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09 agosto, 2023

Mário Cesariny (09 | 08 | 1923)

                                                                         Foto GR


Onde um braço teu me procura.


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


Mário Cesariny, in Pena Capital


28 janeiro, 2019

Burgueses somos nós todos ou ainda menos de Mário de Carvalho



SINOPSE


Um marido recalcitrante ludibriado pela mulher defunta; um casal num jantar de amigos, elas amigas íntimas dele; um recém-viúvo percorrendo a lista das suas conquistas mais assíduas, dois homens de meia-idade rememorando no luxo das suas casas os tempos de jovens revolucionários; doutores, engenheiros, administradores em tensão, todos em certa vivenda às Avenidas Novas, banco de grandes investimentos; uma enfermaria de hospital; cortejo e exéquias; engates de esquina; os filhos dos outros; traições e uma vingança sórdida; retalhos de vida, de uma sociedade, de um Portugal desencantado, sob o olhar sempre irónico de Mário de Carvalho.


OPINIÃO



“Burgueses somos nós todos ou ainda menos”, título retirado de um poema de Mário Cesariny (abaixo publicado), é um livro de onze narrativas curtas. Nestes contos o autor, através de uma escrita subtil e irónica, apresenta-nos “histórias de burgueses desencantados”, isto é, sobre a sociedade que o rodeia. 

É sempre com prazer que abordo a prosa de Mário de Carvalho quer pela temática tratada de forma sublime quer pelo vocabulário variado e invulgar que me obriga a usar o dicionário para verificar o sentido das palavras usadas que tão bem se aplicam à descrição dos ambientes e das personagens narrados. 
Raio de Luz


Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.

Burgueses somos nós todos
ó literatos.
Burgueses somos nós todos
ratos e gatos.

Burgueses somos nós todos
por nossas mãos.
Burgueses somos nós todos
que horror irmãos. 

Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.

Mário Cesariny, «Nobilíssima Visão»



06 novembro, 2013

Casa da Liberdade - Mário Cesariny






A CASA DA LIBERDADE - MÁRIO CESARINY é um espaço artístico, polivalente, com características museológicas, que presta homenagem ao poeta e pintor surrealista Mário Cesariny de Vasconcelos. 

Localiza-se no centro histórico da cidade de Lisboa, em Alfama e em articulação com a Perve Galeria, que lhe é contígua, acolhe um espólio artístico e documental legado pelo artista que lhe dá nome e uma coleção que começou a ser reunida nos anos 90, constituída por diferentes núcleos temáticos, dedicados a áreas artísticas distintas.

 É de um espaço multifacetado que tem por base o conceito aglutinador de liberdade de Mário Cesariny e mais do que obras que se inscrevam no que se pode definir por Surrealismo ‘ortodoxo’, nesse espaço, são apresentadas obras cujo horizonte é delineado pela liberdade, seja ela formal, narrativa, epistemológica, ideológica, conceptual, política, ou religiosa.

Ver iniciativas: aqui


BN CL 1

12 março, 2013

Os Poetas: Entre Nós e as Palavras


 
 
O CD "os poetas: entre nós e as palavras é finalmente reeditado. Há muito que se encontrava esgotado.  Trata-se de um projeto de Rodrigo Leão e Gabriel Gomes  com poemas de Al Berto, Mário Cesariny,  Herberto Hélder,  Adília Lopes,  António Ramos Rosa e Luiza Neto Jorge.  
 
O projecto "OS POETAS" surgiu de encontros entre Rodrigo Leão, Gabriel Gomes e Hermínio Monteiro, então editor da Assírio & Alvim, em cujo espólio existiam gravações de poetas a dizerem os próprios poemas.

O CD "Entre Nós e as Palavras", de 1997, foi o resultado de meses intensos de composição, de uma afinidade com os poetas escolhidos e da amizade  entre os dois músicos. 

 Durante o ano de 2012, compuseram novas músicas e reformularam o espectáculo, projectando os textos e chamando o actor Miguel Borges para dizer poemas.


 Sendo a palavra importantíssima, e ponto de partida para a composição - ela é o comandante deste "Navio de Espelhos" - a música não é um mero suporte, pois acaba por se fundir com os poemas. À música falada mistura-se a performance, resultando num espectáculo único e encantatório.
 

09 agosto, 2012

Um poema de Mário Cesariny




O poeta chorava...

O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
nelas buscava Uma estrela   talvez a salvação?
O poeta era sinceríssimo
honesto
total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões



E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista
comprou jornais foi para casa leu tudo
quando chegou à página dos anúncios
o poeta teve um vómito que lhe estragou
as únicas que ainda tinha
e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro
mas é inevitável é um bem é uma dádiva



Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza
negai-lhe o amor que ele mesmo abandona
caçai-o entre a multidão
crucificai-o de novo mas com mais requinte.
Subsistirá. É pior do que isso.
Prendei-o. Viverá de tal forma
que as próprias grades farão causa com ele.
E matá-lo não é solução.
O poeta
O Poeta
O POETA DESTROI-VOS



Mário Cesariny

09 maio, 2012

Um poema de Mário Cesariny



Vladimir Kush


Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny