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16 setembro, 2023

𝑶 𝑻𝒂𝒎𝒂𝒏𝒉𝒐 𝒅𝒐 𝑴𝒖𝒏𝒅𝒐, de António Lobo Antunes

 


Autor: António Lobo Antunes
Título: O Tamanho Do Mundo
N.º de páginas: 284
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3405)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


“A solidão mede-se pelos estalos dos móveis à noite quando a poltrona em que me sento de súbito desconfortável, enorme, e os objectos aumentam nos naperons, inclinados para mim a escutarem (…)” é este o início do livro de ALA. Metáfora inquietante, porém objectiva, que acompanha de forma repetida (como um eco) o leitor ao longo da narrativa.

A história é narrada a quatro vozes, contudo é a voz da solidão que se impõe. O protagonista, homem doente de 77 anos vive os dias mergulhado nas suas memórias que começam a esvanecer-se. “porque a vida, já se sabe é madrasta, que coisa estranha a memória, ela de há tempos para cá ia jurar que a faltar-me, tantos espaços, de repente brancos, nada de modo que o passado se desequilibra” (p. 16).
A solidão é enorme e devastadora; a solidão é assombrada pela “dor escondida”, é medida pelos “estalos dos móveis” e pelo “pânico das ambulâncias na rua”; a solidão é “um cano que vibra no interior da parede”.
É notável a forma como nos apropriamos da narrativa e nos deixamos envolver pelos sons que medem tamanha solidão. O paradoxo só torna mais verosímil o silêncio, o vazio da casa, do quarto do hospital, do mundo.

ALA já nos habituou a uma prosa complexa escrita ao ritmo de ideias que se misturam e confundem, de um pensamento que surge, de uma pausa… Neste livro a complexidade revela-se no pendor repetitivo, exaustivo das frases, das ideias que nos enclausuram na vida, nas vidas das personagens. Não há fuga possível. E o tamanho do mundo torna-se cada vez mais pequeno, mais fechado, mais silencioso.

Recomendo a leitura.


18 outubro, 2020

Memória de Elefante, de António Lobo Antunes

 


OPINIÃO


Memória de Elefante é a estreia de António Lobo Antunes como escritor. Já com um estilo muito próprio, mas ainda em formação, que requer uma leitura atenta e cuidada. Estamos perante a história de um homem, psiquiatra, que vive um momento conturbado da sua vida. 

O livro de carácter autobiográfico é perturbador pois concentra-se no protagonista, homem de meia-idade, divorciado, que vive um intenso conflito interior. A narrativa relata os acontecimentos de um dia de trabalho, mas incide sobretudo nos seus pensamentos, memórias, saudades (da mulher e dos filhos) e dúvidas existenciais. “Mas ele, ele, ELE quando é que se lixara?” (p.27). 

A solidão, a desilusão e a revolta são os sentimentos dominantes desta narrativa. O protagonista amargurado com a vida e consigo mesmo odeia tudo, o local onde trabalha, os colegas, os pacientes, a sociedade hipócrita.
Porém, no final, surge uma réstia de esperança ou será resignação?

“Amanhã recomeçarei a vida pelo princípio, serei o adulto sério e responsável que a minha mãe deseja e a minha família aguarda, chegarei a tempo à enfermaria, pontual e grave, pentearei o cabelo para tranquilizar os pacientes, mondarei o meu vocabulário de obscenidades pontiagudas. (…) preciso de qualquer coisa que me ajude a existir.” (p.188)

 


29 agosto, 2017

Boa Tarde Às Coisas Aqui Em Baixo de António Lobo Antunes



Quando em 2003 comprei este livro, tentei lê-lo de imediato, mas não consegui avançar… nessa altura não tinha a disponibilidade nem a concentração necessárias que a leitura deste romance exige. Nestas férias, decidi retomá-lo (também para dar resposta a um desafio) e li-o de fio a pavio. O romance de António Lobo Antunes apresenta uma estrutura da narrativa complexa, pois as acções, os pensamentos e as memórias do presente e do passado misturam- se e repetem-se, as personagens multiplicam-se. Estamos numa Angola da pós-descolonização e o enredo é apresentado em três livros com prólogo e epílogo. Cada livro relata os acontecimentos de um agente de espionagem enviado pelo “Serviço” com a missão de apagar os vestígios deixados pelo agente anterior, de contrabandear diamantes e de os trazer para Lisboa. Todos falham.

O leitor é convidado a organizar as frases para melhor entender e reconstruir a história e assim desfrutar da escrita do autor que se revela muito rica e metafórica. 


23 junho, 2013

Texto lindíssimo de António Lobo Antunes - na prova de português do 12º ano






O meu trabalho está praticamente terminado. Escrevi os livros que queria, da maneira como queria, dizendo o que queria: não altero uma linha ao que fiz e, se me dessem mais cem anos de vida em troca deles, não aceitava. Era exactamente isto que ambicionava fazer. Há uns dez dias acabei o último. Se tiver tempo, e embora a obra esteja redonda
 
(sempre esteve na minha cabeça deixar a obra redonda)
 
