15 julho, 2023

𝑨 𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓 𝒎𝒂𝒊𝒔 𝒃𝒐𝒏𝒊𝒕𝒂 𝒅𝒂 𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆, de Charles Bukowski


Autor: Charles Bukowski
Título: A mulher mais bonita da cidade
Tradutor: Vasco Gato
N.º de páginas: 366
Editora: Alfaguara
Edição: Setembro 2014
Classificação: Contos
N.º de Registo: (3148)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Há muito que adiava a leitura de um livro de Bukowski. Sem nenhum motivo em especial, mas simplesmente porque outros livros, outros autores se interpunham. Como precisei de um título com seis palavras, decidi que chegara finalmente o momento de ler este, já que preenchia a premissa.
Já tinha lido que Bukowski escreve das entranhas, que relata a miséria humana, a marginalidade, o bas-fond da sociedade americana.
É mesmo assim. Em A mulher mais bonita da cidade, o autor brinda-nos com trinta contos. Todos nos convocam para um submundo imundo, de excluídos, de loucos, de vigaristas e de desacatos onde o álcool, o sexo, o jogo e a violência dominam. O realismo cru e horrível, mas também mordaz e irónico de Bukowski, surpreende pela irreverência. Sem rodeios, e na primeira pessoa (Bukowski é personagem das histórias), o autor destrinça a miséria dos bares que frequenta, das ruas que percorre, dos bêbedos, das mulheres “caprichosas”, das amantes com quem se relaciona.
A sua escrita é crua, directa, sem moralismos. Bukowski usa e abusa de vocabulário vulgar, trivial, mas próprio do meio onde as suas personagens, ele incluído, se inserem.
Os seus textos curtos repudiam o tão aclamado formalismo académico, a sua verve mergulha na vida comum, nos vícios do ser humano, na realidade crua, na autenticidade do amor, do sexo, da perda, do consumo do álcool e do tabaco, das noites mal dormidas, nas vicissitudes de uma vida desregrada. Mas nem tudo é irreverente e marginal. De permeio surge a sua sensibilidade, o sentido de humor e a paixão pela literatura e pela música.

Confesso que aderi com prazer à genialidade da sua franqueza, ao seu incivismo. Encarei sem pudor nem preconceitos a sua forma de escrever. Aderi às propostas de reflexão que se apresentam nas entrelinhas. Tentei captar a crítica social emanada do cinismo e desencantamento tão presentes nas várias histórias.

De certeza que partirei à descoberta de mais livros do autor. Contudo, não posso deixar de referir que a sua escrita, considerada por alguns críticos como a mais “icónica” deste género literário, pode causar repulsa a leitores menos apreciadores de certas palavras, de uma linguagem mais vulgar.



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