13 janeiro, 2025

Falta-me tempo ...

 



Senhor da Asma

deitado há muito tempo - o cigarro luzindo
como um olho de tigre vindo da noite e
lá fora
ainda se percebe a húmida incandescência das frésias
o rumor surdo de vozes pelo jardim onde
a florida macieira se recorta no intenso céu de verão.

mais além
o rouxinol a madressilva
a sebe de pilriteiros
a brisa de um mar invisível - aflora-te a boca
arde no coração
a memória álgida dos limos dos casinos das praias
saturadas de sal e de sedução

mas nada é perfeito - nem o magnífico chapéu
de mademoiselle de noailles nem os dias que
aos ziguezagues vão passando iguais e monótonos
falta-me o tempo para procurar o tempo perdido
e não estou deitado na recordação da infância
confesso
que odeio escrever cartas ou enviar recados

ando há uma semana arrumando livros - comovido
acabei agora mesmo de sacudir
o pequeno novelo de poeira acumulada
no interior das páginas do senhor da asma

por hoje é tudo


Al Berto



11 janeiro, 2025

Al Berto | Dia de aniversário (11.Jan.1948)


 



 


ELE bebe vinho, pousa as palavras lentamente, semeia-as no interior do caderno de capa preta
sente a resinadas árvores nos dedos, a língua enegrecida pelo desejo
lambe as ervas reclinadas dos campos, as coxas abertas da noite, o orvalho nasce-lhe da boca
     qualquer coisa continua a explodir , amarinha-me pelo ventre
um astro de paredes frias por onde enfio o sexo... todos os buracos do texto se enchem de lava
são longos caminhos aveludados
o puto vomita, nenhum som na amanhã que aconteceu..., 
a língua continua impregnada de ópio esquecido, sono das papoulas, madrugada de crianças geométricas
do outro lado da cidade, aquele onde não vivemos, tudo acordou normalmente   

   
  




05 janeiro, 2025

𝑴á𝒒𝒖𝒊𝒏𝒂 𝒅𝒆 𝑬𝒔𝒄𝒓𝒆𝒗𝒆𝒓 𝑺𝒆𝒏𝒕𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐𝒔, de Inês Meneses

 


Autora: Inês Meneses
Título: Máquina de Escrever Sentimentos
Ilustradora: Maria Inês
N.º de páginas: 79
Editora: Contraponto
Edição: Novembro 2023
Classificação: Textos/Poesia
N.º de Registo: (3593)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Este pequeno livro em número de páginas e em formato fez-me companhia nos últimos dias do ano e nos dois primeiros deste novo. O dia 2 é, para mim, um dia de memórias tristes e este livro funcionou como uma terapia, como “uma cadeia mágica entre mães e filhas”, como escreveu a autora na sua dedicatória. Vou guardá-lo na minha mesa-de-cabeceira porque é um livro sobre emoções, sentimentos, memórias, saudades e descobertas ao qual voltarei sempre que a urgência de carregar energias me desassossegar.  

Máquina de Escrever Sentimentos é-nos apresentado em forma de “diário”, sem data, apenas ordenado numericamente, sem qualquer ordem específica. São 111 textos curtos sobre sentimentos, reflexões, pensamentos, inquietações e constatações. Uns escritos normalmente, com frases destacadas a negrito, outros destacados com letras enormes, alguns complementados por ilustrações belíssimas de Maria Inês, a sua filha. A título de exemplo, o texto 42, contém 6 palavras e ocupa três linhas de uma página e diz o seguinte em letras enormes “ As mães deviam viver para sempre.” (p. 30) Bonito sentimento com o qual me identifico e que é o motor deste maravilhoso livro.  
Estamos perante uma escrita sensível, sincera e poética que transborda de emoções, que partilha manifestações de amor, de carinho, que luta contra a dor da perda, que tece as “Saudades de desenhar no frio da manhã, as palavras que nunca verbalizei. Há palavras que só ficam escritas na nossa cabeça.” (35 – p. 24)

