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18 setembro, 2024

𝑫𝒆𝒔𝒈𝒓𝒂ç𝒂, de J. M. Coetzee

 



Autor: J. M. Coetzee
Título: A Desgraça
Tradutor: José Remelhe
N.º de páginas: 234
Editora: D. Quixote
Edição (7.ª): Maio 2023
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3484)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Dizem que é a sua obra-prima. Se é a “sua obra-prima”, não o posso confirmar porque ainda não li todos os seus livros. Mas que é uma obra-prima, é com toda a certeza.

Desgraça narra a história de sobrevivência de David Lurie, um professor de Literatura na Universidade Técnica da Cidade do Cabo, África do Sul e retrata o conjunto de tragédias que ocorrem ao longo da obra, numa sociedade decadente.
É pela voz de um narrador colado à pele do protagonista, que nas duas primeiras linhas nos é apresentado David Lurie “Para um homem de sua idade, cinquenta e dois anos, tem resolvido bastante bem, segundo ele, o problema do sexo”.

Desde logo, Coetzee antecipa o problema que conduzirá o professor universitário a uma auto-destruição que por razões óbvias não vou divulgar. Posso, contudo, referir que num país que enfrenta uma tensão sócio racial, pós-apartheid, os preconceitos dominam, a vingança estabelece-se e as acusações sobrepõem-se à realidade. O professor de poesia romântica, homem branco, culto e grande entusiasta da cultura europeia, vai passar por um processo complexo de exoneração. Humilhado perante os seus colegas e alunos decide não se defender e abandonar o ensino. Sai da cidade e vai viver com a sua filha Lucy, numa pequena propriedade rural. A relação não é fácil entre eles. E a situação agrava-se quando David e Lucy são assaltados e agredidos de forma inominável por três homens de raça negra. A partir daqui Coetzee é sublime na exploração dos conflitos raciais marcados pela segregação e pelos costumes geracionais.
(…) foi isso que os invasores conseguiram; foi isso que fizeram a esta jovem confiante e moderna. Tal como uma nódoa, a história espalha-se pela região. Não a história dela, mas sim a deles: eles é que mandam. Como a colocaram no seu lugar, como lhe mostraram aquilo para que serve uma mulher.” (p. 125)

Coetzee, numa escrita incisiva, sóbria e sincera, coloca o leitor numa situação ambígua que, ora sente compaixão pela personagem, ora o critica pelas atitudes e decisões que toma. Ao longo da narrativa e à medida que os problemas se vão avolumando, Lurie não consegue resolvê-los, não consegue resolver-se. Tudo isto faz que o leitor anseie pelo final. E que final. Que metáfora da vida.

Recomendo muito. Para além da força das palavras nos assuntos abordados, gosto sobremaneira da forma como estruturou a narrativa e do recurso ao discurso indirecto livre e aos diálogos curtos e secos que colocam a narrativa num patamar superior.

 


28 julho, 2023

𝑶 𝑷𝒐𝒍𝒂𝒄𝒐, de J. M. Coetzee

 

Autor: J. M. Coetzee
Título: O Polaco
Tradutor: J. Teixeira de Aguilar
N.º de páginas: 149
Editora: D. Quixote
Edição: Maio 2023
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3460)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Este romance está dividido em seis capítulos e a história é narrada por entradas numeradas. Passo a explicar:

Capítulo UM
“1. A mulher é a primeira a causar-lhe problemas. Para pouco depois se lhe seguir o homem.
2. No início ele tem uma ideia perfeitamente nítida de quem é a mulher.

(…)”
Esta estrutura atribui à narrativa uma cadência como se de uma partitura se tratasse, como se fosse composta por andamentos curtos ou longos e pausas; e torna-a aparentemente, simples. Porém, à medida que o leitor avança, intui que a complexidade, apesar da escrita concisa e simples, das personagens vai num crescendo, que o carácter reflexivo se adensa e que a história de (não) amor narrada é cada vez mais desconcertante. “Há qualquer coisa de contranatura em amar sem esperar ser amado.” (p.85)

