16 julho, 2021

𝑳'𝑨𝒎𝒐𝒖𝒓 𝑨𝒑𝒓è𝒔, Marceline Loridan-Ivens

 

Autor: Marceline Loridan-Ivens
Título: L'Amour Après
N.º de páginas: 149
Editora: Grasset (Livre de Poche)
Edição: 2018
Classificação: autobiografia
N.º de Registo: (3304)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

Adorei este livro de Marceline Loridan-Ivens. Escrito em colaboração com Judith Perrignon, nele evoca a sua deportação, aos 15 anos, para campos de concentração (1944) e narra a sua vida como sobrevivente. Foi-lhe muito difícil aceitar que era uma das que tinha ficado para contar a sua história.
Marceline é uma mulher de garra, forte, atenta ao seu tempo, lega-nos um testemunho intenso quer na escrita quer no cinema como realizadora, primeiro ao lado do seu segundo marido, o realizador Joris Ivens, depois em nome pessoal (La petite Prairie aux Bouleaux, 2003).
Neste pequeno livro, a autora com oitenta e nove anos, através de cartas de amor, bilhetes, apontamentos, recordações que vai tirando de uma mala que manteve fechada durante 50 anos, conta-nos a sua vida, apresenta-nos os seus amigos, os seus amantes, fala-nos dos filmes que realizou e produziu, dos livros que leu, … mas o que é verdadeiramente marcante é a forma como nos descreve a sua lenta reconstrução, a difícil aceitação do seu corpo seco, murcho (“je suis asséchée”) e afectado pela violência e pela nudez vividas e presenciadas nos campos, mas também a descoberta do amor e do verdadeiro prazer.
Gosto do seu estilo frontal, sem pudor, livre, irónico. Só uma mulher de espírito aberto que integrou e marcou uma geração, em Paris, ousaria viver como ela o fez. Namorou muitos, muitos mesmo, (e nunca o escondeu), mas não foi feliz até um certo dia. Viveu sem medo, numa interrogação constante, sem se preocupar com a opinião dos outros. Para ela o amor, era não fazer o outro sofrer, era viver o dia-a-dia, aproveitar as ocasiões.
Quando uma amiga, também sobrevivente, lhe telefona e pergunta o que está a fazer? Marceline responde: trabalho sobre o amor (“je travaille sur l’amour”) (p. 144), o amor após [campos de concentração].
É um livro emocionante e perturbador. Que recomendo! Falta-me ler o anterior, Et tu n’es pas revenu, dedicado ao pai que não regressou.


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