Inês Meneses expõe de forma exímia o seu mundo. O mesmo mundo que partilhou com a mãe e que agora inclui a filha, a quem lega ensinamentos que foi inferindo: “Foi preciso ser crescida para descobrir qua amo a natureza e que as lições de vida começam e acabam nela. Vamos cheios de pressa a lado nenhum.” (98 – p. 69).
Estes textos, aparentemente simples, que também expõem os nossos mundos, confundem-nos positivamente a alma, avivam-nos saudades, memórias bonitas, dolorosas e, sobretudo, destacam-nos a importância do amor, da amizade, da descoberta de si-próprio, do papel da natureza na vida humana.


04 janeiro, 2025

Os últimos a chegar cá por casa | Dez.


 

📚📌 O Mundo, Simon Sebag Montefiore; Editora Cítica; Tradução: Constança Paiva Boléo e António Júnior; Lisboa; 2023; 4.ª edição (2024); 1294p.

📚📌As Sete Carruagens, André Fernandes; Manuscrito; Lisboa, 2024; 163p.

📚📌Dedico-lhe o Meu Silêncio, Mário Vargas Llosa; Quetzal Editora; Tradução:Cristina Rodriguez e Artur Guerra; Lisboa; 2024; 252p.

📚📌visitar amigos e outros contos, luísa costa gomes; D. Quixote; Alfragide; 2024; 2.ªed; 227p.

📚📌Minha Senhora de Mim, Maria Teresa Horta; D. Quixote; Alfragide; 1971; 3.ª ed (2023); 93p.

📚📌 Escrito no mar - Livro dos Açores, Manuel Alegre; fotografia: Jorge Barros; Sextante Editora; Lisboa; 2007; 2.ª ed (2008); 54p.

📚📌 Florbela Espanca, Agustina Bessa Luís; Guimarães Editores; Lisboa; 1984; 227p.


02 janeiro, 2025

Mãe | Saudades

 

  


47
Foi a minha mãe que me ensinou a amar as flores. Todas a fascinavam: as caídas, as imperfeitas, as que perdem o brilho por desgaste, as que não duram muito, mas são vibrantes no momento. A minha mãe tocava-lhes como se as tratasse por  «tu». No fundo, amava as flores e as pessoas da mesma forma.

in Máquina de Escrever Sentimentos, Inês Meneses, p. 34



01 janeiro, 2025

Regresso | Maria Teresa Horta

 



Regresso para mim
e de mim falo
e desdigo de mim
em reencontro

os pontos
um por um:

o sol
os braços

a boca
o sabor

ou os meus ombros

Trago para fora
o que é secreto
vantagem de saudade
o que é segredo

Retorno para mim
e em mim toda
desencontro já o meu regresso



31 dezembro, 2024

Adília Lopes | 1960 - 2024


                                                                     radionova.fm


Só gosto das pessoas boas
quero lá saber que sejam inteligentes artistas sexy
sei lá o quê
se não são boas pessoas
não prestam

_______________


45 Anos

É tempo
de regressar
a casa
A poesia
não está
na rua


Adília Lopes, pseudónimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira (Lisboa, 20 de abril de 1960 − 30 de dezembro de 2024)
.


Feliz Ano 2025

 


30 dezembro, 2024

GoodReads 2024

 

Para conhecer todos os livros lidos:  Graciosa’s Year in Books | Goodreads








Leituras | 12 meses

 

𝑩𝒓𝒆𝒗𝒊á𝒓𝒊𝒐 𝒅𝒂𝒔 𝑨𝒍𝒎𝒂𝒔, de Joaquim Mestre



Autor: Joaquim Mestre
Título: Breviário das Almas
N.º de páginas: 105
Editora: Oficina do Livro
Edição: Fevereiro 2009
Classificação: Contos
N.º de Registo: (3597)



