Autora: Ann Yeti
Título: Haverá Mar
N.º de páginas: 88
Editora: Editorial Novembro
Edição: Novembro 2025
Classificação: romance
N.º de Registo: ()
OPINIÃO ⭐⭐⭐
“(…) Quanto à Ann Yeti tem um futuro promissor na escrita. Basta escrever e seduzir o leitor para novos caminhos, novas sensações.” Esta afirmação, que acompanhava a minha leitura de Um Fio de Sangue, confirma-se em Haverá Mar, onde a autora expande o seu horizonte narrativo e mergulha numa saga feminina que atravessa mais de um século.
Ann Yeti acompanha cinco gerações de mulheres da mesma linhagem, cada uma marcada por tempos de dureza e transformação. Da precariedade rural ao silêncio conventual, da mobilidade entre Lisboa e Austrália à rebeldia juvenil, dos desgostos amorosos à escolha pela escrita, estas vidas revelam como o patriarcado e a escassez atravessam épocas, mas também como a resistência e a solidariedade feminina abrem fissuras de luz. Entre elas, uma figura, aparentemente, secundária percorre discretamente as entrelinhas da narrativa, sustentando as outras com gestos de apoio, até que uma nova geração surge como promessa de futuro.
O romance percorre geografias concretas — a região Oeste, entre Caldas da Rainha e Leiria Lisboa, e cidades abertas ao mundo na Austrália. Cada espaço é mais do que cenário, é território simbólico que molda o destino das personagens.
A escrita de Ann Yeti é um tecido cuidado e fluido, pincelado de lirismo, onde se cosem referências históricas e culturais com a delicadeza de quem borda memória. Há nela um sopro autobiográfico, talvez, mas o leitor não precisa de separar o real do imaginado — importa antes deixar-se levar pela tapeçaria que ambos formam. O que prende e cativa é a narrativa em si, sustentada por uma voz capaz de transformar experiência em literatura, como quem recolhe fragmentos da vida e os devolve ao mar em forma de onda.
O mar é metáfora e geografia: guarda memórias, devolve histórias, abre horizontes. O romance mostra que, apesar das perdas e da dureza, haverá sempre mar — como promessa de continuidade e de futuro.
“ Balançamos na vida com a cadência das marés, quanto do teu sal são lágrimas…Mais tarde ou mais cedo, haverá mar dentro de nós.”, lê-se no prólogo.

Sem comentários:
Enviar um comentário