O Polaco, pianista, de setenta e dois a os, é convidado a actuar em Barcelona. Aí conhece e apaixona-se pela organizadora do evento, Beatriz, uma mulher casada, de cinquenta anos. É este relacionamento que Coetzee vai magistralmente desenvolver.
Vai manipular os sentimentos e as emoções das duas personagens causando no leitor ora empatia, ora incompreensão. E é este jogo que torna sedutora e, simultaneamente, desconcertante a relação destas duas personagens. O leitor curioso com o desfecho, não despega e diverte-se, primeiro, com a perplexidade de Beatriz perante a paixão do pianista, e, depois, com a capacidade como impõe as suas vontades, como marca os encontros e os desencontros.
Coetzee é singular na abordagem às diferenças de idade e de cultura. Usa com mestria a ironia e o sentido de humor para realçar comportamentos e emoções.
O capítulo SEIS é composto exclusivamente de cartas e a última termina com um post scriptum: “P.S: Voltarei a escrever.” E eu prometo que voltarei a ler J. M. Coetzee.

Recomendo vivamente.





27 fevereiro, 2010

Novo livro de Coetzee


Sinopse: 

«Um jovem biógrafo inglês trabalha num livro sobre o falecido escritor John Coetzee. O seu projecto é concentrar-se nos anos entre 1972 e 1977, época em que Coetzee, então na casa dos 30, compartilhava com o pai viúvo uma degradada casa rural nos arredores da Cidade do Cabo. Finalista do Booker Prize 2009.»



17 outubro, 2008

Novas leituras nas bancas das livrarias



Sinopse:

"Em O Jogo do Anjo, o catalão Carlos Ruiz Zafón explora novos ângulos da cidade onde ambientou A Sombra do Vento, sucesso que já ultrapassou a marca dos 10 milhões de exemplares em todo o mundo e, no Brasil, já figura há mais de um ano na lista de mais vendidos. Enquanto guia seus leitores por cenários familiares, como a pequena livraria Sempere e Filhos e o mágico Cemitério dos Livros, Zafón constrói uma história que mistura o amor pelos livros, a paixão e a amizade. Na Barcelona dos anos 20, David Martín é um jovem escritor fracassado, obcecado por um amor impossível e abatido por uma doença fatal. Até que vê sua sorte mudar ao receber uma oferta irrecusável. "





Sinopse:

Mestre das paixões, neste romance Sándor Márai dedica-se não aos triângulos amorosos mas a outras questões igualmente susceptíveis de despertar emoções fortes: o que une um grupo de jovens revoltados contra tudo e a tudo dispostos. E arrisca-se a levar o leitor ao centro de um enredo de erros e fúrias, cumplicidades e traições, sofrimento e cobardia – de inconfessáveis atracções e de ambíguas repulsas. Porque trata das vicissitudes e aventuras de um grupo de rapazes, ou melhor, um bando, como se definem a si próprios, no final da Primavera de 1918, numa pequena cidade da Hungria distante da frente e onde a vida, aparentemente calma, é profundamente abalada pela guerra. Entregues a si próprios enquanto os pais combatem na frente, estes rapazes decidem libertar os demónios da sua revolta impelidos por um ódio ardente contra o mundo, pela sua imaginação e pela sua arrogância –e também por um erotismo, tão mais aceso quanto mais implícito –, deixando a guerra para o mundo dos adultos e inventando jogos demasiado perigosos. Um obscuro actor que se torna o seu mentor oculto, envolvendo-os nas suas perversas tramóias, acabará conduzindo-os a um trágico e inevitável epílogo.






Sinopse

Por encomenda do seu editor, um famoso escritor sul-africano radicado em Sydney, na Austrália, escreve um livro com as suas opiniões sobre os temas mais quentes do nosso tempo: conflitos étnicos, terrorismo, globalização, desastres ecológicos, experiências genéticas. Como já não é capaz de digitar os seus próprios textos, o velho escritor contrata uma vizinha, a jovem e sedutora filipina Anya, para transcrever as fitas onde grava as suas polémicas reflexões.
Diário de Um Mau Ano entrelaça esse «livro dentro do livro» com os relatos íntimos, na primeira pessoa, de Anyae do próprio escritor. O pessoal e o universal iluminam-se reciprocamente, colocando em evidência a dificuldade de comunicação entre a tradicional cultura humanista do velho autor e a energia irreverente da jovem dactilógrafa. Entretanto, Alan, o ganancioso namorado de Anya, troça de tudo aquilo em que o escritor acredita e conspira contra ele.
Comprovando mais uma vez o seu domínio sobre várias vozes, géneros e registos narrativos, Coetzee discute ao mesmo tempo o mundo contemporâneo e a sua representação no imaginário e na literatura.