09 julho, 2023

𝑶 𝑫𝒆𝒗𝒆𝒓 𝒅𝒆 𝑫𝒆𝒔𝒍𝒖𝒎𝒃𝒓𝒂𝒓 - 𝑩𝒊𝒐𝒈𝒓𝒂𝒇𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝑵𝒂𝒕á𝒍𝒊𝒂 𝑪𝒐𝒓𝒓𝒆𝒊𝒂, de Filipa Martins


Autora: Filipa Martins
Título: O Dever de Deslumbrar - Biografia de Natália Correia
N.º de páginas: 680
Editora: Contraponto
Edição: Março 2023
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3468)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Nesta biografia de quase setecentas páginas, Filipa Martins viveu, durante seis anos, mergulhada no universo da sua biografada. O trabalho final revela um conhecimento e rigor notáveis.
Pelas palavras de Filipa Martins vamo-nos deslumbrando com a vida de Natália Correia que foi uma mulher de excepção, quer pela sua beleza quer pela sua forma de ser e de estar; uma mulher que marcou o século XX – a sua história confunde-se com a História de Portugal, nomeadamente, nos períodos do Estado Novo e do PREC; uma mulher da Europa, pensadora e defensora das mulheres e de causas, sejam elas quais forem; apoiante de todos os que se manifestaram contra o regime; uma mulher da intelligentsia portuguesa, que promoveu em sua casa e no Botequim tertúlias, debates, discussões políticas sobre variadíssimos assuntos: luta contra a censura, apoio e defesa de presos políticos, (muitos eram seus amigos), ideologias, apoio a futuros candidatos, …
Ao longo do texto, deparamo-nos com a dualidade de carácter da biografada. Natália Correia revela-se frágil, intempestiva, acutilante, decisiva, apartidária, libertária. Revela-se ainda uma mulher de múltiplas funções: escritora, radialista, cançonetista, jornalista, pensadora, ”supostamente” espia e comunista, deputada, conselheira, oradora. Em tudo manifestou paixão e loucura.
Ficou muitíssimo bem expresso na obra e de forma indelével, a importância desta mulher forte de convicções, o seu papel genial e único na literatura, nas artes em geral, na política, na religião e na sociedade. Natália, apesar de ter as suas obras constantemente censuradas, de ser vigiada pela PIDE, conseguiu levar uma vida confortável e de luxo, contrariando as normas instituídas e a moral e os valores vigentes. Mesmo no período pós 25 de Abril, Natália Correia mantém os seus ideais, por vezes contraditórios. As suas convicções isolam-na em muitas das decisões que toma, ao ponto de estar, como deputada, no lado oposto do seu partido. Amiúde foi criticada e mesmo ridicularizada. Sempre se posicionou activa, emotiva e corajosamente na vida. As decisões que tomou sempre foram pautadas por ideais de igualdade e liberdade. Foi sempre uma mulher muito avançada para o seu tempo, que nunca se resignou perante a adversidade e o conservadorismo.

Filipa Martins revela-se uma excelente biógrafa, pois de forma insigne consegue expor numa escrita viva, cativante e imparcial toda a dimensão da mulher avassaladora “que é maior do que o país” e, simultaneamente, os acontecimentos marcantes da época.
Filipa Martins transporta-nos para o mundo individual e colectivo da sua biografada, para o mundo literário nacional e internacional da época, para a política vigente. Convida-nos, assim, a mergulhar na vasta e diversificada obra de Natália Correia. Obra desconcertante, controversa e apaixonada que merece ser lida e que terá “o dever de deslumbrar” qualquer leitor que aprecie fortes emoções literárias. Pelo que foi apresentado nesta biografia, o leitor não saíra defraudado.  


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