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28 maio, 2024

𝒑𝒂𝒓𝒕𝒐 𝒄𝒐𝒎 𝒐𝒔 𝒗𝒆𝒏𝒕𝒐𝒔, de Lília Tavares

 


Autora: Lília Tavares
Título: parto com os ventos
N.º de páginas: 
Editora: Modocromia
Edição: Abril 2023
Classificação: Poesia
N.º de Registo: (3480)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Já o escrevi em anteriores apreciações e volto a reforçar que a escrita de Lília Tavares é de uma extrema sensibilidade e muito sensorial.
Desde logo, nos dois primeiros poemas, o leitor fica cativo às palavras e capta a simbiose entre a escrita e o corpo; entre a escrita e os sentidos “Sou página em branco / onde a tinta dos teus gestos / me desenha e prolonga.”; entre a natureza e o corpo e os sentimentos.

Há o desejo de corporizar as aves, as árvores, a noite, o vento…
Há uma busca incessante de si, do outro, através do tempo, das coisas, das palavras…
Há o apelo saudoso do outro, do amor, da outra parte de si…
Há lamentos de solidão, de espera, de choro, de desejo…
Há madrugadas longas de sonhos inacabados, memórias vivas, desejos de noites quentes e de abraços, ausências, vazios…
“(…)
o desejo tem memória”

Retenho ainda este verso com o qual me identifico muito: “A saudade tem degraus de silêncio.”
Neste livro, a saudade tem efectivamente muitos degraus: é espera com o vento… é partida com o vento… é incerteza, é desejo, é amor… A saudade é mar… é sonhar momentos futuros, desejos íntimos… A saudade é amar com ternura, é beber o vento, é solidão…
Lília Tavares ao escrever poemas curtos, alguns de um só verso, como o que citei, desconstrói uma panóplia de emoções; evoca vivências e memórias pinceladas de silêncios, desejos, amores; acaricia palavras, versos, poemas; convoca o tempo; parte com o vento e preenche páginas emotivas e sentidas.

“Sou ilha e barco,
tu a margem que espera.

Parto com os ventos.”

Falta referir que o livro é um objeto muito bonito (como todos os livros da Lília) tem desenhos maravilhosos, muito simples, diria, minimalistas, mas que complementam a escrita de forma sublime.



28 dezembro, 2020

𝓑𝓪𝓲𝓵𝓪𝓻𝓲𝓷𝓪𝓼 𝓭𝓮 𝓒𝓸𝓻𝓭𝓪, de Lília Tavares

 


OPINIÃO


“Que tumulto é este, que inquietude salta/ dos corações das mulheres que agitam as palavras?” (p.50). 
Assim, começa um dos poemas deste livro que enaltece e homenageia as mulheres. Todas as mulheres. A mulher-menina, a jovem mulher, mulher amada, mãe, esposa, marinheira, bordadeira, professora, abandonada, feliz, sonhadora, saudosa, perdida, conformada… 
“(…) abdicam de ser felizes/ ao largarem flores nos lugares onde choraram.” (p.31)

Todas bailarinas porque descritas com delicadeza, harmonia, elegância, mesmo quando “forçadas” a agir pela força da “corda”. 

“Há mulheres que diariamente são flores.
Frescas, portadoras de gotas de orvalho matinal.
Perfumam quem as rodeia como se fossem óleo aromático
em lamparinas que teimam em manter a claridade
na negrura da indiferença das noites longas.
Cantam.
São água que na madrugada sacia a avidez de colo
e de ternura.”

Ao longo dos 65 poemas, a mulher é descrita em união com a natureza, em harmonia com a beleza das flores, das aves, da água, do mar, mas também do vento, do sol, da noite.
“As mulheres têm a força de uma cascata /e a suavidade das violetas que respiram na janela.” (p.25)

Numa escrita poética, simples, emotiva e sincera, a mulher-poeta deixa transparecer a admiração, a gratidão, o carinho e o amor que sente por todas estas mulheres, sejam elas bailarinas porque felizes, fortes e amadas, ou bailarinas de corda porque conformadas e passivas, que preencheram ou ainda preenchem a sua vida. Há, assim, uma mulher que “agita as palavras” e as transforma em emoções.

