Autora: Maryse Condé
Título: À Espera da Subida das Águas
Tradutora: Sandra Silva
Tradutora: Sandra Silva
N.º de páginas: 292
Editora: Quetzal
Edição: Maio 2023
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3584)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
Foi uma agradável descoberta ler Maryse Condé. Tinha alguma curiosidade por ser uma autora francófona e, finalmente, chegou a oportunidade. Nesta narrativa, a autora conduz-nos pela caminhada difícil e violenta de Babakar Traoré até à Guadalupe, ao Mali, e a Haiti.
A acção decorre sob o jugo colonial onde predominam uma violência extrema, o ódio, o racismo e a corrupção. Babakar, como médico obstetra, vai viver intensamente os golpes militares, o exílio, o massacre de pessoas indefesas e só sobrevive porque a amizade e o amor conseguem sobrepor-se a todas as situações de abuso, de dor e de tristeza.
Ao longo da narrativa estão bem patentes as “feridas do colonialismo”, das guerrilhas e do racismo. Cito apenas um exemplo:
– Para o Haiti? Não há nada para comer nesse país. Além de fazerem vodu, os negros e os mulatos odeiam-se e matam-se uns aos outros.
- Isso não é novidade. Estou habituado a conflitos – assegurou-lhe. – Não te esqueças de que vivi durante anos a braços com uma guerra civil absurda.” (pp. 60 e 61)
Numa escrita que mescla o realismo mágico e o religioso das crenças locais, Maryse Condé relata-nos o drama de várias personagens, o deslocamento de famílias, a devastação de países (a guerra civil no Mali, a guerra do Líbano, a destruição política e os desastres naturais do Haiti) e o massacre de “gentes rivais” e importunas.
A narrativa comovente e profundamente humana, onde nada é maquilhado, vai evoluindo ao ritmo das (in)decisões de Babakar, das reflexões, das memórias e das conversas entre as personagens que ajudam a caracterizá-las psicologicamente. Contudo, e no meio do caos, da miséria, da violência e da perda de bens e de pessoas amadas, reside uma fagulha de esperança que move o protagonista e os seus dois amigos a nunca desistirem e a lutarem nas adversidades, nem que para isso seja necessário partir, de novo.
É um livro actualíssimo e doloroso que recomendo muito. Um livro que não nos deixa indiferentes e que nos obriga a reflectir sobre o ser humano.
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