metáfora.
Sou uma pessoa perfeitamente apresentável.
Vê-se — dizem — que tenho vivido no estrangeiro.
Os meus modos são de homem educado, evidentemente.
Pego na mala, rejeitando o moço, como a um vício vil.

E a mão com que pego na mala treme-me e a ela.

Partir!
Nunca voltarei.
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.

Partir! Meus Deus, partir! Tenho medo de partir!...


Poesias de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa



24 outubro, 2023

𝑯í𝒇𝒆𝒏 -, de Patrícia Portela

 


Autora: Patrícia Portela
Título: Hífen -
N.º de páginas: 275
Editora: Caminho
Edição: Abril 2021
Classificação: Romance, Distopia
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Patrícia Portela na Nota Prévia informa o leitor de que esta obra foi construída a partir de fragmentos e de reflexões num tempo em que a vida estava à beira do abismo, pelo que com estas palavras aguarda o resgate do inferno para onde se encaminhou.

Estamos, assim, perante uma alegoria do mundo. De um mundo doente representado utopicamente pela Flandia, “ o centro do universo com uma geografia impossível”, e o Olival, “o resto do mundo. A sobra. De onde vimos e para onde nunca voltamos.” Assim, do título 𝑯í𝒇𝒆𝒏 - subjaz a ideia de ligação entre as duas regiões. Mas Patrícia Portela não se fica pela simples ideia de união. Ela vai à etimologia da palavra (Hí + Flan) para criar e nos explicar a origem de Flandia (a região) e Flan (o habitante), e com isso desenvolver toda a sua ideia de (des)união entre as pessoas, entre os povos.

No início, estranhamos a estrutura, mas no evoluir da leitura verificamos que há unidade e coerência e tudo fará sentido no final da obra. Na distopia desenvolvida na Flandia (região hifanada) os seus habitantes (os flans) estão normalizados, controlados pelo algoritmo. O ser humano é substituído pela tecnologia.

Esta leitura leva-me a intuir que a imperfeição da sociedade quer seja a da narrativa, a distópica, quer seja a actual, se encontra na ausência de ligação entre as pessoas, na distância entre uns e outros, na falta de afectos, na forma como agimos, como nos “hifenizamos”. Não é em vão que a autora aborda temas como a maternidade, a doença, a emigração, a escrita e a leitura. Temas fundamentais na construção, desenvolvimento e compreensão de uma sociedade.

Patrícia Portela com este livro pretende mostrar a complexidade de uma sociedade que se deixa conduzir, iludir em vez de decidir, de lutar por um futuro mais feliz e atractivo.

É por demais evidente a analogia com o presente em que vivemos subjugados pela tecnologia, pelos algoritmos, pela inteligência artificial e que corremos o risco de “um dia acordar sem palavras”, de perder faculdades, de perder a capacidade de raciocínio. Tudo isto influi no relacionamento entre as pessoas, deixa de haver união e desenvolve-se o individualismo.

Hífen é uma obra de difícil classificação, mas desafiante e perturbadora na medida em que nos faz questionar o presente em que vivemos.
Afinal também nós fomos até ao inferno. Será que fomos resgatados ou permanecemos adormecidos como as crianças Flans? Segundo consta “até à data, na Flandia, nenhuma criança acordou.” E nós?



23 outubro, 2023

Pour faire le portrait d'un oiseau, Jacques Prévert

 


© Contes à rêver
                                       https://contesarever.wordpress.com/2020/12/18/pour-faire-le-portrait-dun-oiseau/




