04 julho, 2021

𝑬𝒎𝒃𝒂𝒍𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒂 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑩𝒊𝒃𝒍𝒊𝒐𝒕𝒆𝒄𝒂 – 𝑼𝒎𝒂 𝑬𝒍𝒆𝒈𝒊𝒂 𝒆 𝒅𝒆𝒛 𝑫𝒊𝒗𝒂𝒈𝒂çõ𝒆𝒔, de Alberto Manguel

 



Autor: Alberto Manguel
Título: Embalando a minha Biblioteca
N.º de páginas: 143
Editora: Tinta da China
Edição: Fevereiro 2018
Classificação:Não ficção
N.º de Registo: (3258)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

É o terceiro livro que leio do autor sobre livros. Gosto de ler livros escritos por quem também gosta de livros e Alberto Manguel é um grande leitor e um apaixonado por livros. Na sua biblioteca organizada “segundo os seus próprios critérios e valores”, continha cerca de trinta e cinco mil livros. Foi, no entanto, obrigado a desfazê-la e a embalar todos os seus livros. Foi uma tarefa árdua que só concretizou com a ajuda de amigos e difícil, já que o autor considera que embalar uma biblioteca “é sepultá-la ordenadamente antes do julgamento aparentemente final.” (p. 36) e olhar para o espaço vazio é sentir “o peso da ausência num grau quase insuportável.” (p.37)
Ao embalar a sua biblioteca, o autor vai reflectindo e divagando sobre variadíssimos temas sempre ligados às suas leituras, aos livros, às bibliotecas, aos seus autores de eleição como Borges, Cervantes, Carroll, Dante, Kafka, Shakespeare, …. “Se os livros são os nossos registos da experiência e as bibliotecas os nossos repositórios de memória, um dicionário é o nosso talismã contra o esquecimento:” (p. 111)


Para ele, as suas bibliotecas “são, todas elas, uma espécie de autobiografia com várias camadas (…) a minha memória interessa-se mais pelos livros do que por mim” (p. 20)
A biblioteca privada de Manguel é um espaço de divagação, é a sua vida “sei que a minha verdadeira história, toda ela, está lá, algures nas prateleiras, e tudo o que preciso é de tempo e de sorte para a encontrar. Nunca acontece. A minha história continua a escapar-me, porque nunca é uma história definitiva.
Em parte, é assim porque sou incapaz de pensar em linha recta. Divago.” (p.16)

Como o subtítulo indica, o livro apresenta uma elegia e dez divagações. Cada uma destas divagações termina com um texto em itálico, mais pessoal, onde o autor nos expõe algumas das suas vivências e experiências e, sobretudo, o processo de esvaziamento e empacotamento da sua biblioteca. A última divagação é sobre as bibliotecas nacionais, tema que me é muito caro, já que retiro ensinamentos que posso aplicar numa biblioteca escolar, local onde diariamente dialogo e divago com os livros. De entre muitas ideias retiradas, partilho esta com a qual concordo profundamente: “O único método que leva comprovadamente ao nascimento de um leitor, não foi, tanto quanto sei, ainda descoberto. A experiência diz-me que o que resulta, ocasionalmente, embora nem sempre, é o exemplo de um leitor apaixonado. Por vezes, a experiência de um amigo, um pai, um professor, um bibliotecário claramente comovido pela leitura de uma certa página, pode inspirar, se não imitação imediata, pelo menos curiosidade. Parece-me um bom ponto de partida.” (pp. 136, 137)

Este livro é o testemunho fantástico e sincero do homem que teve de “sepultar” a sua biblioteca, e que reconhece o seu comportamento obsessivo perante os livros.
É um autêntico manifesto de amor aos livros, às bibliotecas e à literatura. Recomendo a todos os apaixonados pelos livros, pela leitura.


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