01 fevereiro, 2025

Sei para onde vou ...

 


Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam” (Saramago) e, assim, hoje, é o primeiro dia do resto da minha vida.

Foram 44 anos letivos de dedicação à Escola Pública (42 anos, 5 meses, 27 dias para efeitos de aposentação, já que deduziram os dias dos horários incompletos e das colocações tardias, mas esqueceram-se de adicionar as horas extraordinárias – as efectivas e as outras) e prolongaram   até ao limite do prazo (3 meses) a análise do processo (trabalhei mais dois meses para além da data prevista).

Sempre quis ser professora. Sempre amei a minha profissão. Confesso que nem sempre foi fácil, mas no balanço final guardo sobretudo as conquistas.
Chegou o tempo de dar o meu lugar a outro/a professor/a. Ninguém é eterno. Ninguém é insubstituível. O governo, numa tentativa de colmatar o problema de falta de professores, ainda, acenou com a possibilidade de continuar e em troca “oferecia-me” até 750€. Porém, este mesmo governo esqueceu-se de que também eu tive, durante cerca de seis anos a carreira congelada. Os meus colegas vão ter, e muito bem, a recuperação desse tempo, mas quem se encontra, como eu, no topo da carreira, não recebe nada em compensação. Repito, NADA. Por isso, é mais do que evidente que não continuarei no activo, não aceitarei “a esmola” dos 750€. Gostaria de ser reconhecida pelo trabalho que desenvolvi e compensada pelo tempo TODO que trabalhei. Há formas de o fazer (redução no tempo para aposentação, compensação monetária, aumento do vencimento, …), basta querer, basta haver vontade e criatividade políticas.

Ao longo destes anos “vivi” em várias escolas, pelo país. Uma, lembrarei para sempre como a minha “segunda casa”. Nela cresci, amadureci e me apaixonei pelo meu/nosso poeta, Al Berto.

Leccionei várias disciplinas/áreas disciplinares (francês, técnicas de tradução de francês, português, área de projecto, estudo acompanhado, educação cívica e LLED) e desempenhei muitas funções e vários cargos. Uns mais fáceis, outros bem menos, uns mais divertidos, outros nem tanto, mas desempenhei-os sempre com sentido de responsabilidade e muito empenho. Errei como todo o ser humano, mas dei sempre o meu melhor.

Ao longo destes anos conheci, lidei e convivi com muitas, muitas pessoas: alunos, professores, técnicos especializados, assistentes técnicos, assistentes operacionais, pais e encarregados de educação, entre outras de diversas instituições, profissões, parcerias…

No meu coração guardo muitas, muitas mesmo, que não citarei, como compreenderão. Nesta minha travessia houve, e ainda há, pessoas maravilhosas com quem aprendi, diariamente; com quem partilhei conhecimentos, ensinamentos, gargalhadas, sorrisos, tristezas, desabafos, abraços, fotografias, livros, leituras, muitas leituras, …; com quem continuarei a aprender e a partilhar…

A TODAS o meu ENORME agradecimento e carinho.
Saberei manter vivas as boas memórias. As outras, já as abandonei pelo caminho.

Até breve… vou continuar por aí… ao contrário de José Régio, sei por onde vou…

A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei para onde vou,
Não sei para onde vou
—Sei que não vou por aí! (Régio)

GR


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