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21 novembro, 2024

Que nenhuma estrela queime o teu perfil, Sophia de Mello Breyner Andresen

 

                                                    Foto GR


Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.


Sophia de Mello Breyner Andresen



03 agosto, 2024

Mar sonoro, Sophia de Mello Breyner Andresen

 

                                                      


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Sophia de Mello Breyner Andresen

13 julho, 2024

Espera-me


                                                                        Foto GR




Espera-me


Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas
Deixarei que o teu nome
se perca repetido

Mas espera-me:
Pois por mais longos que sejam os caminhos
Eu regresso.


Sophia de Mello Breyner Andresen



30 maio, 2024

O sol e o dia brilham mas sem ti


                                                                                      Foto GR



O sol e o dia brilham mas sem ti
Talvez não sejam mais o sol e o dia.
O sol e o dia agora
Estão lá onde o teu sorriso mora
E não aqui.

Como quem colhe flores tu serena
Vais colhendo sem chorar a nossa pena
Olhas por nós sem mágoa nem saudade
E o céu azul, a luz,as Primaveras
Habitam na perfeita claridade
Em que nos esperas.


Sophia de Mello Breyner Andresen, in No Tempo Dividido




29 abril, 2024

Dia Mundial da Dança


Pierre-Auguste Renoir | Bal à Bougival | 1883




Inventei a dança para me disfarçar.
Ébria de solidão eu quis viver.
E cobri de gestos a nudez da minha alma
Porque eu era semelhante às paisagens esperando
E ninguém me podia entender.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Coral 



02 janeiro, 2024

Eis-me, de Sophia de Mello Breyner Andresen

 

                                                 Glauco Cambon |  Moon Symphony | 1927



EIS-ME


Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente


OBRA POÉTICA, Sophia de Mello Breyner Andresen




29 junho, 2023

O mar dos meus olhos

 


O mar dos meus olhos


Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética



06 novembro, 2022

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6/11/1919 – Lisboa, 2/7/2004)





Mar


Mar, metade da minha alma é feita de maresia 
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, 
Que há no vasto clamor da maré cheia, 
Que nunca nenhum bem me satisfez. 
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia 
Mais fortes se levantam outra vez, 
Que após cada queda caminho para a vida, 
Por uma nova ilusão entontecida. 

E se vou dizendo aos astros o meu mal 
É porque também tu revoltado e teatral 
Fazes soar a tua dor pelas alturas. 
E se antes de tudo odeio e fujo 
O que é impuro, profano e sujo, 
É só porque as tuas ondas são puras.


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética




06 março, 2022

Cantata de Paz, Sophia de Mello Breyner Andreson

 

Free image on Pixabay


Cantata de paz


Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.


"Vemos, ouvimos e lemos/Não podemos ignorar" é o refrão do poema escrito para uma vigília na Capela do Rato, em Lisboa, contra a guerra colonial e a favor da liberdade. Um poema que dá voz à revolta e que Francisco Fanhais musicou e cantou em 1970. 

Hoje, que a Ucrânia está a ser invadida e arrasada, é urgente revisitá-lo. 


25 dezembro, 2021

𝑨 𝑵𝒐𝒊𝒕𝒆 𝒅𝒆 𝑵𝒂𝒕𝒂𝒍, de Sophia de Mello Breyner Andresen


Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen
Título: A Noite de Natal
Ilustrador: Jorge Nesbitt
N.º de páginas: 34
Editora: Porto Editora
Edição 5.ª: Novembro 2013
Classificação: Conto
N.º de Registo: (3332)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


A Noite de Natal é um dos livros para (re)ler sempre com prazer. É um conto que nos transporta para o verdadeiro significado do Natal, isto é, para os valores da amizade, do amor e da partilha. Gestos simples que por vezes, tão rapidamente, esquecemos.
Gosto especialmente de Sophia e os seus contos legam-nos um mundo encantado e maravilhoso.


 

08 março, 2021

Dia da Mulher





O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes,

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética




06 novembro, 2019

Obra poética - Vol. 1, de Sophia de Mello Breyner Andresen



OPINIÃO

Para assinalar os 100 anos do nascimento de Sophia nada melhor do que ler a sua obra. Volto regularmente à sua poesia. Tudo nela faz sentido. É uma poesia sensível, escrita de forma clara, com palavras certas e concretas. Neste primeiro volume, o mar cruza a sua obra. O mar como lugar de liberdade. O mar associado a outros elementos como praia, noite, jardim, deuses, heróis, cidade (como oposição, como “vida suja”), casa, vento, sentimentos, poemas… 

As ondas quebraram uma a uma 
Eu estava só com a areia e a espuma 
Do mar que cantava só pra mim. 