é possível, seria possível acrescentar uma espécie de post-scriptum. Não sei se vou fazê-lo. Sai um livro em 2012, para o ano uma coleção destes textozitos, em 2014 o que agora terminei e uma última coleção destas prosinhas e acabou-se. No caso de continuar capaz farei então a tal espécie de post-scriptum. E, após isso, ninguém lerá uma só palavra posta por mim num pedaço de papel. Tenho a certeza do valor da minha obra e orgulho-me dela. Em certa medida, no entanto, não me considero o seu autor: foi-me ditada e afigura-se-me um pouco desonesto que o meu nome esteja na capa. O que rodeia a literatura, todas estas traduções, todos estes prémios, todo o ruído que acompanha o sucesso, nunca foi muito importante para mim. Não o é nada agora. Olho o monte de páginas que ficará no meu lugar na paz de um campo que tratei sozinho: resta-me voltar para casa e fechar a porta. Outros que cuidem dele se o entenderem: já não me diz respeito. Se há pessoas que olham o que construí como difícil de entender é porque não compreendem a complexidade da vida, e isso não é culpa minha, é defeito delas. Von Neumann, o descobridor da teoria dos jogos, enunciou-o claramente há anos, ao explicar o problema das variáveis vivas e das variáveis mortas. E as variáveis mortas, tal como ele o demonstrou, são quase inúteis. Basta encostar o ouvido às coisas e a nós mesmos, encostar com atenção o ouvido às coisas e a nós mesmos para nos apercebermos disso. O medo de saber apavora-nos. A ideia de tomar consciência arrepia-nos. Recusamos a possibilidade de viver no interior de nós mesmos. O facto de um livro contar uma história apazigua o nosso lado infantil. Não serve de nada salvo para nos tranquilizar. E continuarmos por fora do que nos inquieta, nos assusta, nos alerta: não escrevi a fim de trazer paz a ninguém. Não me interessou entreter nem divertir nem agitar bichos de peluche diante de pessoas crescidas. Fiz livros para adultos de pé e olhos abertos. Numa conversa com George Steiner, quando eu gabava o Monte dos Vendavais ele interrompeu-me brandamente
 
- Não acha um bocado histérico?
 
ao princípio protestei, depois calei-me, depois dei-lhe razão. O facto é que eu não tinha sabido ler. O facto é que eu tinha, sem dar conta disso, pedido um sininho para adormecer. Steiner estava certo e eu errado. Erro muitas vezes, aliás. Mas estou seguro que não errei no meu trabalho, e foi extenuante encontrar a minha voz tal como cada frase me é, me foi sempre extenuante: é a mão que escreve mas o corpo inteiro paga caro, e o cansaço físico de cada dia de escrita é imenso. Para além disso, ao corrigir, metade do que fiz, mais de metade do que fiz, segue para o lixo. Demasiada carne, demasiada gordura até chegar ao osso. A partir de agora, nem mais uma entrevista para um jornal que seja, uma televisão, uma rádio. O que tenho a dizer escrevi-o. Quem tiver olhos que leia, quem não conseguir ler desista. Todas as frases ditas pelo autor são supérfluas. E, a maior parte das vezes, pior que supérfluas: erradas. Não é possível falar racionalmente do que não é racional, explicar o que se passa antes das palavras, desarticular o que é feito de uma peça apenas e a vida do autor só para ele mesmo e, na melhor das hipóteses, para mais meia dúzia de criaturas, poderá ter interesse. A arte, mistério impenetrável, não cabe na razão lógica e qualquer tentativa de a desmontar será sempre inútil. Se fosse possível desmontá-la não seria arte. Permanecerá para sempre secreta e insolúvel. Pode bordar-se em torno mas fora da muralha, nada tem que ver com a inteligência, a razão, o raciocínio dedutivo: existe em si mesma, por si mesma e para si mesma, apenas permeável ao inconsciente e, no entanto, ao tocar-nos no inconsciente muda a nossa percepção do mundo e de nós mesmos em consequência de um mecanismo que nos escapa. Só o mistério nos faz viver, insistia Lorca, só o mistério nos faz viver.
Pelo teu amor dói-me o ar
o coração e o chapéu.

Isto, aparentemente, não significa nada e, no entanto, faz-nos vibrar como cordas. Julgo que, até hoje, foi Pitágoras quem mais se aproximou da compreensão visceral da criação. A gente lê-o, sente-o a um pequeno passo da solução e dá fé que esse pequeno passo nunca será esboçado porque não é possível avançar.
 
O meu trabalho está praticamente terminado. O resto fica por vossa conta e eu estarei muito longe já. É inevitável. Governem-se, se forem capazes, com a chave que vos deixo, se é que ela existe, ou não existe, ou existem várias, ou existem muitas, mudando constantemente. De cada vez, por exemplo, que oiço um quarteto de Beethoven oiço música nova. Como se pode agarrar, digam-me lá, o que constantemente muda?

António Lobo Antunes, "Adeus",   Visão nº 1024

16 outubro, 2011

Leituras


Começará a ser distribuído na apresentação na Quinta de Leitura (Teatro do Campo Alegre, Porto) a 27 de Outubro de 2011.
Chegará às livrarias de todo o país a 28 de Outubro de 2011.



A meio deste mês de Outubro será publicado Claraboia, o romance que José Saramago escreveu mas nunca quis publicar em vida.





"Um doloroso canto de uma mulher torturada" foi o ponto de partida para Comissão das Lágrimas, o novo livro de António Lobo Antunes. Já nas livrarias.





09 outubro, 2008

O Arquipélago da Insónia


O Arquipélago da Insónia é o título do novo romance de António Lobo Antunes que será publicado em Outubro, pela editora "Dom Quixote".