11 janeiro, 2010

Al Berto (11.Jan.1948/13.Jul.1997)


Se um dia regressares, a terra estremecerá na memória da tua ausência. E a água formará um vasto oceano do outro lado do teu olhar. Regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor do meu sono - e o lume das horas, a pouco e pouco, saciar a boca que chama pelo teu nome. Encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de afectos e ódios. Porque os jardins são labirínticas arquitecturas mentais, onde podemos resguardar os corpos de qualquer voragem do tempo.Por isso, enquanto não regressas, construo jardins de areia e cinza, jardins de água e fogo, jardins de répteis e cassiopeias - mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.Mas se algum dia regressares, passeia-te pelo meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior - cuja obscuridade e penumbras guardaram intacto o nocturno coração.


Al Berto

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