31 maio, 2021

𝒎𝒂𝒏𝒉ã 𝒆 𝒏𝒐𝒊𝒕𝒆, de Jon Fosse



Autor: Jon Fosse
Título: manhã e noite
N.º de páginas: 111
Editora: Cavalo de Ferro
Edição: 1.ª Novembro 2020
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3268)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


O título “manhã e noite” exprime metaforicamente o acto de nascer e de morrer. As duas partes abordam, assim, o nascimento e a morte de Johannes, protagonista deste romance.
Na primeira parte, o autor coloca, Olai, o pai de Johannes num monólogo reflexivo a ansiar pelo nascimento do filho, sem contudo, perder consciência de que quem nasce, ao nada voltará. Na segunda, a longa “reflexão encantatória” é feita pelo próprio Johannes.
“e agora ele virá, enquanto Marta, a mãe grita de dor, (…) e mais tarde, quanto tudo terminar , quando a hora dele chegar, desvanecer-se-á e tornará a ser nada e regressará ao lugar de onde veio, do nada para o nada, é esse o trajecto da vida, “ (p.14)

Jon Fosse de uma forma intensa, simples e despojada apresenta-nos uma belíssima reflexão sobre a efemeridade da vida. Neste texto, o nascimento está associado à dor, à angústia, à ansiedade da espera, enquanto a morte, pelo contrário, é leve e serena, sem medo e sem sofrimento.
Gostei muito da maneira como o protagonista foi conduzido por um amigo, Peter, também ele já morto, ao barco da travessia, indicando-lhe o bom caminho e levando-o para junto das pessoas que amou em vida. É uma clara alegoria a Caronte, o barqueiro que conduzia as almas dos recém-mortos à margem do Bem ou do Mal.
“E porque eu era o teu melhor amigo, cabe-me a mim ajudar-te a atravessar.” (p-107)

Neste pequeno livro, o autor pensa e questiona-se sobre a vida, sobre a existência de Deus. Segundo as suas reflexões, por vezes provocadoras, a vida e a morte, a manhã e a noite, devem ser encaradas com simplicidade, e dignidade. Aceitar o que Deus “porque ele existe” (p.15) rege para a vida de cada um, mas aceitar, de igual forma, o que Satanás também vai providenciando.

Na minha opinião, estamos perante uma reflexão filosófica escrita de forma simples e poética. Gostei muito, principalmente, da segunda parte.


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