Aparentemente simples, a sua escrita capta o real, é crítica e interventiva. Claro que a sua interpretação é subjectiva, depende de quem lê e de como se lê. Porém, surpreendente e emocionante porque o leitor, apesar da sua interpretação não consegue discernir o real do imaginado. 

Esgotei o meu mal, agora 
Queria tudo esquecer, tudo abandonar 
Caminhar pela noite fora 
Num barco em pleno mar. 

Mergulhar as mãos nas ondas escuras 
Até que elas fossem essas mãos 
Solitárias e puras 
Que eu sonhei ter

Recomendo-vos Sophia! Eu, voltarei! Porque gosto do seu apelo! 

Nas praias que são o rosto branco das amadas mortas 
Deixarei que o teu nome se perca repetido 

Mas espera-me: 
Pois por mais longos que sejam os caminhos 
Eu regresso.



05 agosto, 2019

Um poema de Sophia




PÁTRIA

Por um país de pedra e vento duro

Por um país de luz perfeita e clara

Pelo negro da terra e pelo branco do muro


Pelos rostos de silêncio e de paciência

Que a miséria longamente desenhou

Rente aos ossos com toda a lentidão

Dum longo relatório irrecusável.


E pelos rosto iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas

Palavras sempre ditas com paixão

Pela cor e pelo peso das palavras

Pelo concreto silêncio limpo de palavras

Donde se erguem as coisas nomeadas

Pela nudez das palavras deslumbradas.



- Pedra rio, vento, casa

Pranto, dia, canto, alento

Espaço raiz e água

Ó minha Pátria e meu centro


Eu minha vida daria

E vivo neste tormento


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto



Evocação de Sophia de Alberto Vaz da Silva



OPINIÃO

Alberto Vaz da Silva na introdução de Evocação de Sophia refere que o objectivo deste pequeno e belíssimo texto, escrito, em parte, para assinalar o terceiro aniversário da morte de Sophia, era “pôr em evidência os principais feixes de energias e vertentes psicológicas que em um e no outro caso melhor esclarecem a personalidade ímpar da homenageada, com o objectivo único de mais verdadeiramente a dar a conhecer e fazer admirar.”. 

Penso que o fez muito bem e de forma discreta, mas acrescentarei que para além da sua evocação há mais duas, a do prefácio escrita por Maria Velho da Costa e a do posfácio por José Tolentino Mendonça. Pelo que direi que a Evocação de Sophia está escrito a três mãos o que só engrandece o livro. Nas 17 páginas do prefácio, fica clara a cumplicidade e a amizade entre as duas amigas, Maria e Sophia. 
“Mimava-a a ela, e ela a mim, nesses dias rosados de Primavera na casa da Meia Praia”
“Pus-me então a invocar Sophia e uns seus momentos, cenas vivas, comigo.”
São estas cenas vivas que tornam este prefácio tão especial e diferente do habitual. 

A quem ama a escrita de Sophia, recomendo vivamente este livro. Para quem conhece bem a sua obra, poder-se-á afirmar que não traz nada de novo. Porém a abordagem é diferente, é subtil, é delicada. E isso encantou-me.


25 abril, 2017

25 de Abril, sempre!

                                 

25 de Abril


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo




Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'

08 março, 2016

Dia Internacional da Mulher




O mar dos meus olhos


Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Obra Poética

02 julho, 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen no Panteão Nacional





O corpo da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, falecida há dez anos, foi hoje trasladado do cemitério de Carnide para o Panteão Nacional, em Lisboa. 

A Assembleia da República, no passado 20 de fevereiro passado, decidiu por unanimidade a concessão de honras de Panteão Nacional à escritora. 

Falecida aos 84 anos, Sophia de Mello Breyner Andresen foi autora de oito títulos de literatura infanto-juvenil, de vários livros de poesia, entre os quais "O Nome das Coisas" e "Coral", de obras de ensaio, designadamente "O Nu na Antiguidade Clássica", contos, como "Histórias da Terra e do Mar", e teatro,“O Bojador” e "O Colar", tendo traduzido vários autores, como Dante e William Shakespeare.


______________


Mar

I

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


II

Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.



in Poesia, 1944













25 abril, 2014

25 de abril ... 40 anos



ilustração de Rie Nakajima


Esta é a madrugada que eu esperava
o dia inicial inteiro e limpo
onde emergimos da noite e do silêncio
e livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Adresen