WALTER HUGO MÃE canta com todas as letras, sobretudo as maiúsculas, com a caixa (torácica) bem alta, uma surpresa para quem ouve e para quem o conhece. É que canta mesmo, à séria, apostando no esplendor da voz, quase num acto de vaidosismo, que contradiz a sua aparente timidez. Inscreve-se assim numa lista de escritores-cantores, onde também se incluem Jack Kerouac, William Bourroughs ou, aqui por Portugal, Jacinto Lucas Pires, para não falar no grande cantor-escritor Chico Buarque. Nesta linhagem walter hugo mãe (não sei se o cantor também se escreve assim, só com minúsculas, fica a dúvida) é dos melhores. A sua voz explode entre a música, lembrando a força expressiva de um Antony. A letra de Meio Bicho e Fogo é tão complexa quanto estranha, uma mensagem arrevesada, raríssima no pop português. Um labirinto de imagens, de mensagem difusa, porventura borgiano. A música de Miguel Pedro (Mão Morta/Mundo Cão) tem uma estrutura inteligente que favorece a voz, através da forma como prepara o clímax do refrão. walter hugo mãe não só é o escritor português de que toda a gente fala como é um cantar que vai dar que falar.
Artigo retirado de JL
Artigo retirado de JL
Meio-bicho e fogo
parte o navio para o labirinto,
sai o navio no fio vermelho,
vai ardendo na linha da água
e o combustível vem do temporal...
e a fuga do amor que vier?
não há fuga,
eu sou tão impuro!
e segue o navio para o labirinto,
para mim...
que tonto e difícil
o mítico corpo,
meio bicho e fogo,
minotauro bomba
prestes a rebentar, já segue morto...
o navio a afundar sob o temporal!
não há fuga do amor que vier!
não há fuga,
eu sou tão impuro!
e segue o navio para o labirinto,
para mim.
para o labirinto,
para o fim...
(nota: o teledisco é feito com desenhos de Esgar Acelerado)
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