22 novembro, 2021

𝑼𝒎 𝑯𝒐𝒎𝒆𝒎 𝑷𝒂𝒓𝒂𝒅𝒐 𝒏𝒐 𝑰𝒏𝒗𝒆𝒓𝒏𝒐, de Baptista-Bastos



Autor: Baptista-Bastos
Título: Um Homem Parado no Inverno
N.º de páginas: 167
Editora: Círculo de Leitores
Edição: Agosto 1995
Classificação: Romance
N.º de Registo: (558)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Numa escrita fragmentária, Baptista-Bastos guia-nos numa introspeção profunda sobre o Portugal de então e numa viagem ao passado em busca de redenção. Manuel, o protagonista, viúvo, decidiu ir até à aldeia, onde deseja permanecer vários meses, à procura de “respostas vitais”, de reviver momentos esquecidos, momentos de amor, momentos dolorosos. Sozinho, refugia-se na bebida e nas recordações, traído pelas memórias serve-se da imaginação para criar equívocos, sonhos, ilusões.
“As sombras e as opacidades da memória adensam-se quando procura estabelecer relações entre os episódios de que fora protagonista e os desafectos que os marcaram. Porém, tinha a consciência subtil da total vacuidade desse exercício estafante: a memória, como defesa, desmemoria-se.” (pp.29 e 30)

O narrador vai entrelaçando episódios do presente com relatos do passado, episódios pessoais com relatos e descrições de um Portugal decadente, pequenino, ignorante e medíocre. Há uma similitude entre este país em ruina e ele próprio, um homem só, perdido, desintegrado no tempo e que se desconhece.
“ (…) vivia na contradição de desejar esquecer e no desejo de conservar e de preservar tudo: mágoas, desgostos, deslealdades: a fuligem da vida, persistia em não apagar a consciência infeliz; essas ofensas, reavivadas no tempo em imagens, sons e palavras, constituíam o seu pesadelo e a sua desordem.” (p. 102)

Recomendo muito este livro quer pela beleza da escrita quer pela forma como retrata a passagem do tempo, a solidão de um homem, o confronto consigo próprio e, simultaneamente, a decrepitude de um país e a intolerância pela condição humana.


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