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30 dezembro, 2023

«𝑪𝒂𝒓𝒐 𝑷𝒓𝒐𝒇𝒆𝒔𝒔𝒐𝒓 𝑮𝒆𝒓𝒎𝒂𝒊𝒏» 𝑪𝒂𝒓𝒕𝒂𝒔 𝒆 𝑬𝒙𝒄𝒆𝒓𝒕𝒐𝒔, de Albert Camus

 


Autor: Albert Camus
Título: «Caro Professor Germain» Cartas e Excertos
Tradutora: Maria Etelvina Santos
N.º de páginas: 81
Editora: Livros do Brasil
Edição: Setembro 2023
Classificação: Cartas 
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Duas partes constituem este pequeno e tocante livro. As cartas trocadas entre o autor e o seu professor da escola primária (agora 1.º ciclo) e um capítulo “A Escola” do seu livro ainda em rascunho e inacabado O Primeiro Homem.

Considero este livro como uma verdadeira homenagem aos professores e à escola pública. A relação entre aluno e professor testemunhada nas cartas revela sentimentos ternos, afectuosos, de reconhecimento, gratidão e respeito mútuo. Ambos revelam um forte amor à escola, o professor pelo empenho, ensinamentos e benevolência (“ amava os meus alunos e, de todos eles, um pouco mais aqueles que a vida desfavorecera”); o aluno pela alegria e empenho que dedicava já que nas aulas podia saciar a sua fome de descoberta e de aprendizagem.

As cartas são tendencialmente curtas, claras e simples. As fórmulas usadas “Meu caro rapaz” e “Caro Professor Germain” confirmam o grande apreço e carinho que os une. Em todas, Camus agradece ao seu mestre por ter acreditado e investido nas suas capacidades e de lhe ter aberto as portas para um futuro melhor.
Na segunda parte (autobiográfica), o episódio que envolve a avó e a mãe é narrado em pormenor. Não vou adiantar muito mais, pois entendo que retiraria ao leitor o prazer da descoberta. Convido-vos, sim, a lê-lo.
Transcrevo, contudo, uma carta que considero marcante e que reverbera o que já disse.
Trata-se de uma humilde e breve missiva escrita no dia 19 de novembro de 1957, um mês após a anunciada atribuição a Albert Camus do Prémio Nobel da Literatura (p. 34).

«Caro Professor Germain,

Deixei que acalmasse um pouco todo o ruído que me envolveu nos últimos dias, antes de vir falar-lhe um pouco e de coração aberto. Acabam de me conceder uma grande honra, que não busquei nem pedi.
Mas quando soube da notícia, o meu primeiro pensamento, depois da minha mãe, foi para si. Sem o senhor, sem essa mão afetuosa que estendeu à pequena criança pobre que eu era, sem o seu ensinamento e exemplo, nada disto me teria acontecido.
Não imaginava para mim um mundo com essa espécie de honra, mas ele veio criar, pelo menos, uma ocasião para lhe dizer o que o senhor foi e sempre continuará a ser para mim, e testemunhar que os seus esforços, o seu trabalho e o coração generoso sempre neles presentes estão ainda vivos num dos seus pequenos alunos que, apesar da idade, nunca deixou de ser seu aluno reconhecido.

Abraço-o fortemente,
Albert Camus”

Recomendo a leitura deste e de outros livros do autor. Já li alguns, tenciono ler mais e fiquei com vontade de adquirir e ler O Primeiro Homem.




27 dezembro, 2023

Nobel da Literatura | 1941 - 1960

 




1941, 1942 e 1943

Nenhum Prémio Nobel foi concedido nestes ano.


1944 - Johannes Vilhelm Jensen (1873–1950) | Dinamarca | Drama, Conto

“Pela rara força e fertilidade de sua imaginação poética com a qual se combina uma curiosidade intelectual de amplo alcance e um estilo ousado e recém-criado”


1945 - Gabriela Mistral (1889–1957) | Chile | Poesia

“Pela sua poesia lírica que, inspirada por fortes emoções, fez de seu nome um símbolo das aspirações idealistas de todo o mundo latino-americano”


1946 - Hermann Hesse (1877–1962) | Alemanha, Suíça | Romance, Poesia

“Pelos seus escritos inspirados que, embora crescendo em ousadia e penetração, exemplificam os ideais humanitários clássicos e as altas qualidades de estilo”


1947 - André Paul Guillaume Gide (1869–1951) | França | Romance, Ensaio

“Pelos seus escritos abrangentes e artisticamente significativos, nos quais os problemas e condições humanas foram apresentados com um amor destemido pela verdade e uma percepção psicológica aguçada”


