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09 janeiro, 2023

𝑶 Ú𝒍𝒕𝒊𝒎𝒐 𝑪𝒂𝒃𝒂𝒍𝒊𝒔𝒕𝒂 𝒅𝒆 𝑳𝒊𝒔𝒃𝒐𝒂, de Richard Zimler

 



Autor: Richard Zimler
Título: O Último Cabalista de Lisboa
Tradutor: José Lima
N.º de páginas: 383
Editora: Oceanos
Edição: Maio 2007
Classificação: Romance histórico
N.º de Registo: (2307)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Neste primeiro livro de uma série de quatro, Richard Zimler narra detalhadamente o massacre de cerca de dois mil judeus (marranos), em Lisboa, na Páscoa de 1506, no reinado de D. Manuel.

O leitor não fica imune à crueldade dos factos ocorridos e instigados pelos frades dominicanos que incitam os cristãos ávidos de violência e de vingança em perseguição aos judeus. A veracidade histórica que perpassa ao longo da narrativa inculca, indelevelmente, ao leitor o medo, a suspeita, o ódio, a traição vividos pelos cristãos-novos que não conseguem abjurar a sua fé e que, por isso, clandestinamente continuam a praticar os seus rituais judaicos, sendo então perseguidos e atirados para a fogueira da Inquisição.

O leitor embrenhado na narrativa sente, igualmente, o cheiro das fogueiras, o cheiro nauseabundo dos corpos mortos, o cheiro do esterco que se acumula e estende nas ruas de Lisboa e assiste à fome, à seca severa e à peste que assolam na capital e matam tantas pessoas anónimas, inocentes.

Para narrar este episódio duro da nossa história, o autor enveredou por uma estrutura etiquetada de thriller. E assim, o mistério criado à volta do mestre cabalista Abraão Zarco, um dos judeus mais influentes da época, e do seu sobrinho Berequias Zarco vai permitir absorver mais facilmente toda a loucura, crueldade, intolerância e ignorância do ser humano. O enredo é um autêntico puzzle de figuras, intrigas e acontecimentos que se arrodilham ao longo da trama, mas que no final se esclarecem.

Para os apreciadores desta temática recomendo a sua leitura.



25 dezembro, 2020

Meia-Noite ou o Princípio do Mundo, de Richard Zimler

 



OPINIÃO

Este livro narra a história de John Zarco Stewart, filho de mãe judia e pai escocês, que nasceu no Porto em 1791. A acção vai decorrer sobretudo no início do século XIX (já John tem 9 anos) e relata vários episódios históricos como a perseguição aos judeus e cristãos-novos, as invasões francesas, a ascensão da Companhia das Vinhas, a escravatura no Estados-Unidos, sobretudo na Carolina do Sul. 


Para além destas referências históricas penso que é a história de John que verdadeiramente interessa. Sempre se revelou uma criança curiosa, afectuosa e traquinas. John foi crescendo rodeado de amor (pais e vizinhos e mais tarde a mulher e as filhas) e de amizade (Daniel e Violeta), mas também de traição. Contudo, é Meia-Noite, o curandeiro africano, trazido de África para o Porto pelo pai para o salvar, que lhe vai incutir valores e princípios que o sustentarão ao longo da sua vida, é ele que lhe forja uma personalidade forte e que lhe ensina a superar os seus próprios medos. 

Ao longo da narrativa vamos conhecendo as aventuras de John, os ensinamentos que vai adquirindo, as revelações do seu passado, as perdas e as conquistas, mas vamos sobretudo acompanhando o seu crescimento interior, a forma como (sobre)viveu à sombra do amor, mas também da culpa, da perda, da morte, causando-lhe ódios, revoltas, remorsos, dúvidas. 
Foram estas dúvidas que o levaram a uma busca incessante da verdade e a vencer a "hiena" que frequentemente o assaltava. 

É um romance fabuloso. É um romance que põe em evidência o carácter das pessoas, independentemente da sua cor de pele, de raça ou religião. É um romance sobre a perseguição, a opressão, a escravidão e a traição, mas também sobre o amor incondicional e sobre a fé e a crença e a esperança.