OPINIÃO ⭐⭐⭐



Este Breviário das Almas são relatos de vidas difíceis, duras do meio rural alentejano, algarvio ou de qualquer outra região do nosso país. Outrora, a “vida era mesmo assim”. A da mulher era tratar da lida da casa, dos filhos, dos animais, do… ; a do homem era tratar do campo, caçar com os amigos, beber, … Encontramos o peso de um trabalho quotidiano que embrutece, oprime e isola. “ (…) e no outro dia e todos os dias, fazer a lida da casa e “ (p. 23)
São relatos tristes onde a morte é uma constante seja ela natural, desafiada ou causada. Dá-se relevo às crenças, aos santos; vive-se enclausurado na ignorância; acredita-se no destino; espera-se pela morte.

Mestre retrata muito bem o ambiente e o linguajar rurais. Numa escrita simples, fluente e intensa, os seus textos, alguns bem curtos, aproximam-se do neo-realismo que tanto aprecio. Fez-me lembrar a prosa de Manuel da Fonseca tão representativa da vida dura dos alentejanos e entranhada de crítica social e política.

Breviário das Almas contém no seu título o essencial do livro, isto é, o relato breve da vida de cada personagem que perturba o leitor ao (re)ver neles (nos textos) e nelas (nas almas) o atraso do país rural que encerra tristezas, solidão e abandono.

Joaquim Mestre publicou este livro em 2009. Os seus textos não estão datados, pelo que quero acreditar que se reportem a tempos anteriores e que o presente do meio rural seja bem mais risonho para as mulheres e para os homens que nele vivem.


28 dezembro, 2024

𝑪𝒐𝒓𝒂çã𝒐 𝒅𝒆 𝒑á𝒔𝒔𝒂𝒓𝒐, de Mar Benegas e Rachel Caiano



Autora: Mar Benegas
Título: Coração de pássaro
Tradutora: Maria João Moreno
Ilustradora: Rachel Caiano
N.º de páginas: --
Editora: Akiara Books
Edição: Maio 2020
Classificação: Infantil
N.º de Registo: (3500)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


𝑪𝒐𝒓𝒂çã𝒐 𝒅𝒆 𝒑á𝒔𝒔𝒂𝒓𝒐 é um livro maravilhoso. O texto melodioso e poético congraça com o traço subtil e as cores sensíveis (apenas três: preto, azul e vermelho) das ilustrações. É um deslumbramento visual. Confesso que tenho um fraquinho pelas ilustrações da Raquel Caiano. Acho as figuras femininas, encantadoras. E, neste livro, a representação da menina confirma o meu sentimento.
Nana, a menina que nasceu junto ao mar brincava com as palavras, fazia perguntas difíceis “Quem é que pinta o céu, à tarde?” e via o que quase ninguém vê. Nana tinha um amigo, Martim, a quem confiava os seus segredos e os tesouros que encontrava na praia e que segundo a professora “tudo isso se chama poesia.”
Mais tarde, os dois amigos separaram-se. Nana foi viver para a cidade, mas Martim manteve o hábito de recolher os “tesouros e guardo-os cuidadosamente. Para não se perderem e a poesia continuar aqui, quando voltares.” Deixo-vos descobrir o que aconteceu.

Esta história belíssima, para todas as idades, transborda poesia e amizade e amor. É o “conto dos segredos e da poesia” que convida o leitor a experienciar  o mundo mágico dos poetas.



27 dezembro, 2024

𝑽𝒐𝒍𝒕𝒂𝒓 𝒅𝒐 𝑩𝒐𝒔𝒒𝒖𝒆, de Maddalena Vaglio Tanet

 

Autora: Maddalena Vaglio Tanet
Título: Voltar do Bosque
Tradutora: Ana Maria Pereirinha
N.º de páginas: 263
Editora: D. Quixote
Edição: Abril 2014
Classificação: Romance
N.º de Registo: (--)


OPINIÃO ⭐⭐⭐


Baseado numa história real, este romance arrasta o leitor para o interior de um bosque que metaforicamente representa a perda, o abandono e o refúgio libertador . O enredo é doloroso, triste, melancólico e, simultaneamente, poético e esperançoso.

