Depois de ter publicado Em Parte Incerta e Vidro do Mesmo Vidro, ensaios sobre poesia portuguesa contemporânea, Rosa Maria Martelo apresenta um novo livro, editado pela Averno, A Porta de Duchamp. Este livro reúne 17 pequenos textos em prosa.
António Guerreio, na "Actual" de 9 Janeiro 2010 refere o seguinte: "A condição destes textos como imagens-leituras escritas - como escrita literária que participa do pensamento crítico-ensaístico" e dá o exemplo do texto "O Viajante" que , de forma indirecta, descreve o quadro de C. david Friedrich
Leia-se uma parte dessa narrativa (também transcrita no texto de Guerreiro) e comparemo-la com o quadro em causa:
"Está acima das nuvens, no alto da montanha mais alta. Vemo-lo de costas, imóvel e contemplativo. Na sua sóbria elegância citadina, dir-se-ia que para ali chegar mais não lhe foi preciso que atravessar tranquilamente uma avenida. Está sozinho diante dos cumes mais altos, vestido como um filho pródigo que regressasse a casa trazendo tdos os estigmas de quem vem de outro mundo (...). E como poderia ter chegado ali assim, sem trazer consigo nenhum rasto de poeira dos caminhos? Tudo é romântico desde que levado para longe, ter-nos-ia dito se verdadeiramente ali estivesse e agora olhasse para trás. Mas ele não pertence a esta paisagem, e por isso o vemos de costas, sem podermos adivinhar de que maneira o seu rosto procura enfrentar o brilho da neve, o reflexo da luz."
Sem comentários:
Enviar um comentário