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31 janeiro, 2024

𝑽𝒊𝒂𝒈𝒆𝒏𝒔, de Olga Tokarczuk



Autora: Olga Tokarczuk
Título: Viagens
Tradutora: Teresa Fernandes Swiatkiewicz
N.º de páginas: 343
Editora: Cavalo de Ferro
Edição (8.ª): Dezembro 2020
Classificação: Viagem/reflexões
N.º de Registo: (BE)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Este Viagens escrito de forma fragmentada vai ganhando consistência e sentido à medida que avançamos na leitura. Temos textos narrativos intercalados de reflexões, de ensaios científicos, de pequenos apontamentos, registos, cartas, fotografias, mapas… textos brevíssimos, curtos, longos, incompletos, descontínuos, retomados mais à frente, como se de uma manta de retalhos se tratasse.

Nestas viagens não há turismo na verdadeira acepção da palavra. Há, sim, o olhar da autora sobre locais, pessoas, objectos do quotidiano, emoções, ciência, anatomia (corpo humano, recolha de órgãos, conservação e plastinação de corpos) religião, loucura, amor, psicologia,…
“ –Há coisas que acontecem por si mesmas, há viagens que começam e acabam em sonhos e há viajantes que respondem ao chamamento balbuciante do seu próprio desassossego.” (p. 86); “ a possibilidade infinita de viajar pelo corpo de um organismo” (p. 115);

Não é fácil acompanhar a viagem mental da autora. Várias vezes, sentimos necessidade de reler um parágrafo, um texto, de revisitar “uma viagem”, de conferir/completar uma informação, para assim irmos tecendo a manta de trezentas e tal páginas.
Olga Tocarczuk encara nesta obra, “o significado metafórico dos lugares”, isto é “o caminho individual de cada viajante e do sentido profundo da sua viagem.” (p. 150).
Cabe a cada um descobrir a viagem que pretende fazer nem que seja através de um filme, de um livro, de uma pintura, de um sonho, de uma conversa.
“Existe uma importante síndrome que recebeu o nome de Stendhal e que consiste em visitar um lugar conhecido através da literatura ou da arte e vivenciá-lo de modo tão intenso que se chega a desmaiar ou a sentir fraqueza.” (p.153)

Recomendo a leitura. Trata-se de um belíssimo manancial de informação, aprendizagem e divagação.






13 fevereiro, 2022

𝑪𝒂𝒔𝒂 𝒅𝒆 𝑫𝒊𝒂, 𝑪𝒂𝒔𝒂 𝒅𝒆 𝑵𝒐𝒊𝒕𝒆, de Olga Tokarczuk

 



Autora: Olga Tokarczuk
Tradutora: Teresa Fernandes Swiatkiewicz
Título: Casa de Dia, Casa de Noite
N.º de páginas: 347
Editora: Cavalo de Ferro
Edição: Junho 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

Para quem já conhece um pouco a obra da autora, não estranha a estrutura deste livro. Como se de um puzzle se tratasse, a narrativa desfila em histórias que se vão alternando, cruzando, completando. Fica a ideia que tal como para as fotografias tiradas por R. será necessário “compor com todas elas um só céu”, (p. 347) as suas histórias também só farão sentido depois de todas lidas.

É um livro que levanta sobretudo questões e que raras vezes dá respostas, que propõe reflexões, que inquieta e obriga a interiorizar certas vivências e que abre novas perspectivas sobre temáticas como a relação do ser humano com o seu próximo, com os animais, com a natureza e sobre a inevitável passagem do tempo, a imortalidade, a contemplação, o silêncio, …

A narradora vai descrevendo os poucos habitantes de Nowa Ruda, “Cidade do vale, das encostas e dos cumes. (…) Cidade onde o anoitecer chega subitamente vindo das montanhas e desaba sobre as casas como uma monstruosa rede de borboletas. (…) Cidade silesiana, prussiana, checa, austro-húngara e polaca. Cidade de periferias. (…) Cidade onde o tempo anda à deriva, as notícias chegam com atraso e os nomes confundem.” (pp. 338 e 339).

A sua descrição incide na singularidade de certas personagens e nas suas histórias fabulosas; nos vários enredos anedócticos e por vezes incompletos; nos relatos oníricos e transcendentes; na explanação de várias matérias históricas, sociais, cosmológicas e ambientais.

Toda a sua escrita revela um estilo e um olhar muito próprio do mundo, uma sensibilidade por outras formas de vida, por outras formas de encarar a existência. É uma escrita que apresenta as coisas de uma forma inabitual, que faz pensar e que provoca imensas dúvidas.
“ - o nosso mundo é povoado de pessoas adormecidas que morreram e sonham que estão vivas.” (p. 166)

Há histórias de uma beleza estonteante das quais sublinhei e retirei imensas passagens.


19 março, 2020

Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk




OPINIÃO:

Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos é um romance desconcertante, é uma mescla de géneros e de assuntos já que aborda crimes, política, intervenção ambiental, astrologia, e também literatura. 
Numa povoação rural na Polónia junto à fronteira checa, onde o inverno é longo e bastante rigoroso, a professora reformada, Janina Duszejko, vai narrando as suas actividades do dia-a-dia, os seus passeios pela floresta, as suas maleitas e a sua teoria sobre as mortes que vão ocorrendo. Na sua opinião, são os animais e a natureza que se vingam do comportamento humano. 
O enredo vai-se desenvolvendo e o leitor vai ficando cada vez mais preso a esta narrativa e à personagem que tem tanto de lúcida como de louca. Gosto sobretudo da sua loucura. 

“Não contes essa tua teoria a ninguém. É muito improvável e pode prejudicar-te. (…)
Fiquei a pensar que também ele me tomava por louca, como toda a gente, e isso magoou-me.”

A autora recorre à ironia para criticar alguns comportamentos, põe em causa a actuação do homem perante a natureza e os direitos dos animais. 
É uma abordagem diferente, interessante que nos faz reflectir.