A acção gravita à volta de uma professora que, por uma razão que não vou desvendar, decide desaparecer e esconder-se num bosque. Esta atitude vai alvoroçar e preocupar toda a população de uma aldeia italiana e, vai, sobretudo, envolver directamente uma criança, Martino. Saberá ele manter-se fiel à promessa que fez?

O acto da professora vai levantar ao leitor inúmeras questões sobre a perda de uma pessoa, a culpa, o luto, a solidão, a lealdade, a sinceridade e, por que não, a amizade.

A escrita delicada de Tanet requer uma leitura lenta, que assimile toda a informação presente nas descrições da natureza e das personagens; que se aproprie de todos os detalhes desconcertantes e que capte as emoções profundas vividas nos momentos de dor e, também, resgatadas por via das memórias, dos sonhos, dos pensamentos.
No final, a esperança e a amizade sobrepõem-se à dor e, daí, intuímos que há uma relação intrínseca e salvífica entre a natureza e o ser humano.

Este é o primeiro livro de Maddalena Vaglio Tanet. Vou ficar atenta a novas publicações.


25 dezembro, 2024

𝑪𝒂𝒎õ𝒆𝒔 𝑪𝒐𝒏𝒔𝒆𝒈𝒖𝒊𝒖 𝑬𝒔𝒄𝒓𝒆𝒗𝒆𝒓 𝑴𝒖𝒊𝒕𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑸𝒖𝒆𝒎 𝑺ó 𝑻𝒊𝒏𝒉𝒂 𝑼𝒎 𝑶𝒍𝒉𝒐, Lúcia Vaz Pedro

 


Autora: Lúcia Vaz Pedro
Título: Camões Conseguiu Escrever Muito...
N.º de páginas: 4285
Editora: Manuscrito
Edição: Setembro 2019
Classificação: Não-ficção
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐


Lúcia Vaz Pedro, Professora de Português do 3.º ciclo e ensino secundário compilou neste livro perguntas, comentários, respostas e erros de alunos que foi registando ao longo da sua carreira.

São muitos os professores que registam os seus “tesourinhos” para mais tarde recordar. Esta professora entendeu que seria uma mais-valia, e ainda bem que o fez, publicar um livro com estas preciosidades e acrescentar a devida correcção e/ou cenários de resposta, a explicação de cada erro e informação complementar quer gramatical quer literária – “Vamos aprender”.

São múltiplos os comentários, respostas e perguntas caricatos e até despropositados, por desconhecimento total dos conteúdos, das regras, do assunto, por distracção, por má interpretação do solicitado. Porém, muitos revelam uma enorme capacidade criativa dos alunos.

Lúcia Vaz Pedro considera, e bem, que rir “é o melhor remédio”, tal como Gil Vicente apregoava “ridendo castigat mores”, a professora não pretende “castigar”, mas sim ensinar a bem escrever e falar, recorrendo ao riso e ao sentido de humor. Afinal, a brincar também se aprende. E bem, acrescento eu.





22 dezembro, 2024

𝑨 𝑩𝒓𝒆𝒗𝒆 𝑽𝒊𝒅𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑭𝒍𝒐𝒓𝒆𝒔, de Valérie Perrin



Autora: Valérie Perrin
Título: A Breve Vida das Flores
Tradutora: M.ª de Fátima Carmo
N.º de páginas: 444
Editora: Editorial Presença 
Edição: Fevereiro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (-)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐




Decidi ler A Breve Vida das Flores por ser, talvez, um dos livros mais elogiados do momento. Apesar disso, não criei grandes expectativas porque, quando todos falam muito bem de um livro, eu desconfio. No início, a história não me agarrou, estive quase a desistir. Li outro nos entretantos, e voltei a pegar-lhe por sugestão de outras leitoras por quem tenho consideração.

