16 dezembro, 2021

𝑨 𝑫𝒆𝒍𝒊𝒄𝒂𝒅𝒆𝒛𝒂, David Foenkinos


Autor: David Foenkinos
Tradutora: Catarina Almeida
Título: A Delicadeza
N.º de páginas: 227
Editora: Presença
Edição: Agosto 2011
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3248)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


É o primeiro livro que leio deste autor e fiquei seduzida. Compreendo agora por que foi selecionado para tantos prémios da rentrée literária em França.
É um livro desconcertante, divertido e delicado. Sim, é um livro que trata dos assuntos sentimentais, sejam eles dolorosos ou amorosos com uma tremenda delicadeza e naturalidade.
O enredo revela-nos uma história de amor, simples mas nada convencional. E é aqui que reside o encanto deste romance. Nathalie, a protagonista vive sete anos de um amor perfeito até que uma tragédia rompe essa felicidade. Entra em depressão profunda, perdida num luto que parece não ter fim, até que o destino lhe apresenta uma inusitada oportunidade,
É um beijo dado num momento de devaneio, sem sentido e completamente inesperado que vai espoletar uma improvável relação. Contra todas as expectativas é com Markus que Nathalie irá ultrapassar a dor e dar um novo rumo à sua vida. Markus é um homem pouco atractivo, tímido, com um fraco historial junto do sexo oposto, mas com um enorme sentido de humor e delicado no trato com os colegas e, naturalmente, com Nathalie.
Um beijo vai provocar um turbilhão de sentimentos desconexos nas duas personagens e tudo vai mudar.
Gostei muito da forma como Foenkinos nos conta a história, como nos descreve com exactidão, simplicidade e delicadeza o que cada personagem sente e pensa.
“Nathalie pensara que esse beijo fora ditado pelo acaso de uma pulsão. Talvez não. Talvez o acaso não existisse: Talvez tudo aquilo não tivesse sido senão o progresso inconsciente de uma intuição. O pressentimento de que estaria bem com aquele homem. (…)
- Posso beijá-la? – perguntou ele.
- Não sei… parece-me que estou a chocar uma constipação.
-Não tem importância. Estou disposto a ficar doente consigo. Posso beijá-la?
Nathalie gostara tanto que ele lhe tivesse perguntado. Era uma forma de delicadeza. Cada momento passado com Markus desviava-se da normalidade.” (p. 150)

A estrutura sai um pouco fora da caixa, na medida em que após cada capítulo surge um pequeno texto, uma entrada de dicionário, uma receita, um pensamento, enfim um complemento, sem nada alterar ou acrescentar ao enredo, mas que atribui certo encanto. Eis um exemplo:
“Pensamento de um filósofo polaco
Há pessoas formidáveis
que conhecemos no momento errado.
E há pessoas que são formidáveis
porque as conhecemos no momento certo.” (p. 94)

É um livro diferente para ler e para oferecer. É um livro que enaltece pequenos gestos, palavras sinceras, sentidas e que mostra a necessidade de aceitar quem verdadeiramente nos estima e nos respeita. É um livro de descoberta do outro e de superação da dor.


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