1948 - Thomas Stearns Eliot (1888–1965) | Reino Unido | Poesia

“Pela sua notável e pioneira contribuição para a poesia atual”


1949 - William Faulkner (1897–1962) | Estados Unidos | Romance, Conto

“Pela sua contribuição poderosa e artisticamente única para o romance americano moderno”


1950 - Earl (Bertrand Arthur William) Russell (1872–1970) | Reino Unido | Filosofia

“Como reconhecimento pelos seus variados e importantes escritos nos quais defende os ideais humanitários e a liberdade de pensamento”


1951 - Pär Fabian Lagerkvist (1891–1974) | Suécia | Poesia, Romance, Conto, Drama

“Pelo vigor artístico e verdadeira independência de espírito com que se esforça na sua poesia para encontrar respostas para as eternas questões que confrontam a humanidade”


1952 - François Mauriac (1885–1970) | França | Romance, Conto

“Pelo profundo discernimento espiritual e pela intensidade artística com que em seus romances penetrou no drama da vida humana”


1953 - Sir Winston Leonard Spencer Churchill (1874–1965) | Reino Unido | História, Ensaio, Memórias

“Pelo seu domínio da descrição histórica e biográfica, bem como pela brilhante oratória na defesa de valores humanos exaltados”


1954 - Ernest Miller Hemingway (1899–1961) | Estados Unidos | Romance, Conto, Roteiro

“Pelo seu domínio da arte da narrativa, mais recentemente demonstrado em O Velho e o Mar, e pela influência que exerceu no estilo contemporâneo”


1955 - Halldór Kiljan Laxness (1902–1998) | Islândia | Romance, Conto, Drama, Poesia

“Pelo seu vívido poder épico que renovou a grande arte narrativa da Islândia”


1956 - Juan Ramón Jiménez (1881–1958) | Espanha | Poesia

“Pela sua poesia lírica, que em língua espanhola constitui um exemplo de alto espírito e pureza artística”


1957 - Albert Camus (1913–1960) | França | Romance, Conto, Drama, Filosofia, Ensaio

“Pela sua importante produção literária, que com seriedade clarividente ilumina os problemas da consciência humana do nosso tempo”


1958 - Boris Leonidovich Pasternak (1890–1960) | União Soviética | Romance, Poesia, Tradução

“Pela sua importante conquista tanto na poesia lírica contemporânea como no campo da grande tradição épica russa”


1959 - Salvatore Quasimodo (1901–1968) | Itália | Poesia

“Pela sua poesia lírica, que com fogo clássico exprime a trágica experiência da vida no nosso tempo”


1960 - Saint-John Perse (1887–1975) | França | Poesia

“Pelo voo alto e pelas imagens evocativas da sua poesia que reflete de forma visionária as condições de nosso tempo”





29 abril, 2023

𝑺𝒊𝒅𝒅𝒉𝒂𝒓𝒕𝒉𝒂, de Hermann Hesse





Autor: Hermann Hesse
Título: Siddhartha (um poema indiano)
Tradutor: Pedro Miguel Dias
N.º de páginas: 127
Editora: Colecção Mil Folhas - Público
Edição: Maio 2002
Classificação: Romance
N.º de Registo: (1344)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐



A trama do livro decorre no século VI d.C. e narra a história de um jovem, filho de um brâmane que decide sair de casa à procura do EU, numa busca interior incessante, à procura da felicidade e da verdade. Siddhartha que levava uma vida privilegiada, era jovem, belo, sábio, mas não era feliz: “o espírito não estava satisfeito, a alma não estava aquietada, o coração não estava pacificado.” (p. 9). Ávido de conhecimento, Siddhartha coloca-se inúmeras questões e sente necessidade de partir, de tudo abandonar, de procurar um outro caminho que lhe permita entrar no seu Eu, na sua interioridade.

É esse caminhar de busca, de aprendizagem, de “autonegação através da dor, através do sofrimento voluntário e da derrota da dor, da fome, da sede, do cansaço” (p. 17) que vamos acompanhando ao longo da narrativa. O jovem viverá, numa primeira fase, uma vida de privações, completamente ascética, da qual se cansa e parte em busca de mais conhecimento. Nesse novo caminho vai apaixonar-se e aprender o jogo das sensações, os segredos do amor, o mundo dos negócios, levando uma vida de volúpia, de opulência e de cobiça. Percebendo que é incapaz de amar, e que ali também não atingirá a perfeição, parte novamente e só junto de um barqueiro encontrará a serenidade tão desejada porque deixa finalmente de lutar contra o destino. Com ele aprenderá a ouvir a linguagem do rio, isto é, a metáfora da corrente da vida.

