29 outubro, 2021

𝑶 𝑷𝒂𝒓𝒂í𝒔𝒐 𝒔ã𝒐 𝒐𝒔 𝒐𝒖𝒕𝒓𝒐𝒔, de Valter Hugo Mãe

 

Autor: Valter Hugo Mãe
Título: O Paraíso são os outros
N.º de páginas: 44
Editora: Porto Editora
Edição: Novembro 2014
Classificação: Infantil
N.º de Registo: (2979)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Livro encantador sobre o amor e sobre as relações humanas. É pelo olhar de uma menina que vamos captando o entendimento das relações entre casais, amigos e animais. A sua inocência e naturalidade na abordagem da história transmitem-nos uma mensagem simples, mas profunda de significado.
“Os casais são criados por causa do amor. Eu estou sempre à espera de entender o que é. Sei que é algo como gostar tanto que dá vontade de grudar. Ficar agarrado , não fazer nada longe. Os casais são isso: gente muito perto.”(p. 15)

Com textos curtos e delicados e ilustrações atractivas o autor transmite às crianças uma mensagem de amor e de respeito e provoca nos adultos uma reflexão sobre a forma como cada um expressa o amor, o relacionamento com o outro.
“O amor precisa de ser uma solução, não um problema. Toda a gente me diz: o amor é um problema. Tudo bem. Posso dizer de outro modo: o amor é um problema mas a pessoa amada precisa de ser uma solução.” (p.35)

É um livro de ensinamentos. Maravilhoso! Foi difícil escolher as citações, já que todo o livro é delicioso.
“ A minha mãe explica que o amor também é namorar com cuidado.” (p.9)
“O amor é urgente. As pessoas ficam tão aflitinhas com o amor como quando querem fazer chichi.” (p.37)

23 outubro, 2021

𝑵𝒂𝒅𝒂 𝑴𝒆𝒏𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒖𝒎 𝑴𝒊𝒍𝒂𝒈𝒓𝒆, Markus Zusak

 

Autor: Markus Zusak
Tradutor: Miguel Romeira
Título: Nada Menos que um Milagre
N.º de páginas: 491
Editora: Editorial Presença
Edição: Abril 2019
Classificação: Romance
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

Terminei a leitura do livro há dois dias, mas não consegui logo escrever sobre ele. Fica-se deslumbrado perante o virtuosismo da escrita e da estrutura. Cruzando tempos (ora passado, ora presente) e histórias, o autor vai desvendado (“Por agora, só têm de saber isto.”) os encontros, os laços, as perdas, os dias felizes e conturbados da família Dunbar.

É estonteante e perturbador acompanhar as alegrias e as dores desta família. Logo no início, são-nos fornecidos indícios sobre uma morte, há a revolta e a dor vividas pelos cinco irmãos, mas há também as alegrias e o amor.
“Claro que, naquele dia, o seu adversário seriam cinco irmãos.
Nós os irmãos Dunbar.
Eu , o Rory, o Henry, o Clayton e o Thomas.
Depois daquele dia, nunca mais fomos os mesmos.” (p. 20)

Numa narrativa tão sublimemente construída só mesmo no final nos inteiramos verdadeiramente do que aconteceu. E essa é a magia do autor, a sua escrita enleva-nos e mantém-nos suspensos numa alternância de dor e de alegria, de perda e de vida, de abandono e de reencontro. Os avanços e recuos da narrativa colocam o leitor numa atitude de reflexão e obrigam-no a viver emoções fortes e a “adoptar” os irmãos Dunbar.

É uma história de redenção na qual o amor e a união familiar se sobrepõem às mágoas e aos ressentimentos.
Recomendo muito! O livro narra-nos de forma intensa a história de uma família maravilhosa.

11 outubro, 2021

𝑼𝒎 𝑫𝒊𝒂, de Morris Gleitzman

 

Autor: Morris Gleitzman
Título: Um Dia
N.º de páginas: 159
Editora: fábula
Edição: Novembro 2017
Classificação: Juvenil
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Um Dia é o primeiro livro da tetralogia sobre o Holocausto/ Segunda Guerra Mundial. Os quatro livros são recomendados pelo PNL2027 (dos 12 aos 18 anos) e foi por esta razão que decidi lê-lo.

Apesar de ser um livro juvenil, gostei de o ler. O autor aborda a temática de uma forma original, num estilo descontraído e aparentemente ligeiro.
Narrado na primeira pessoa, Félix Salinger, o protagonista, é uma criança judia, encantadora, inteligente e com uma imaginação muito fértil.
“Um dia, fugi de um esconderijo subterrâneo contando uma história. Era um bocadinho exagerada. Era um bocadinho fantasiosa. Era a minha imaginação a deixar-se levar.” (p. 97)

Como gosta muito de ler e de escrever, sempre que se depara com uma cena de violência protagonizada pelos nazis, e que devido à sua idade e inocência, não consegue compreender, imagina uma história que justifique o que presenciou.

