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04 novembro, 2020

A Mulher Canhota, de Peter Handke

 


OPINIÃO


Este livro, também adaptado ao cinema por Wim Wenders (1978), retrata o desejo de uma mulher, Marianne, de se libertar da companhia do marido. A narrativa começa com um jantar a dois, seguido de uma noite íntima. Aparentemente, o casal vivia momentos de cumplicidade e de felicidade. Porém, essa felicidade é de curta duração porque ao acordar, a mulher tem “uma revelação” e diz ao marido: “Vai-te embora, Bruno. Deixa-me.” (p.19)

Assim, de forma abrupta, Marianne toma uma decisão, rompe a relação e passa a viver sozinha com o filho. E Handke centra-se na sua história. Recorre a frases curtas para nos descrever os seus actos quotidianos, as brincadeiras com o filho, os seus pensamentos, os seus encontros com o marido, o seu trabalho e relacionamento com uma amiga e outras personagens que desfilam nesta fase da sua vida (não são muitas). Algumas destas descrições poderiam ser dispensáveis porque são meras banalidades como, por exemplo, uma ida ao supermercado. Contudo, é no modo como o autor narra estes pequenos detalhes, estas banalidades que melhor entendemos a solidão e o desamparo da protagonista, bem como a sua forma de pensar e de sentir. 

Handke é exímio em retratar as relações humanas.



20 outubro, 2019

A Angústia do Guarda-Redes antes do Penalty, de Peter Handke




SINOPSE

Neste livro, em que a angústia causada pelo penalty é um metáfora da vida, aspecto sublinhado no filme sobre ele feito por Wim Wenders, Peter Handke fala-nos de um amigo guarda-redes que depois de ser despedido do emprego assassina uma mulher sua ocasional amante e deambula num mundo que parece ter perdido todo o sentido.

OPINIÃO

O livro A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty, do escritor austríaco Peter Handke (Prémio Nobel da Literatura 2019), adaptado ao cinema pelo alemão Wim Wenders, é uma metáfora da vida. 

A narrativa retrata Joseph Bloch, um canalizador que antes tinha sido um famoso guarda-redes. No dia em que é despedido do seu emprego, Bloch sai de casa e começa a deambular pela cidade. Uma angústia existencial instala-se nele e passa a ter uma vida sem sentido. Porém, a sua errância vai transformar-se em fuga devido ao assassínio que cometeu. 

Peter Handke desenvolve a sua trama descrevendo simplesmente os factos e gestos do personagem. Sem intriga, apenas errância e ambiguidade. Trata-se de um texto minimalista, com uma escrita cinematográfica, frases simples e curtas, alguns diálogos muito curtos e, por vezes, sem sentido. 

“Porque é que ele estava sempre a sentar-se, a levantar-se, a sair, a andar por ali, a voltar? perguntou a locatária.” (p. 43) 

O leitor não compreende muito bem o que leva Bloch a agir desta forma. O despedimento? O assassínio? Nada sabemos do seu passado, nada nos diz sobre a sua atitude, nem os raros pensamentos nos elucidam. Bloch tem um comportamento alienado e, gradualmente, à medida que a sua doença avança, vai perdendo consciência da realidade. 

“De novo sozinho no quarto encontrou tudo mudado. (…) Sentou-se em cima da cama: ainda mesmo agora a cadeira estava à direita dele, e neste momento estava à esquerda. Estaria a imagem do avesso? Olhou da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda. Repetiu o movimento dos olhos da esquerda para a direita e este olhar pareceu-lhe uma leitura.” (p.94) 

A sua angústia surge da distorção do real, da desordem emocional. Poder-se-á concluir que Bloch sofre de esquizofrenia? 

É na parte final que Peter Handke coloca Bloch a assistir a um jogo de futebol e obviamente descreve a atitude do guarda-redes perante um penalty. 

“É cómico ver o guarda-redes assim, sem a bola, a correr de um lado para o outro à espera da bola” disse ele (Bloch). 

Angústia, ansiedade, sucesso e derrota são emoções comuns à vida e ao futebol.