Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel António Pina. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel António Pina. Mostrar todas as mensagens

30 julho, 2024

Um sítio para pousar a cabeça,

 

                                                                              GR




(...)

À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.


Manuel António Pina


31 dezembro, 2023

As escadas, Manuel António Pina



                                               George Brassaï - Les escaliers de Montmartre - 1938




As Escadas


Toma, este é o meu corpo, o que sobe as escadas
em direção à tua escuridão, deixando-me,
ou a alguma coisa menos tangível,
no seu lugar.

Também elas envelheceram, as escadas,
também, como eu, desabitadas.
Anoiteceu, ao longe afastam-se passos, provavelmente os meus,
e, à nossa volta, os nossos corpos desvanecem-se como terras estrangeiras.



Manuel António Pina



06 outubro, 2014

Leituras de setembro


    

Vol. II  
                                                  Vol. III


               


De todas estas leituras, destaco o livro de Saramago por ser a sua derradeira escrita. Livro pleno de ironia, só que desta vez soube a pouco... 


                             


19 outubro, 2012

3 poemas de Manuel António Pina


                                               Imagem retirada do blog "Guardador de livros"


Algumas coisas

A morte e a vida morrem
e sob a sua eternidade fica
só a memória do esquecimento de tudo;
também o silêncio de aquele que fala se calará.

Quem fala de estas
coisas e de falar de elas
foge para o puro esquecimento
fora da cabeça e de si.

O que existe falta
sob a eternidade;
saber é esquecer, e
esta é a sabedoria e o esquecimento.

in Aquele que Quer Morrer, Regra do Jogo, 1978



Na biblioteca

O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,


quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,


em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,


as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.


Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
‘E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.’


in Poesia, Saudade da Prosa - uma antologia pessoal , Assírio & Alvim, 2011


 

Todas as palavras

As que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração,
e não reconheci,
ou desistiram e
partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
e as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e
substantivos de que
por um momento foi feito o mundo
e se foram levando o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.


 

 
in Todas as palavras - poesia reunida, Assírio & Alvim, 2012

Morreu Manuel António Pina (1943-2012)

Manuel António Pina tinha 68 anos
Imagem Lusa
 
 
Morreu esta tarde no Porto o poeta Manuel António Pina, 68 anos, Prémio Camões 2011. A sua obra poética está reunida no volume Todas as Palavras (2012), editado pela Assírio & Alvim.
 
 
Manuel António Pina, 68 anos, nasceu no Sabugal em 1943, e licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Para além de poeta também um consagrado autor de literatura infanto-juvenil. Ao longo de mais de 30 anos foi colunista do Jornal de Notícias. A sua obra está publicados em Espanha, França, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Croácia, Bulgária, Rússia e Estados Unidos.
 
Manuel António Pina estreou-se na poesia em 1974 com o livro “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde”. No ano anterior publicara o seu primeiro livro para crianças, “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”.
 
Reconhecido como um dos melhores cronistas de língua portuguesa, Manuel António Pina publicou dezenas de livros de poesia e de literatura para crianças, mas só em 2003 se aventurou na ficção “para adultos”, com “Os Papéis de K.” O seu mais recente livro é "Todas as palavras - Poesia reunida", publicado este ano.
 
Além do Prémio Camões que lhe foi atribuído em 2011, Manuel António Pina foi distinguido ao longo da sua longa carreira literária e jornalística com inúmeros prémios, nomeadamente o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978) ; Prémio Gulbenkian (1987); Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas (1993); Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários" (2002); Prémio de poesia Luís Miguel Nava (2003) e Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (2005).
 
A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.