“Tocam, cegas pelas palavras, labirintos de sonhos
e chegam ao seu lugar, um vasto areal de afectos que se
conjugam em todos os tempos, Ali quase todas as mulheres
ardem em incêndios efémeros e nos barcos dormem
ao som da ladainha verde das ondas. A praia no outono
é um leito frágil de silêncios e limos. São bailarinas
delicadas que se aconchegam nos braços amados, na
intermitência…
da luz. No abraço da noite, em mão amantes, os seus olhos
ousam uma certa forma de errância. Para elas
há muito as estrelas foram reticências. Contemplam
o firmamento na busca do significado para a claridade 
em andrómeda, órion e cassiopeia.



26 março, 2019

Nomes da Noite de Lília Tavares



SINOPSE



Sob o signo da noite, Lília Tavares, em cada poema deste 5.º livro de poesia não reproduz o dizível, mas permite o indizível.

A autora desabriga-se no avesso da pele das suas memórias que numa eternidade gasta e passada a quiseram ocultar. O eu-poético, embora contido, traz à luz a sua ambivalência que se exprime mediante recursos simbólicos. A incompletude habita as suas raízes: vivências, memórias, viagens, amores. 
Ainda são nocturnas estas viagens, revela. Menina e depois mulher, a autora decompõe-se em matéria subjectiva, como um todo desconhecido. A sua poesia serve-se de alguma economia das palavras para desconstruir uma teia de silêncios, entrelaçada em fios de desejo, de amores e de veredas. 
Num novelo cingido pelo prefácio de Carlos Campos, desfiam-se 70 poemas onde se entremeiam 7 fotografias repletas de significado de Paulo Eduardo Campos, também ele poeta. 

À sombra de uma dessas imagens, pode ler-se: 

«Acordo nas ervas, anoiteço barco, 
como árvore e terra despertaria amanhã.»



OPINIÃO


Apesar de ser de Sines, não conhecia Lília Tavares. Foi através do meu livreiro, Joaquim Gonçalves, que tomei conhecimento da apresentação do livro Nomes da Noite na sua livraria e com a presença da autora. Como sempre o tento fazer, leio previamente o livro em causa, em jeito de preparação. 



E em boa hora o fiz porque fui agradavelmente surpreendida. Trata-se de um livro de poesia, dividido em cinco partes com um total de 71 poemas e 7 fotografias, estas de Paulo Eduardo Campos. 
A noite, como o título o indica, é o elemento principal do livro. A sua presença regista-se em 65 poemas, quer através da palavra “noite” quer por outras de mesmo significado, tais como: lua, luar, lunar, nocturno, anoitecer, pernoitar. Nos outros 6 poemas, surge quase sempre a ideia de sol, manhã, dia, luz, amanhecer, isto é, o desejo, o encontro do “tu”, do “outro”, o recomeço, o despir da noite (“O amanhecer despe a noite como uma camisa de cambraia.” ; “ O amanhã trará no colo uma braçada de flores.”)
Poder-se-ia pensar que se trata de uma escrita triste, soturna, mas não, estamos perante uma escrita sensorial e intimista. A noite é melancolia, desassossego, inquietude, solidão, silêncio, abrigo, nudez, amor, corpos, cores, frutos, flores, mar, vento, espuma… 

A noite é confidente, é cúmplice (“Noite semente, companheira, lugar, / amante que nos alberga e nos enlaça.”), é a personificação do “eu” (“Nos meus lugares espalhados. / Em partículas de mim. Eu. O outro nome da noite.”), mas também do “outro” (“o teu nome é a noite”; “ Este quarto tem a textura da noite. / Os dedos escrevem-te, beijam-te e/ tornam presentes os rumores da tua ausência.”). 



E termino com este monóstico que serve de legenda a uma das 7 fotografias: "A lua cuida sempre de quem adormece nas linhas de um livro".