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05 novembro, 2011

Colóquio dedicado a Ruy Belo

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Aconteceu na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, um colóquio internacional de dois dias dedicado a Ruy Belo, a pretexto dos 50 anos decorridos sobre a primeira edição do seu livro de estreia: "Aquele Grande Rio Eufrates" (1961).

Estiveram presentes estudiosos da sua obra, mas também de especialistas da poesia portuguesa do século XX e da teoria e crítica literárias, nacionais e estrangeiros.

No encontro -- organizado por Paula Morão, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Nuno Júdice, professor da Universidade Nova de Lisboa, escritor e diretor da revista Colóquio/Letras, da Fundação Gulbenkian, e Teresa Belo, viúva do poeta --, foram abordadas diversas facetas da obra do escritor, os seus universos de referência e sobre o lugar que ela ocupa na poesia contemporânea.

@ Agência Lusa (adaptado)

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As velas da memória

Há nos silvos que as manhãs me trazem
chaminés que se desmoronam:
são a infância e a praia os sonhos de partida
Abrir esse portão junto ao vento que a vida
aquém ou além desta me abre?
Em que outro mundo ouvi o rouxinol
tão leve que o voo lhe aumentava as asas?
Onde adiava ele a morte contra os dias
essa primeira morte?
Vinham núpcias sem conto na inconcebível voz
Que plenitude aquela: cantar
como quem não tivesse nenhum pensamento.
Quem me deixou de novo aqui sentado à sombra
deste mês de junho? Como te chamas tu
que me enfunas as velas da memória ventilando: «aquela vez...»?
Quando aonde foi em que país?
Que vento faz quebrar nas costas destes dias
as ondas de uma antiga música que ouvida
obriga a recuar a noite prometida
em círculos quebrados para além das dunas
fazendo regressar rebanhos de alegrias
abrindo em plena tarde um espaço ao amor?
Que morte vem matar a lábil curva da dor?
Que dor me faz doer de não ter mais que morrer?
E ouve-se o silêncio descer pelas vertentes da tarde
chegar à boca da noite e responder

In Aquele Grande Rio Eufrates

27 fevereiro, 2009

Ruy Belo (1933-1978)


Ruy de Moura Belo, poeta e ensaísta, nasceu em Rio Maior a 27 de Fevereiro de 1933 e morreu em Queluz a 8 de Agosto de 1978.

Frequentou o liceu de Santarém e cursou Direito, na Universidade de Coimbra e depois na Universidade de Lisboa, onde se diplomou em 1956. Ainda neste ano, partiu para Roma onde se doutorou em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino com uma tese intitulada «Ficção Literária e Censura Eclesiástica».

Em Lisboa, viria a frequentar também a Faculdade de Letras, terminando em 1967 a licenciatura em Filologia Românica. Além de actividade no domínio editorial, Ruy Belo foi também professor.

Nome de destaque na poesia portuguesa contemporânea, exerceu igualmente intensa actividade de ensaísta e crítico literário.


Obra poética :

Aquele Grande Rio Eufrates (1961),
O Problema da Habitação (1962),
Boca Bilingue (1966,
Homem de Palavras(s)(1969),
País Possível (1973, antologia),
Transporte no Tempo (1973),
A Margem da Alegria (1974),
Toda a Terra (1976),
Despeço-me da Terra da Alegria (1977).

A Obra Poética de Ruy Belo encontra-se reunida em dois volumes publicados pela Editorial Presença, com organização e comentários de Joaquim Manuel Magalhães.
Um volume único com toda a obra poética intitulado Todos os Poemas, foi mais tarde editado pelo Círculo de Leitores (2000) e pela Assírio & Alvim (2001)

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Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ei-lo que avança
De costas resguardadas pela minha esperança.
Não sei quem é. Leva consigo,
Além de sob o braço o jornal,
A sedução de ser, seja quem for,
Aquele que não sou.
E vai não sei onde
Visitar não sei quem
Sinto saudades de alguém
Lido ou sonhado por mim
Em sítios onde nunca estive.

Ruy Belo