Peindre d’abord une cage
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d’utile
pour l’oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l’arbre
sans rien dire
sans bouger . . .
Parfois l’oiseau arrive vite
mais il peut aussi bien mettre de longues années
avant de se décider
Ne pas se décourager
attendre
attendre s’il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l’arrivée de l’oiseau
n’ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau
Quand l’oiseau arrive
s’il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l’oiseau entre dans le cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l’oiseau
Faire ensuite le portrait de l’arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l’oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l’herbe dans la chaleur de l’été
et puis attendre que l’oiseau se décide à chanter
Si l’oiseau ne chante pas
c’est mauvais signe
Signe que le tableau est mauvais
mais s’il chante c’est bon signe
signe que vous pouvez signer

in Paroles, Jacques Prévert



22 outubro, 2023

𝑼𝒎𝒂 𝑳𝒖𝒛 𝒂𝒐 𝑳𝒐𝒏𝒈𝒆, de Aquilino Ribeiro

 



Autor: Aquilino Ribeiro
Título: Uma Luz ao Longe
N.º de páginas: 166
Editora: Bertrand Editora
Edição: Setembro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3466)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Uma Luz ao Longe é nesta edição prefaciada pelo escritor Gonçalo M. Tavares que incita o leitor a uma atenção redobrada e a meter-se “ por inteiro no livro que lhe exige energia da bruta e da boa.” Já que toda a energia exigida “por um livro de Aquilino é retribuída, em dobro, pelo prazer que se recebe.” Trata-se de uma fórmula inteligente de estimular a leitura deste livro.

Este romance de formação, e de cariz autobiográfico, narra o período da vida de Amadeu Magalhães, o protagonista, que com dez aninhos tem de sair de casa e apresentar-se no seminário do Colégio da Nossa Senhora da Lapa. Menino inteligente, e curioso é alvo de chacota dos outros colegiais, sente vergonha das suas origens, não aprecia a clausura a que é sujeito, sofre com o afastamento da sua gente, questiona a “hostilidade que se açulara” contra ele, estranha a vida austera e os ensinamentos recebidos pelo que se fecha dentro da sua “timidez selvagem como dentro de uma cidadela”, mostrando desde logo a sua fraca vocação para a vida de sacerdócio.
“ – Este rapazinho é pior que um gato assanhado. Não se metam com ele. Deixem-no que logo amansará!
Tal foi a minha iniciação no Colégio de Nossa Senhora da Lapa, instituído e patrocinado pelo prelado da diocese para ensino de meninos e seu ordenamento na carreira eclesiástica e civil. “ (p. 44)

O protagonista “traquinas, leviano porventura, dado à ribaldia” sempre que algo acontecia, constava na lista dos suspeitos e sentia repulsa pela injustiça praticada pelos padres. “A mim nada me fere tanto como a injustiça” (p. 148)
Até que um dia, após um determinado episódio, e confirmando uma forte personalidade já bastante notória, é expulso do seminário, pondo em causa o sucesso dos exames e a continuação dos estudos. Amadeu, em casa, livre e já com um carácter determinado prepara-se com dedicação e apresenta-se aos exames. Contrariando as expectativas dos seus antigos professores do seminário, passou com sucesso.

E assim, com esta atitude se começa a forjar, desde muito jovem, o seu ex-libris - “Alcança quem não cansa” – porque nas horas de maior tristeza e amargura, uma luz “pequenina, bruxuleante, vinda de longe, crescia, e iluminava-me o caminho. (…) A questão para o indivíduo é ter olhos que a descubram.” (p- 130)

Sob a forma de memórias, o mestre Aquilino Ribeiro apresenta-nos um testemunho fabuloso das gentes, da terra e paisagens da Beira Alta, mas mostra-nos sobretudo que “no homem tudo consiste em ser e subsistir. Ser envolve um problema de ordem temporal, mas subsistir um problema de eternidade.” (p. 133)

Resta-me acrescentar que o percurso literário que realizei às Terras do Demo, no início deste mês, e mais concretamente A Nossa Senhora da Lapa com o privilégio de visitar os espaços, quarto incluído, onde Aquilino viveu, proporcionou-me o triplo do prazer na leitura deste livro que recomendo. Afinal, o Gonçalo M. Tavares tinha razão.





19 outubro, 2023

Canção de Outono




Canção de Outono

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...

Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...


