29 dezembro, 2021

𝑼𝒎𝒂 𝑽𝒆𝒍𝒉𝒂 𝒆 𝒐 𝒔𝒆𝒖 𝑮𝒂𝒕𝒐 𝒆 𝒂 𝑯𝒊𝒔𝒕ó𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒅𝒐𝒊𝒔 𝒄ã𝒆𝒔, de Doris Lessing

 



Autores: Doris Lessing
Título: Uma Velha e o seu Gato e a História de dois cães
Tradutora: Ana Falcão Bastos
N.º de páginas: 94
Editora: Bertrand Editora
Edição: Abril 2016
Classificação: Contos
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Dois pequenos contos devastadores e que muito significam. Doris Lessing escreve o que lhe vai na alma, livremente, sem se preocupar com o politicamente correcto. O tema predominante nos dois contos é a liberdade. A liberdade dos que rejeitam uma sociedade preconceituosa, uma sociedade normalizadora.
Num estilo directo, cru, por vezes cruel, mas também comovente, brota, no primeiro conto, uma crítica manifesta ao abandono dos idosos pelos filhos, facilmente esquecidos ou despachados para um lar e, no segundo, uma crítica mais subtil às opções, preferências e formas de ser e de viver.
Na conquista pela liberdade quer de Hetty, quer do gato Tibby, quer ainda dos dois cães, Jock e Bill, há lutas tremendas de subsistência, mas há também manifestações de afecto e de gratidão dos animais para com os seus donos. Nas duas narrativas registam-se momentos de extrema dureza, crueldade até, mas também de ternura. Hetty e Tibby tornam-se ambos sem-abrigo e vadios, mas livres. Hetty recusou todas as démarches do estado para a fecharem num lar, preferiu viver na errância, na companhia do seu gato leal que a aquecia do frio e caçava pombos para se alimentarem.
Se na primeira narrativa a opção de viver em liberdade é clara, na segunda, ainda o é mais. Dois jovens irmãos, a mando dos pais, tentam treinar e domesticar dois cães, mas não conseguem. E a crítica que subjaz neste conto é que devemos aceitar as pessoas, no caso, os animais sem alterar as suas características, a sua forma de ser. A liberdade é mais importante do que qualquer redução à domesticidade.
“O meu pai queixava-se de que os cães não obedeciam a ninguém. Exigia treino sério e sem tréguas. O meu irmão e eu ficávamos a ver a nossa mãe a afagar Jock e a ralhar com Bill e estabelecemos um acordo tácito. Partíamos para o Grande Vlei, mas, uma vez lá chegados, andávamos de um charco para o outro, enquanto os cães faziam o que lhes apetecia e descobriam as alegrias da liberdade.” (p. 73)

Ora, nos dois contos o final não é nada simpático, é triste e devastador, Dir-se-á que é o preço da liberdade! Mas será que tem de ser sempre assim? Fica a pergunta em jeito de reflexão.



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