Félix ao juntar-se a um homem (Barney) e a outras crianças resistentes, vai assistindo a dramas terríveis e no meio de tantas incertezas e privações vai criando laços de amizade e de solidariedade, mas também muitas desilusões. Já nem as suas histórias conseguem iludir a verdade dolorosa e sombria que está a viver. E não concebe que atos tão terríveis possam ser praticados por seres humanos.
“Porque é que os nazis farão sofrer assim só por causa de alguns livros.” (p. 71)

É uma história pequena, bem escrita, emocionante e perturbadora. O facto de ser narrada sob o olhar inocente de uma criança, conquista e apaixona o leitor, de qualquer faixa etária.
“ Vou dizer-te a verdade. Arranjei-te as botas porque toda a gente merece ter alguma coisa boa na vida, pelo menos uma vez.
Não sei o que dizer. É uma das coisas mais amáveis que já ouvi, mesmo em histórias.
Obrigado – segredo-lhe, mas ….
Fico confuso. De certeza que o Barney sabe que tenho montes de coisas boas na minha vida. Na verdade, até mais do que qualquer um naquela cave.” (p.119)

Fiquei com vontade de descobrir o que vai acontecer ao Félix…



07 outubro, 2021

𝑴𝒂𝒅𝒆𝒎𝒐𝒊𝒔𝒆𝒍𝒍𝒆 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒆𝒍 𝒆 𝒐 𝑷𝒆𝒓𝒇𝒖𝒎𝒆 𝒅𝒐 𝑨𝒎𝒐𝒓, de Michelle Marly

 


Autor: Michelle Marly
Título: Mademoiselle Chanel e o Perfume do Amor
N.º de páginas: 333
Editora: Planeta
Edição: Junho2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (----)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

J’adore la Belle Époque! J’adore Paris! J’adore Chanel n.º 5!

Assim, à partida, e para mim, este livro apresenta todos os ingredientes para uma boa história, se ainda lhe acrescentarmos o glamour da vida parisiense, a vida boémia de alguns artistas e a elegância de Coco, teremos certamente uma excelente composição.
Baseado em factos reais, o romance apresenta-nos uma mulher franzina e elegante, extremamente lutadora, singrou na vida à custa da sua inteligência e do seu trabalho. Foi uma mulher moderna, inovadora, generosa (mecenas de vários artistas) e livre. Uma referência no mundo da alta-costura e que marcou toda uma época.

O livro narra uma parte importante da vida de Gabrielle Chanel, na buliçosa e cosmopolita cidade onde tudo acontece. Ao longo das trezentas páginas tomamos conhecimento da sua infância infeliz e traumatizante, da sua ascensão social, dos seus sucessos profissionais, dos seus reveses amorosos, mas também partilhamos das intrigas da elite francesa intelectual e artística e sobretudo mergulhamos no mistério que envolve a criação do perfume mais famoso do mundo - o icónico Chanel n.º 5 que imortaliza o seu grande amor.

Não é um livro arrebatador, mas é interessante para quem aprecia a efervescência intelectual, artística e boémia da cidade luz. Lê-se muito bem.




02 outubro, 2021

𝑹𝒐𝒅𝒆𝒂𝒅𝒐 𝑫𝒆 𝑰𝒍𝒉𝒂, de João Miguel Fernandes Jorge

 


Autor: João Miguel Fernandes Jorge
Título: Rodeado De Ilha
N.º de páginas: 305
Editora: Relógio d'Água
Edição: Abril 2021
Classificação: Contos/Testemunhos
N.º de Registo: (3302)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Rodeado De Ilha reúne 31 textos ficcionais, ensaísticos e de viagem tendo como cenário várias ilhas dos Açores. Para além de relatos pessoais, o autor convoca para alguns dos seus textos Vitorino Nemésio – Mau Tempo no Canal aparece em vários textos – Rui Chafes, António Dacosta, Júlio Pomar...
“Neste momento, riscado que foi esse sinal de um verão que subjaz na distância, mas que será ainda capaz de erguer erupções, brilhos que guardam «saudades da terra», da ilha, das ilhas, do mar das ilhas. Nesse caderno… Foi esse caderno que trouxe para estes meus dias do verão de 2001; e em cujas páginas irei agora escrever este ao redor das ilhas, e em que me quererei saber rodeado de ilha. Rodeado de mar.” (pp.69 e 70)
Nos seus textos desenvolve temas que lhe são queridos (assim o entendi) como a paisagem açoriana, de várias ilhas, os habitantes com os seus modos, os santos e as igrejas, as expedições, o vento forte, “de rajadas” e o mar, sempre o mar ora calmo, ora agitado. Mas também nos presenteia com várias páginas de arte, de beleza artística (obras literárias, poesia, exposições – escultura, pintura)
“Na ilha, nas ilhas, perpassa ainda a sombra de Deus sob a asa de uma ave. A sua cor, breve, como a atmosfera do azul e do verde, exalta-se em António Dacosta. A sua cor, pesada de negro e arrebatada de vermelho, movimenta-se em jogo e celebração nestas pinturas de Júlio Pomar.” (p.96)

Numa escrita cuidada, JMFJ oferece ao leitor olhares, ecos, vislumbres, emoções, inquietudes (“continuo a procurar uma ilha somente como sítio privilegiado para a racionalidade da inquietude”) de si, dos outros, das ilhas, do mar, do tempo, da arte, da natureza bela e agreste; imagens, metáforas, …
“ «Uma ilha é o umbigo do mar.» Terei lido, não sei em que poeta grego. Suponho que em Seferis.” (p.109)