26 julho, 2021

𝑷𝒆𝒓𝒆𝒈𝒓𝒊𝒏𝒂çã𝒐, de Olivier Rolin

 


Autor: Olivier Rolin
Título: Peregrinação
N.º de páginas: 261
Editora: Sextante Editora
Edição: Agosto 2019
Classificação: Romance /Viagens
N.º de Registo: (3210)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Peregrinação, foi escrito, em parte, em Cascais onde o autor permaneceu durante uns meses numa residência literária. Este título é uma homenagem ao nosso país que o autor admira e à nossa literatura.
“Os Açores, esse arquipélago perdido no meio do Atlântico, entre Europa, Áfica e Américas, foi lá que iniciei a minha peregrinação, por acaso, como se me tivesse atirado à água…” (p. 261)
Olivier Rolin, no seu prefácio, informa-nos que sempre viajou muito por questões profissionais, “por vezes era enviado por um jornal, noutras era para me documentar para um livro, noutras ainda era por ocasião de uma tradução ou para participar numa palestra, nunca como turista.”
Refere ainda que durante trinta anos encheu cerca de sessenta cadernos e que foi neles que se inspirou para escrever este livro.
“ Há dois anos, comecei a relê-los. Das palavras (…) emergiram recordações que me deram vontade de esboçar com elas uma espécie de retrato, subjetivo e fragmentário, do mundo que é o meu e se confunde, em grande parte com a minha vida. (…) Não está organizado por nenhuma cronologia, por nenhuma data, por nenhuma coerência geográfica, apenas pelo fio fortuito da memória. Quis criar um efeito de cintilação e quase de vertigem, porque é assim o mundo: cintilante e vertiginoso.”
Efectivamente, é o que o livro nos oferece, uma belíssima viagem vertiginosa, cintilante confortável e enriquecedora. Os seus destinos fogem aos roteiros habituais do turismo.
Para além das digressões políticas, religiosas, sociais, ambientais, e literárias (há imensas referências aos seus escritores de eleição), entre outras, o autor relata-nos episódios da sua vida, alguns divertidos outros mais solitários :“Jantares solitários, em lugares onde ninguém estava à minha espera, a minha vida tem muitos.” (p. 60)

Das múltiplas incursões, “devaneios, obsessões, encontros, acasos” (p.75), imagens que representam o seu mundo, destaco uma que exemplifica o tom bem-disposto e irónico com que nos presenteou ao longo da sua “peregrinação”. Trata-se de uma belíssima “galeria de retratos, crónica de ocasiões falhadas”.
“ E isto, esta ideia de que a vida é também feita de tudo o que lhe escapou, do que a sensibilizou como a luz sensibiliza (sensibilizava) o papel fotográfico sem permanecer nele, incita-me a compor as seguintes saudações a algumas beldades com quem me cruzei, com quem apenas me cruzei, mas que contam mais na minha vida do que tantas pessoas cuja conversa me aborreceu (ou que a minha conversa aborreceu), de quem perdi a memória ao passo que me lembro destas, que foram para mim baudelairianas transeuntes que eu teria amado (mas elas não sabiam: (…).“ (p. 206)

Outro aspecto que apreciei é o constante diálogo que o autor mantém com o leitor. Estas interpelações directas criam uma simbiose muito interessante:“Podem não acreditar (azar o vosso), mas este livro está a escrever-se diante dos vossos olhos, à medida que o leem (…)” (p.34) e provocam-nos a ilusão de estarmos também em viagem. “ No meu barco de papel, em bússola, à aventura, divaguei por tempos e lugares (…).Vimos países, pessoas, ouvimos línguas a rumorejar, percorremos milhares e milhares de quilómetros (sem contar com aqueles que andei, dando voltas em frente da minha secretária… ). “ (p. 261).

Recomendo, mas acredito que este tipo de relato possa não ser do agrado de alguns leitores.
Nada como experimentar! Além do mais, podemos sempre viajar confortavelmente instalados num sofá ou deitados no areal de uma praia deste mundo!

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