13 fevereiro, 2025

𝑶 𝑷𝒂𝒑𝒆𝒍 𝒅𝒆 𝑷𝒂𝒓𝒆𝒅𝒆 𝑨𝒎𝒂𝒓𝒆𝒍𝒐, de Charlotte Perkins Gilman

 


Autora: Charlotte Perkins Gilman
Título: O Papel de Parede Amarelo
Tradutora: Maria Amorim
N.º de páginas: 67
Editora: Húmus
Edição: Novembro 2020
Classificação: Conto
N.º de Registo: (3670)




OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐




O livro contém dois textos de Charlotte Perkins Gilman, o conto O Papel de Parede Amarelo; o depoimento Porque escrevi O Papel de Parede Amarelo e um posfácio Que Papel de Parede? (Uma leitura do conto), de Rita Santana dos Santos.

A ambiguidade e a ironia presentes na escrita deste conto elevam-no a um patamar superior.

Gilman descreve-nos de forma inquieta e inteligente a reacção de uma mulher (não lhe é atribuído nome) a quem foi diagnosticada “uma depressão nervosa temporária – uma pequena predisposição histérica.” (p.8) e que, por conselho e decisão do marido, médico prestigiado, vai passar um verão numa casa isolada no campo para beneficiar de um repouso total. Assim, encontra-se proibida de trabalhar, de desenvolver qualquer tipo de esforço físico ou intelectual. Ela, pessoalmente, discorda e considera “que um trabalho agradável, estimulante e sem rotinas” lhe faria muito bem. Mas como mulher que é, vai acatar as ordens do marido.
Assim, ao longo da sua estada naquela casa e sobretudo no quarto que tem um papel de parede amarelo horrível vamos acompanhando, num crescendo, a sensação de claustrofobia que a conduz à insanidade.
Toda a narrativa causa desconforto e ansiedade ao leitor.

Numa primeira abordagem, está premente a questão da saúde mental numa mulher que é forçada a fazer o que outros lhe recomendam e não o que ela gostaria efectivamente de fazer, como escrever, estar com amigos, lidar com o seu bebé.
Ora, é neste ponto que reside a questão essencial do conto. O facto de a personagem feminina estar “impedida” de pensar e de escrever, de ser ”obediente a um marido detentor de autoridade”, de ser desvalorizada e infantilizada, põe em relevo a condição de opressão das mulheres que, naquela época, viviam numa sociedade patriarcal e conservadora e que, inevitavelmente, lhes causava perturbações mentais.
Gilman através de uma metáfora fabulosa desmonta a perspectiva da “doente mental” que, como vítima passiva e isolada num quarto que “cheira a amarelo”, se vai aproximando de um final inesperado. É perturbador e intrigante acompanhar as suas descrições, tão sensoriais, do papel amarelo – as imagens que visualiza e fantasia, os cheiros que a perseguem, as movimentações das “mulheres” que compõem o padrão.

Afinal, esta luta mental da protagonista que descreve todo um processo de libertação, por via das mulheres que saem do papel, representa, metaforicamente, a luta travada pelas mulheres pelos seus direitos, pela sua liberdade.
Apesar de ser um texto curto, acaba por suscitar no leitor inúmeras provocações e leva-o a reflectir sobre a questão tantas vezes repetida ao longo do conto “mas o que é que se pode fazer?” . Questão que se aplica não só nesta situação, mas em tantas outras que privam o ser humano da sua essência primordial - a liberdade.

Resta-me referir que Gilman afirmou no seu depoimento, que “o conto não pretendia enlouquecer as pessoas, mas evitar que enlouquecessem, e funcionou.” (p. 41). Se tiverem curiosidade em saber como, convido-vos a ler os dois textos.


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