É um livro de aprendizagem, que transmite valores como a simplicidade, a humildade, a autoconfiança, a paciência, o saber ouvir.

O subtítulo “Um poema indiano”, de que gosto sobremaneira, exprime bem a beleza poética do texto, o equilíbrio, a perfeição quer na escrita quer na mensagem transmitida que nos leva a pensar nas nossas próprias escolhas, decisões e experiências e nos ensina que “podemos partilhar conhecimentos, mas não a sabedoria.” (p.120)

A obra está repleta de simbologia e de conceitos da filosofia hinduísta-budista, tais como o Karma, o Nirvana e a Roda de Sansara. Siddhartha simboliza o filósofo, o amante do conhecimento, o viajante eterno sem medos e limitações em busca da perfeição.
Recomendo muito.



12 abril, 2020

La Peste, de Albert Camus


OPINIÃO

Li este livro há muitos anos como leitura obrigatória. Não tinha maturidade suficiente para alcançar a dimensão da mensagem. Sabia que lhe daria uma segunda oportunidade, e esse momento chegou, estabelecendo um paralelismo entre a peste que na narrativa assolou Oran (Orão), em 1940, e o Covid 19 que vivemos presentemente. A situação é bem diferente em termos de conhecimentos científicos, de condições sanitárias, de comunicação, entre muitos outros aspectos, mas em termos comportamentais há muitas semelhanças como, por exemplo, a ligeireza como se abordou, no início, a doença, negando os riscos de contaminação exponencial, o incumprimento das normas, as tentativas de saída da cidade, a evolução da inquietação, do medo, das mortes. 

Camus escreveu este livro nos anos 40 (publicado em 1947), durante a Segunda Guerra Mundial, pelo que a narrativa é uma alegoria à ocupação alemã. Os franceses ocupados foram subjugados, perseguidos, torturados, mortos e muitos viveram escondidos e exilados na expectativa de uma reviravolta libertadora. Ele próprio colaborou na Resistência francesa, em luta contra os opressores nazis. 
Neste romance de enorme profundidade, o narrador é claro e objectivo, por vezes, distante e frio. A cidade assolada pela peste é descrita de forma soberba. O medo dos habitantes confinados, o sofrimentos dos doentes, o envolvimento dos que se encontram na linha da frente (destaco o médico Bernard Rieux), os riscos que correm na luta diária e desigual, o racionamento de bens alimentares e, por fim, a morte. Mas temos também momentos de grande solidariedade, de altruísmo e de amizade. Gosto sobretudo da forma como ele expõe o carácter humano. Há personagens magníficas (para além do já citado médico, há Tarrou, Cottard, Rambert, Grand e o padre Paneloux). 

No final da “crónica”, o narrador afirma que a peste não acaba, não morre, apenas se esconde para reaparecer um dia. Transpondo esta conclusão para os dias de hoje, poder-se-á questionar “o que é que vai mudar na nossa vida, na nossa sociedade depois desta epidemia? “ 

É de facto impressionante como esta obra é intemporal. Passados cerca de 75 anos, o mundo está a viver uma situação quase idêntica, isto é, uma sociedade confinada, a sofrer com o medo do futuro e a chorar as perdas humanas. É necessário chegar a uma situação extrema para reflectirmos sobre a vida, sobre as relações humanas, sobre os laços familiares.






12 dezembro, 2018

Verdade ao Amanhecer de Ernest Hemingway




Romance póstumo de Ernest Hemingway, publicado pelo filho após alguns cortes ao original, mas sem uma apurada revisão da escrita. Por essa razão, verificam-se algumas imperfeições que certamente o autor teria corrigido ou melhorado. Ficam, no entanto, as deslumbrantes descrições da natureza, da caça aos animais selvagens, dos conflitos entre as diferentes tribos/ etnias africanas, dos costumes e tradições e do relacionamento entre africanos e europeus. 

Numa mescla de realidade e ficção, Hemingway relata o período vivido com a sua mulher Mary no Quénia, durante o qual desempenhou as funções de guarda-florestal e desenvolveu uma relação de lealdade e de afecto com os colaboradores africanos. É também um tempo de liberdade, de enamoramento pela paisagem africana, de leitura, de reflexão e de escrita.







07 novembro, 2013

Albert Camus - 100 anos







Escritor, jornalista e ensaísta francês, Albert Camus nasceu a 7 de novembro de 1913 em Mondovi, na Argélia. Filho de um jornaleiro meio argelino, meio francês, e de uma espanhola analfabeta, cedo se revelou um estudante exemplar tendo-se licenciado em Filosofia pela Universidade de Argel, em 1936.

