12 dezembro, 2021

𝑺𝒐𝒃𝒓𝒆 𝒂 𝑳𝒆𝒊𝒕𝒖𝒓𝒂, de Marcel Proust


Autor: Marcel Proust
Tradutor: Miguel Serras Pereira
Título: Sobre a Leitura
N.º de páginas: 52
Editora: Relógio d'Água
Edição: Novembro 2020
Classificação: Ensaio
N.º de Registo: (3309)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

Este pequeno ensaio sobre a leitura foi escrito pela primeira vez como prefácio ao livro “O Sésamo e os Lírios (Sésame et ses Lys), de John Ruskin, tendo no entanto, mais tarde, sido editado de forma independente e é hoje considerado um clássico sobre o prazer de ler.
Proust inicia o seu texto demonstrando que a leitura lega ao leitor imagens “dos lugares e dos dias” em que são feitas. Ele descreve episódios da sua infância sobre os seus hábitos de leitura que ficaram amplamente marcados na sua memória. Ele apreciava o silêncio e o isolamento para usufruir do prazer que a leitura lhe proporcionava.
O autor considera o acto de ler como uma terapia, “uma espécie de disciplina curativa…”
“ Enquanto a leitura é para nós a iniciadora cujas chaves mágicas nos abrem no fundo de nós mesmos a porta das moradas nas quais não teríamos sabido penetrar, é salutar o seu papel na nossa vida. (…) como uma coisa material, depositada entre as folhas dos livros, como um mel completamente preparado pelos outros e que só temos de nos dar ao trabalho de recolher nas prateleiras das estantes e de saborear em seguida passivamente num perfeito repouso de corpo e de espírito.” (p. 30)

Proust prefere a amizade que obtém dos livros em detrimento da amizade humana:
“Sem dúvida, a amizade, a amizade que tem que ver com os indivíduos, é uma coisa frívola, e a leitura é uma amizade. Mas pelo menos é uma amizade sincera, e o facto de se dirigir a um morto, a um ausente, lhe alguma coisa de desinteressado, de quase tocante. (…) Com os livros, não há amabilidade. Esses amigos, se passamos com eles o serão, é porque temos verdadeiramente vontade de o fazer. A eles, pelo menos, muitas vezes só contrariados os deixamos. ” (p.36)

Em suma, a leitura, como acto solitário e silencioso, permite ao leitor intuir, decifrar o pensamento do outro, educar o seu espírito, “sair de si-mesmo, viajar” e adquirir a capacidade de pensar e de criar.
“Ora, esse impulso que o espírito preguiçoso não pode encontrar em si mesmo, e que tem de lhe chegar de outrem, é claro que terá de recebê-lo no interior da solidão fora da qual, como vimos, não pode produzir-se essa atividade criadora que se trata precisamente de nele ressuscitar. Da pura solidão o espírito preguiçoso nada poderia tirar, uma vez que é incapaz de pôr ele mesmo em movimento a sua atividade criadora. (…) O que é necessário pois, é uma intervenção que, vinda embora de um outro, se produza no fundo de nós mesmos; é sobretudo o impulso de um outro espírito, mas recebido no interior da solidão. (…) A única disciplina que poderá exercer uma influência favorável sobre tais espíritos é, portanto, a leitura…mas, aqui, ainda, a leitura não age senão à maneira de uma incitação que em nada pode substituir-se à nossa atividade pessoal…” (p. 29)

É um pequeno livro maravilhoso.

Sem comentários:

Enviar um comentário