23 julho, 2023

𝑨 𝑰𝒈𝒏𝒐𝒓â𝒏𝒄𝒊𝒂, de Milan Kundera

 



Autor: Milan Kundera
Título: A Ignorância
Tradutor: Miguel Serras Pereira
N.º de páginas: 157
Editora: D. Quixote
Edição (2.ª): Agosto 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3426)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Em A Ignorância, Kundera apresenta ao leitor duas personagens Josef e Irena, filhos de Praga, mas emigrados na Dinamarca e França, respectivamente. Ambos, saíram do país numa época conturbada. Reencontram-se vinte anos depois quando regressam à cidade natal.
Ao longo das páginas vamos acompanhando os pensamentos e os desabafos das duas personagens. Kundera através de uma escrita simples, mas corrosiva, vai dissecando os estados de alma e pondo a nu as opções de vida de cada um. Este voyeurisme conduz-nos aos meandros da emigração, às dificuldades sentidas no país de acolhimento, ao desenraizamento linguístico e cultural, aos erros cometidos na “idade da ignorância”, nos momentos de decisão, à nostalgia, isto é, ao “sofrimento causado pelo desejo irrealizado de retornar”(p.9). Numa intertextualidade com o mito de Ulisses e do seu regresso a Ítaca, percebemos que o tempo deixa marcas indeléveis, que as memórias não coincidem e se desvanecem, que os conhecimentos são mais vastos, díspares e por conseguinte mais lúcidos, mais desprendidos.
“à medida que trechos da sua vida caem no esquecimento, o homem desembaraça-se daquilo de que não gosta e sente-se mais leve, mais livre. (…) O homem envelhece, o fim aproxima-se, cada momento se torna cada vez mais querido e já não há tempo a perder com recordações. É preciso compreender-se o paradoxo matemático da nostalgia.” (pp. 64 e 65)

Neste romance Kundera debruça-se sobre o comportamento alheio, perscruta as emoções e as atitudes de duas personagens com histórias de vida semelhantes, que se cruzam e desdobram na problemática da emigração.



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