Mostrar mensagens com a etiqueta Jorge Luís Borges. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Jorge Luís Borges. Mostrar todas as mensagens

08 dezembro, 2023

𝑬𝒔𝒕𝒆 𝑶𝒇í𝒄𝒊𝒐 𝒅𝒆 𝑷𝒐𝒆𝒕𝒂, de Jorge Luís Borges

 



Autor: Jorge Luís Borges
Título: Este Ofício de Poeta
Tradutora: Telma Costa
N.º de páginas: 111
Editora: Relógio d'Água
Edição: Setembro 2017
Classificação: Textos/Palestras
N.º de Registo: (3411)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Este Ofício de Poeta revela-se uma fonte de conhecimento preciosíssima. Trata-se de um conjunto de seis palestras proferidas na Universidade de Harward, entre Outubro de 1967 e Abril de 1968.

Na primeira palestra, Borges, com simplicidade, refere que tem apenas as suas perplexidades e as suas dúvidas para oferecer, adquiridas ao longo de uma vida “a ler, a analisar, a escrever (ou a tentar escrever) e a divertir-me.” (p. 9). Para ele a poesia, escrever poesia é ”uma paixão e uma alegria” que não pode ser encarada como uma tarefa. Discorda de algumas teorias sobre a definição de poesia e apela a que se encare a vida como poesia. Se assim for, esta surge a cada esquina. Quem lê este primeiro texto fica com a ideia de que escrever poesia é fácil porque “toda a gente sabe onde há de encontrar poesia. E quando ela chega, sentimos o toque da poesia, esse especial formigueiro da poesia.” (p. 21).

Como já percebemos, Borges encara a poesia como um ofício sedutor e, assim, induz-nos a pensar a poesia a partir da vida e não só a partir dos livros. Estes “são apenas ocasiões para a poesia. (…) Na verdade, o que é um livro em si? Um livro é um objeto físico num mundo de objetos físicos. É um conjunto de símbolos mortos. E então chega o leitor certo, e as palavras – ou melhor, a poesia por trás das palavras, pois as palavras em si são meros símbolos – saltam para a vida e temos uma ressurreição da palavra.” (pp. 10, 11). Recai, assim, no leitor a responsabilidade de extrair a poesia das palavras, da vida.

Não vou desvendar mais sobre Este Ofício de Poeta, cingi-me a tecer algumas considerações baseada na primeira palestra O Enigma da Poesia que convida na sua primeira abordagem, os ouvintes das palestras e, posteriormente, os leitores a captar na leitura, e por conseguinte na Literatura, uma “ocasião de beleza”, de alegria, de paixão.

A quem entende a leitura como um verdadeiro prazer, aconselho muito este livro que nos faculta a possibilidade de ler as seis palestras apresentadas por um homem extraordinário do mundo das letras. As outras cinco palestras têm como títulos: Metáfora; Contar o Conto; Música da Palavra e Tradução; Pensamento e Poesia; O Credo de Um Poeta. Transmitem saberes, valores e estimulam a confiança e a imaginação. Nestas seis conferências, Borges vai recorrer à sua experiência e citar inúmeros livros e citações de escritores, de filósofos e de oradores para nos transmitir a sua visão da importância da leitura e da poesia, ou seja, da vida.



11 junho, 2023

𝑩𝒊𝒃𝒍𝒊𝒐𝒕𝒆𝒄𝒂 𝑷𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒍, de Jorge Luís Borges

 


Autor: Jorge Luís Borges
Título: Biblioteca Pessoal
Tradutores: Cristina Rodriguez e Artur Guerra
N.º de páginas: 155
Editora: Quetzal
Edição: Janeiro 2023
Classificação: Textos biográficos
N.º de Registo: (3465)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Borges sempre imaginou “o paraíso como uma biblioteca” (e eu também), sempre foi um amante da leitura e sempre desempenhou as funções de bibliotecário, pelo que não se coíbe de afirmar no seu prólogo “Que outros se gabem dos livros que lhes foi dado escrever; eu gabo-me daqueles que me foi dado ler(…) penso ser um excelente leitor ou, em todo o caso, um sensível e agradecido leitor. ”

Borges é considerado, por muitos, uma autoridade no vasto mundo da literatura. Em 1985, solicitaram-lhe que selecionasse cem obras que reflectissem os seus gostos literários e que escrevesse um prólogo para cada uma delas. Não concluiu a tarefa por ter falecido, contudo ainda nos legou 64 textos. São estes textos que integram este livro Biblioteca Pessoal. Ainda, no seu prólogo Borges escreveu «Ao longo do tempo, a nossa memória vai formando uma biblioteca díspar, feita de livros, ou de páginas cuja leitura foi uma felicidade para nós e que gostaríamos de partilhar. Os textos dessa biblioteca íntima não são forçosamente famosos.[…] Esta série de livros heterogéneos é, repito, uma biblioteca de preferências”.

A organização das obras sugeridas não segue nenhuma ordem específica. Se temos autores famosos como Cortázar, Kafka, Stevenson, Poe, Dostoiévski, Melville, Wilde, Flaubert, James, Ibsen, Buzatti, Gide, Conrad, Hesse, Voltaire, Rulfo, entre muitos outros que não vou citar por se tornar uma lista exaustiva (recomendo a leitura do livro) e que não estranhamos que integrem esta biblioteca pessoal, outros há, menos conhecidos, pelo menos por mim, como Papini, Machen, Eliano, Phillpottsos, Meyrink, Beckford, Serna, Garnett, também entre outros. Borges não excluiu a literatura portuguesa da sua lista e citou O Mandarim, de Eça de Queirós. A lista, bastante heterogénea, é selectiva e reflecte bem, penso eu, o seu apurado gosto pela literatura, sem deixar de surpreender, pois nem sempre as obras mais óbvias e mais conhecidas dos autores são as citadas.

Os textos (breves biografias) que escreve para cada autor são curtos e concisos, não ultrapassa as duas páginas. Todo este poder de síntese é extraordinário. Borges consegue, com mestria apresentar o escritor, a época e uma ou mais (por vezes) obras que ele considera maiores. Nada está a mais, pelo contrário, a beleza da sua escrita incute no leitor o prazer da leitura e a vontade de descobrir novos livros e novos autores.

Termino, com a frase final do próprio Borges, no seu prólogo “Oxalá que sejas o leitor que este livro aguardava.”
Só a leitura do seu prólogo é uma autêntica preciosidade. E tal como Borges, desejo que venhas a ser um leitor desta pequena obra-prima.


24 agosto, 2011

um poema de Jorge Luís Borges (112 anos)


Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"