Em 1937, publicou o seu primeiro livro, uma antologia de ensaios com o título L'Envers Et L'Endroit. No ano seguinte, passou a trabalhar como jornalista no Alger Républicain.


Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, Camus publicou Noces (1939), uma antologia de ensaios.

Juntou-se ao movimento da Resistência Francesa e, em 1942, publicou um dos seus principais romances, L'Étranger, obra que  dava início ao estudo do absurdo, uma constante no seu trabalho, e que representava a prova aparente, segundo Camus, da não existência de Deus.


Em 1942, publicou o ensaio filosófico LeMythe de Sisyphe: Essai Sur L'Absurde. Neste ensaio  juntou o conceito do suicídio ao conceito do marasmo do absurdo da vida (conceito que havia de caracterizar a problemática existencial de toda uma geração de autores e pensadores).

Em 1943, juntamente com o escritor Jean-Paul Sartre, fundou o jornal de esquerda Combat, de que foi editor até 1947, ano em que publicou o seu terceiro romance,  La Peste, uma alegoria à ocupação da França pelos Nacional-Socialistas em que os comportamentos humanos em situações extremas são cuidadosamente analisados. 

Rompendo pouco tempo depois com Jean-Paul Sartre, líder da corrente existencialista, Camus publicou, em 1951, L'Homme Revolté, ensaios dedicados à génese histórica do Ateísmo.

Com o título La Chute,  em 1956, retoma   a problemática da justiça humana, sempre em torno da célebre frase de Dostoievski: "Se Deus não existisse, tudo seria permitido".

Em 1957 foi Galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

Albert Camus faleceu prematuramente, a 4 de janeiro de 1960, num acidente de viação. 


Obras
 
- Révolte dans les Asturies (Revolta nas Astúrias) ,1936, Ensaio de criação colectiva.
- L'Envers et l'Endroit (O Avesso e o Direito), 1937, Ensaio.
- Noces (Núpcias), 1939 antologia de ensaios e impressões.
- Réflexions sur la Guillotine (Reflexões sobre a Guilhotina), 1947.
- L'Étranger (O Estrangeiro), 1942, romance.
- Le Mythe de Sisyphe O mito de Sísifo), 1942, ensaio sobre o absurdo.
- Les justes (Os justos), Peça em 5 actos, Editor Gallimard, 2008.
- Le Malentendu (O malentendido), 1944, Peça em três actos.
- Lettres à un ami allemand (Cartas a um amigo alemão), publicadas com o pseudónimo de Louis Neuville, Editor Gallimard. 
- Caligula (Calígula) (primeira versão em 1941), Peça em 4 actos.
- La peste (A peste), Editor Gallimard, 1972.
- L'État de siège (Estado de sítio), (1948), Espectáculo em três partes.
- L'Artiste en prison (O Artista na prisão), 1952 prefácio sobre Óscar Wilde.
- Actuelles (Atuais) I, Crónicas,1944-1948", 1950.
- Actuelles (Atuais) II, Crónicas, 1948-1953.
- L’homme révolté (O homem revoltado), 1951.
- L'Été (O Verão), 1954, Ensaio.
- Requiem pour une nonne (Réquiem para uma freira).
- La chute (A queda), Editor Gallimard, 1972. 
- L'Exil et le Royaume (O exílio e o reino), Gallimard, 1957 contos: (La Femme adultère (A mulher adúltera), Le Renégat (O Renegado), Les Muets (Os Mudos), L'Hôte (O Hóspede), Jonas.
- La Pierre qui pousse (A Pedra que brota).
- Os discursos da Suécia, 1957.
- Carnets I (Cadernetas I), maio 1935- fevereiro 1942, 1962.
- Carnets II (Cadernetas II), janeiro 1942-março 1951, 1964.
- Carnets III (CadernetasIII), março 1951-dezembro 1959.
- La Postérité du soleil, photographies de Henriette Grindat. Itinéraire par René Char (A posteridade do Sol, fotografias de Henriette Grindat. Itinerário por René Char, edições E. Engelberts, 1965,  nova edição Gallimard, 2009.
- Les possédés (Os possessos), 1959, adaptação ao teatro do romance de Fiódor Dostoiévski.
 - Résistance, Rebellion, and Death (Resistência, Rebelião e Morte).
- Le Premier Homme (O Primeiro Homem), Gallimard, 1994, publicado por sua filha, romance inacabado.
- La mort heureuse (A morte feliz).