Cecília Meireles


16 outubro, 2023

𝑶 𝒁𝒆𝒏 𝒆 𝒂 𝑨𝒓𝒕𝒆 𝒅𝒂 𝑬𝒔𝒄𝒓𝒊𝒕𝒂, de Ray Bradbury

 



Autor: Ray Bradbury
Título: O Zen e a Arte da Escrita
Tradutor: Miguel Romeira
N.º de páginas: 158
Editora: Cavalo de Ferro
Edição: Setembro 2019
Classificação: Ensaio
N.º de Registo: (3421)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

O Zen e a Arte da Escrita é uma recolha de ensaios, de reflexões sobre as suas experiências literárias como romancista, contista, poeta e guionista. Ao longo das páginas sente-se a vitalidade do autor e a sua paixão pela escrita.
No prefácio (p. 14), ele revela-nos a fonte da sua escrita tantas vezes explosiva.

“Os ensaios desta recolha foram escritos em várias alturas ao longo de um período de 30 anos, uns para assinalar descobertas únicas, outros para responder a necessidades únicas. Mas todos fazem eco do mesmo: as explosões de autoconhecimento e o assombro perante o tanto que guardamos cá dentro e o que isso nos pode dar; essas reservas são como um poço, apenas temos de nos debruçar e gritar, e os ecos virão.”

O livro revela-se um manancial de conselhos extremamente útil e de referências literárias. O autor explica todo o seu processo criativo baseado no entusiasmo, como essência de sobrevivência, como superação de batalhas, como uma vitória diária.

Nos doze textos presentes, Bradbury narra as suas experiências, incita à escrita, ensina a aperfeiçoar a técnica, desvela como encontrar a inspiração e como desenvolver a criatividade. Para ele, é importante “alimentar a Musa”, isto é, “observar com os nossos olhos”; ligar memórias; “ler poesia todos os dias. (…) aquela que nos arrepia”; ler livros “que nos potenciam a capacidade de apreender…”; destrinçar os tesouros do lixo cultural; escrever, escrever, escrever muito, porque “a quantidade traz experiência. E só da experiência vem a qualidade”; fazer listas de palavras; “perseguir aquilo que amamos” nem que sejam coisas disparatadas porque “nada se perde” e poderá um dia servir.

Assim, segundo Bradbury que trabalha a escrita com um escultor, “alimentar a Musa exige um apetite insaciável pela vida desde que se é pequeno.” (p. 52): Os seus conselhos são de extrema pertinência que fortalecem e animam o nosso ensejo de escrever: “ (…) o fracasso é desistir. Ora, isto que estamos a fazer é um processo. Portanto, nada é fracasso. Tudo é percurso. Produzimos. Se o resultado for bom, aprendemos alguma coisa. Se for mau, aprendemos mais ainda. (…) Só haverá fracasso se pararmos.” (p. 138)

Não é fantástico?

Fiquei com curiosidade de ler outros livros do autor. Até hoje, só tinha lido Fahrenheit 451, um livro que considero maravilhoso e essencial no meu crescimento como leitora. Agora com este fiquei ainda mais motivada para mergulhar, com um novo olhar, na fantasia do autor, nos seus contos e nas suas Crónicas Marcianas.



14 outubro, 2023

Silêncio !


                                                          © Foto GR - Fundão Dez 2022


Eu amei esses lugares
onde o sol
secretamente se deixava acariciar.

Onde passaram lábios,
onde as mãos correram inocentes,
o silêncio queima.

Amei como quem rompe a pedra,
ou se perde
na vagarosa floração do ar.


Eugénio de Andrade, in Matéria Solar

10 outubro, 2023

Mais vale tarde do que nunca


                                                 ©  IL TEMPO (2018) | Rocco (roccoaa)



Fingimento, inverdade, desconfiança, incompreensão não coabitam com AMIZADE. 

Demorei a compreender o que há muito era óbvio. Mas segundo o adágio popular "mais vale tarde do que nunca". 
E agora, que fazer?  Não o sei, ainda! Quero acreditar que uma luzinha "pequenina, bruxuleante, vinda de longe" me iluminará no momento de tomar uma decisão. Calma e acertadamente! 

