07 dezembro, 2021

𝑴𝒆𝒔 𝑨𝒑𝒑𝒓𝒆𝒏𝒕𝒊𝒔𝒔𝒂𝒈𝒆𝒔, de Colette

 

Autor: Colette
Título: Mes Apprentissages
N.º de páginas: 213
Editora: Ferenczi
Edição: 1936
Classificação: Memórias
N.º de Registo: (67)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Em 1909, aquando do seu divórcio, Colette referiu que "Só se morre do primeiro homem". Neste livro de memórias escrito em 1936, percebemos que passados vinte e cinco anos dessa tomada de decisão, a ferida ainda não cicatrizou. Num testemunho directo, porém seleccionado (apenas nos revela o que bem entende ou se lembra), ela regressa aos seus primeiros anos de jovem esposa, relata alguns factos da sua família, sobretudo da mãe que sempre a apoiou e a quem ela escondeu o seu fracassado casamento, evoca personalidades do mundo jornalístico e literário com o qual conviveu desde muito cedo, e centra-se, acima de tudo, na acusação contra o seu marido Willy.

Colette descreve a sua vida de casada com um homem mais velho e infiel, que a trancava no quarto para a obrigar a escrever a famosa obra Claudine (4 volumes) que ele editou como sendo de sua autoria. Era ele que tomava todas as decisões financeiras e domésticas, e ela sujeitava-se a tudo e obedecia.

Colette não consegue explicar a sua passividade e obediência ao marido. Justifica-a pela personalidade dominante deste, pelo medo de ficar sozinha e de confessar o seu fracasso. Foram treze anos de submissão, de humilhação, de incertezas e de desamor numa cidade que ela odiava, apesar dos encontros intelectuais que mantinha graças aos conhecimentos do marido, acabando por manter uma vida mundana, já que o casal frequentava os melhores salões parisienses. A hipocrisia e os falsos valores da alta sociedade reinavam na época.
O facto de ele a ter obrigado a escrever, lesando-a sobre os direitos de autor, acabou por lhe proporcionar, mais tarde, uma carreira literária e permitiu-lhe fomentar amizades fiéis que permaneceram ao longo da sua vida e a ajudaram a sair do logro.

Numa escrita inteligente e sincera, a autora acaba por ajustar contas com o marido, revelando a todos o seu verdadeiro carácter, mas também assume a sua própria fragilidade e, zangada, confessa que foi ele que acabou por deixá-la, antes que ela o fizesse. No final, e sem rancor, refere que “aprendeu a viver”.      



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