Autor: Tomás Guerrero
Título: O Neto do Homem mais Sábio
Tradutor: João Miguel Lameiras
Tradutor: João Miguel Lameiras
N.º de páginas: 144
Editora: Levoir
Edição: 2020
Classificação: Novela Gráfica
N.º de Registo: (3340)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
Considero esta novela gráfica uma belíssima homenagem a José Saramago, mas também a Fernando Pessoa, por via do seu heterónimo Ricardo Reis.
Tomás Guerrero foi feliz ao pegar na frase, “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever”, proferida por Saramago no discurso em Estocolmo, aquando da atribuição do Prémio Nobel em 1998, referindo-se ao seu avô Jerónimo Melrinho.
A tarefa de narrar em banda desenhada a vida e obra de Saramago é arriscada, mas Guerrero foi genial ao colocar os “defuntos” Jerónimo Melrinho (avó de Saramago) e Ricardo Reis, inspirando-se na obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, em conversa animada sobre Saramago e, assim, vão guiando o leitor ao longo das páginas que o mesmo é dizer, ao longo da vida do biografado.
Esta narração a duas vozes, iniciada em Estocolmo, em 1998, vai instruindo o leitor com informações biográficas desde a infância na Azinhaga até aos últimos dias em Lanzarote, com citações muito bem enquadradas nas ilustrações, que considero magníficas, e ainda com a divulgação das obras publicadas.
A representação da história através das ilustrações, dos desenhos sai fora do comum, não temos as convencionais vinhetas tornando-o mais próximo de um livro ilustrado do que propriamente de uma banda desenhada. Como referiu Valter Hugo Mãe no prefácio “ as suas pranchas são riquíssimas, equilibradas, surpreendentes. Sem exageros, mantendo até uma estranha atmosfera da mesma humilde personalidade de Saramago.” Poder-se-á referir que por vezes os desenhos nada acrescentam ao texto em termos de informação, são naturalmente um complemento, tornam-no mais belo, mais poético.
Outra característica facilitadora da leitura do texto é a cor diferente atribuída a cada uma das duas vozes, permitindo a sua identificação imediata.
Apesar de gostar muitos da ilustração, é sobretudo o texto que mais aprecio, a conversa mantida por Jerónimo Melrinho, o homem mais sábio, que não sabia ler, e Ricardo Reis traduz a visão que Saramago tinha de si próprio, dos seus familiares e do mundo.
Recorrendo de novo ao prefácio escrito por Valter Hugo Mãe, subscrevo a sua opinião que a expressa de forma notável: “ Este livro é brilhante. É íntimo, delicado, brilhante. Com ele, Saramago continua a nascer”.
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