É curioso que pensei já estar imune a este tipo de pedras que, de quando em vez, se me apresentam pelo caminho, mas não, não estou!  E a pedrada que me atingiu,  dói, dói muito! Porque brutalmente pesada!

Segundo Simone Weil "a amizade não se busca, não se sonha, não se deseja; ela exerce-se (é uma virtude)." E acrescento que se exerce na confiança, na sinceridade, na compreensão, na partilha. 


  

05 outubro, 2023

Jon Fosse vence Prémio Nobel da Literatura 2023

 

                                                               Foto retirada da internet 


O Prémio Nobel da Literatura 2023 foi atribuído ao escritor norueguês Jon Fosse, de 64 anos, "pelas suas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível", anunciou hoje a Academia Sueca, às 12.47 horas.

"A sua imensa obra, escrita em norueguês e abrangendo uma série de géneros, consiste numa grande variedade de peças de teatros, romances, coleções poéticas, ensaios, livros para crianças e traduções. Apesar de ser um dos mais representados dramaturgos no mundo, também se tornou crescentemente reconhecido pela prosa", referiu a organização do prémio.

Jon Olav Fosse nasceu em Haugesund, na Noruega, em 29 de setembro de 1959.

Jon Fosse escreveu romances, contos, poesia, livros infantis, ensaios e peças de teatro. As suas obras foram traduzidas em mais de 40 idiomas.

Desde 2011 que foi concedido a Fosse o "Grotten", uma residência honorária pertencente ao estado norueguês e localizada no Palácio Real de Oslo no centro da cidade de Oslo. O uso do Grotten como residência permanente é uma honra especialmente concedida pelo Rei da Noruega pelas contribuições para as artes e a cultura norueguesas.

Em Portugal, a Cavalo de Ferro tem vindo a publicar a prosa de Fosse, com destaque para manhã e noite (2020), Trilogia (2021) e Septologia I-II (2022).

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca.








02 outubro, 2023

𝑼𝒎𝒂 𝒄𝒐𝒗𝒂 é 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒆𝒔𝒄𝒂𝒗𝒂𝒓, de Ruth Krauss & Maurice Sendak

 


Autora: Ruth Krauss
Ilustrador: Maurice Sendak
Título: Uma cova é para escavar
N.º de páginas: 48
Editora: Kalandraka
Edição: Setembro 2016
Classificação: Infantil
N.º de Registo: (Empréstimo)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Um livro maravilhoso que revela “as primeiras explicações da infância” às crianças e também aos adultos que se deixam inebriar por “livros bons”.

O trabalho harmonioso de Ruth Krauss (texto) e Maurice SendaK (ilustração) funciona na perfeição. Num tom ternurento, salpicado de humor e pleno de sabedoria o leitor recolhe nos textos ensinamentos de vária ordem: uns directos e objectivos “ Uma cova é para plantar uma flor”, “uma cara é para fazer caretas”; outros bem mais profundos e poéticos “ Os braços são para abraçar”; “Um sonho é para observar a noite e ver coisas”, “os cães são para dar beijos às pessoas.”
Se o título nos informa que “Uma cova é para escavar”, aprenderemos ao longo das páginas que afinal tem múltiplas e (in)suspeitas funções.
Todas as frases são abundante e magnificamente ilustradas a preto e branco. O sentido da frase ganha enlevo com a expressividade, o movimento e os detalhes dos desenhos.



Foi com um prazer enorme que descobri este pequeno (no formato) livro. Foi-me emprestado, mas vou adquiri-lo porque merece um lugar de destaque na minha biblioteca, nem que seja para me lembrar que “Um livro é para ser lido”. É uma explicação óbvia, não é?!

Fiquei rendida à aparente simplicidade do texto e aos deliciosos desenhos que literalmente se estendem pelas páginas e que me fizeram sorrir.
Foi um feliz regresso às memórias da minha infância.