“Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam” (Saramago) e, assim, hoje, é o primeiro dia do resto da minha vida.
Foram 44 anos letivos de dedicação à Escola Pública (42
anos, 5 meses, 27 dias para efeitos de aposentação, já que deduziram os dias
dos horários incompletos e das colocações tardias, mas esqueceram-se de
adicionar as horas extraordinárias – as efectivas e as outras) e
prolongaram até ao limite do prazo (3
meses) a análise do processo (trabalhei mais dois meses para além da data
prevista).
Sempre quis ser professora. Sempre amei a minha profissão. Confesso que nem
sempre foi fácil, mas no balanço final guardo sobretudo as conquistas.
Chegou o tempo de dar o meu lugar a outro/a professor/a. Ninguém é eterno.
Ninguém é insubstituível. O governo, numa tentativa de colmatar o problema de
falta de professores, ainda, acenou com a possibilidade de continuar e em troca
“oferecia-me” até 750€. Porém, este mesmo governo esqueceu-se de que também eu
tive, durante cerca de seis anos a carreira congelada. Os meus colegas vão ter,
e muito bem, a recuperação desse tempo, mas quem se encontra, como eu, no topo
da carreira, não recebe nada em compensação. Repito, NADA. Por isso, é mais do
que evidente que não continuarei no activo, não aceitarei “a esmola” dos 750€. Gostaria
de ser reconhecida pelo trabalho que desenvolvi e compensada pelo tempo TODO
que trabalhei. Há formas de o fazer (redução no tempo para aposentação,
compensação monetária, aumento do vencimento, …), basta querer, basta haver
vontade e criatividade políticas.
Ao longo destes anos “vivi” em várias escolas, pelo país. Uma, lembrarei para
sempre como a minha “segunda casa”. Nela cresci, amadureci e me apaixonei pelo
meu/nosso poeta, Al Berto.
Leccionei várias disciplinas/áreas disciplinares (francês, técnicas de tradução
de francês, português, área de projecto, estudo acompanhado, educação cívica e
LLED) e desempenhei muitas funções e vários cargos. Uns mais fáceis, outros bem menos, uns mais divertidos, outros nem tanto, mas desempenhei-os sempre com sentido de responsabilidade e muito
empenho. Errei como todo o ser humano, mas dei sempre o meu melhor.
Ao longo destes anos conheci, lidei e convivi com muitas, muitas pessoas:
alunos, professores, técnicos especializados, assistentes técnicos, assistentes
operacionais, pais e encarregados de educação, entre outras de diversas
instituições, profissões, parcerias…
No meu coração guardo muitas, muitas mesmo, que não citarei,
como compreenderão. Nesta minha travessia houve, e ainda há, pessoas
maravilhosas com quem aprendi, diariamente; com quem partilhei conhecimentos,
ensinamentos, gargalhadas, sorrisos, tristezas, desabafos, abraços, fotografias,
livros, leituras, muitas leituras, …; com quem continuarei a aprender e a
partilhar…
A TODAS o meu ENORME agradecimento e carinho.
Saberei manter vivas as boas memórias. As outras, já as abandonei pelo caminho.
Até breve… vou continuar por aí… ao contrário de José Régio,
sei por onde vou…
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei para onde vou,
Não sei para onde vou
—Sei que não vou por aí! (Régio)
GR
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