À medida que avançava na leitura fui conquistada pela escrita poética pincelada de algum humor e pela personagem feminina, Violette Toussaint, que se revela generosa, trabalhadora, sensível e inteligente; que prefere a vida à morte, o sol à sombra; que adora tratar do seu jardim e das suas flores e que se veste de cores vivas. Violette conquista-nos pela sua maneira de ser e de encarar a dor e a tristeza; pelo carinho e cuidado que dedica aos outros.
“Saboreio a vida, bebo-a em pequenos goles como chá de jasmim com mel. (…) Eu estava muito infeliz; aniquilada, mesmo. Inexistente. Vazia. (…) Contudo, como nunca tive gosto pela infelicidade, decidi que isso não iria durar.” (pp. 10 e 11)

A narrativa oscila entre passado e presente, e os acontecimentos são desvendados a conta-gotas pelo viés de memórias, de conversas, de cartas e de diários.

Destaco os momentos de introspecção que evidenciam a solidão e a tristeza, mas também momentos de partilha, de apoio que relevam a amizade, o amor, a compaixão e a perseverança.
Valérie Perrin foi brilhante ao colocar grande parte da acção num cemitério. Aí, coabitam a vida e a morte de pessoas, de flores, de animais; surgem encontros improváveis e inesperados; ocorrem vivências tristes e hilariantes. É o local ideal para servir o seu propósito, isto é, de levar o leitor a reflectir sobre a vida e a morte, sobre a perda e o luto, sobre a beleza do mundo.

Até aqui, a minha apreciação é positiva e reitero que gostei imenso do enredo que envolve a protagonista. Porém, considero que a partir de um certo momento começam a surgir muitas histórias, muitas personagens que, na minha opinião, só servem para desviar o leitor da acção principal. A narrativa cai um pouco na banalidade e torna-se, desta forma, enfastiante. Por vezes, menos é mais. Penso que se tivesse omitido alguns episódios, o livro ficaria ainda melhor.




15 dezembro, 2024

𝑶 𝑴𝒆𝒖 𝑷𝒂𝒊 𝑽𝒐𝒂𝒗𝒂, de Tânia Ganho



Autora: Tânia Ganho
Título: O Meu Pai Voava
N.º de páginas: 189
Editora: D. Quixote
Edição: Julho 2024
Classificação: Memórias
N.º de Registo: (3619)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Em O Meu Pai Voava, Tânia Ganho entretece pensamentos, memórias e desassossegos. Após a morte de seu pai, naturalmente, sentiu necessidade de manifestar os sentimentos e as dúvidas que a assolaram num momento de profunda tristeza. Foi na escrita que encontrou a forma de falar do luto e de glorificar o pai. Tânia Ganho, logo no início, informa o leitor que escreve este livro para se encontrar, para recalibrar a sua vida, para enfrentar a perda. “Não sei para quem escrevo estas palavras. Para ele, talvez. Para a minha mãe. É aqui que faço o luto. Desde que morreu, escrevo sem parar. Escrevo para recuperar o fulgor com que ele viveu, porque tudo se me afigura triste e ermo.” (p. 11)

Este pequeno livro é de uma sensibilidade extrema. Tânia Ganho cristaliza com imenso carinho episódios que viveram juntos. Recupera memórias, recordações; retrata o amor que os unia; narra episódios vividos em família, as conversas mantidas; fala da doença do pai, da perda de lucidez, da perda do sorriso do olhar, da perda das palavras, da sua “desmemória”; fala da morte, do velório; cita os livros que leu e os filmes que viu e que a ajudaram a ultrapassar a dor, mas não sabe a última palavra que o pai lhe disse. A última conversa que tiveram. A última vez que o pai a reconheceu.

