12 fevereiro, 2025

𝑶 𝑳𝒆𝒊𝒕𝒐𝒓, de Bernhard Schlink

 


Autor: Bernhard Schlink
Título: O Leitor
Tradutora: Fátima Freire de Andrade
N.º de páginas:144
Editora: Edições ASA
Edição(7.ª): Maio 2009
Classificação: Romance
N.º de Registo: (2600)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Decidi reler O Leitor. A primeira leitura ocorreu em 2010 e já não tinha memória de determinados factos. Além do mais, gosto de voltar a livros que me marcaram para deles retirar novas compreensões e ensinamentos.

O enredo situa-se nos anos de 1960 e aborda a temática do Holocausto, pondo em confronto duas gerações, através do relacionamento íntimo entre Hanna (36 anos) e Michael (15 anos). A geração que viveu o Nacional-socialismo de Hitler e a geração da pós-segunda guerra mundial, ou seja, a dificuldade dos mais jovens compreenderem determinados comportamentos dos seus pais, dos seus antepassados.
“Todos condenámos os nossos pais à vergonha eterna, ainda que só os pudéssemos acusar de terem tolerado depois de 1945, a companhia dos assassinos.” (p. 62)
O tema é controverso, pelo que o autor aborda-o com subtileza e atribui a Michael Berg a função de se questionar sobre esse passado doloroso e criminoso. Não há respostas para as perplexidades apresentadas, nem tão pouco às múltiplas questões colocadas. A subtileza perpassa, ainda, pela ausência de certas memórias e pela presença de imagens “que ficaram”.

O Leitor levanta várias possibilidades de leituras. Todas perturbadoras. Pretenderá o autor, através das atrocidades cometidas, neste caso, pelas guardas dos campos de concentração, demonstrar a crueldade de um passado que não se pode repetir? Pretenderá, através do relacionamento amoroso entre Michael e Hanna, desvanecer o passado que as gerações actuais não viveram? Pretenderá gerar compaixão e empatia por Anna? Pretenderá, pelo viés do julgamento, absolver as acções cometidas por determinados agentes? Pretenderá justificar o “embotamento” dos sobreviventes, dos criminosos e de toda uma sociedade que se acomodou à situação do pós-guerra? Pretenderá desobrigar a geração de Michael ainda vítima das fissuras do Holocausto? (A mesma geração do autor).

Mas para além destas, e de outras possíveis, reflexões, O Leitor oferece-nos a possibilidade de entender a leitura como um prazer e uma fonte de conhecimento e humanização. Ao atribuir a Hanna a característica de analfabeta, o autor serve-se, de novo, dos pensamentos e das dúvidas de Michael para demonstrar que se ela soubesse ler teria mais consciência dos seus actos e poderia ter sido uma pessoa diferente, talvez mais sensível.
“Mas seria possível que a vergonha de não saber ler nem escrever explicasse também o comportamento de Hanna durante o julgamento e no campo de concentração?” (p. 87)

Em boa hora, decidi reler este livro. Coloca questões pertinentes que avivam memórias e estabelecem pontes entre o passado, o presente e o futuro. Num presente muito preocupante, com a leitura deste livro, reforço a convicção de que a leitura e a cultura combatem a ignorância e geram uma consciência social mais aguda e crítica.




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