Quem convive com doentes com Alzheimer sabe que é assim. Também eu deixei de saber o dia em que o meu pai deixou de me reconhecer, de falar comigo, de me dar um beijo. Por isso, este livro fez-me reviver o meu passado. Foi um submergir, de novo, à superfície. Foi um reabrir o que considerava há muito trancado. Pela mão da Tânia e pelas suas palavras recuperei momentos felizes da minha infância, da minha vida. Mais duro foi reacender passagens da doença, o fim de um tempo que acabou por arrastar a minha mãe.

Recomendo a leitura deste livro belo e corajoso. Há momentos que nos fazem sorrir, há outros mais dolorosos. A escrita, rigorosa no uso das palavras, revela, como já referi, uma tal sensibilidade que torna belos os momentos de tristeza. É, sem dúvida, uma bonita homenagem ao seu pai e um legado maravilhoso que partilha com o seu filho.
“A morte devolve-me o pai herói que, durante anos, a doença esbateu.”
(p. 147). É isto.

                           

11 dezembro, 2024

𝑮𝒐𝒐𝒅𝒃𝒚𝒆, 𝑪𝒐𝒍𝒖𝒎𝒃𝒖𝒔 𝒆 𝒄𝒊𝒏𝒄𝒐 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒐𝒔, de Philip Roth

 


Autor: Philip Roth
Título: Goodbye, Columbus e cinco contos
Tradutor: Francisco Agarez
N.º de páginas: 293
Editora: D. Quixote
Edição(4.ª): Maio 2012
Classificação: Novela e contos
N.º de Registo: (3521)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


O livro de Philip Roth é composto por uma novela e cinco contos. Todos incidem sobre aspectos da cultura, da religião e modos de vida dos judeus nos Estados Unidos. Neste seu livro de estreia, Roth já nos reverbera com o seu humor corrosivo tão presente em toda a sua obra.
Pelo viés da observação e com recurso a uma crítica humorada, Roth expõe de forma exímia os dogmas e os costumes do povo judaico.

Na novela Adeus, Columbus, Roth com uma escrita despojada entra no universo delicado de um primeiro amor entre Niel Klugman, um bibliotecário sem grandes recursos económicos, e Brenda Patimkin, uma rapariga de família riquíssima.
A narrativa, que se afasta da lamechice, do sentimentalismo barato, seduz de imediato o leitor que se deixa envolver pela subtileza da mensagem genuína e sensual da primeira experiência amorosa.

Os cinco contos que se seguem são uma sátira aos dogmas religiosos. Narram histórias intrigantes com consequências trágicas e finais absurdos. Roth recorre à ironia e à sátira para reflectir a respeito da fé e da tradição judaicas beliscadas pela civilização moderna.

Para quem conhece a obra de Roth e só agora lê este livro, percebe que o autor já no seu início dominava a arte da escrita. É um exercício interessante ler primeiro as obras de um autor consagrado e maduro e só depois descobrir a sua primeira obra. Não fiquei decepcionada. Philip Roth é um dos meus escritores de eleição.


08 dezembro, 2024

Notre-Dame de Paris

 

                                                    Foto: Bernat Armangue/AP Photo


Um dos maiores símbolos de Paris, a Catedral de Notre-Dame reabriu ao público, totalmente restaurada e ainda mais resplandecente, cinco anos após um incêndio devastador (15 de abril 2019). A cerimónia solene transmitida pela televisão francesa -France TV - mostrou ao mundo a nova imagem da Catedral. 

Tenho urgência em agendar uma visita à capital Francesa. 

___________

Não resisto em partilhar  uma das mais belas canções da música francesa dedicada à Catedral Notre-Dame .


Copyright belongs to owners)




Letra da canção:

Belle
C'est un mot qu'on dirait inventé pour elle
Quand elle danse et qu'elle met son corps à jour, tel
Un oiseau qui étend ses ailes pour s'envoler
Alors je sens l'enfer s'ouvrir sous mes pieds
J'ai posé mes yeux sous sa robe de gitane
À quoi me sert encore de prier Notre-Dame?
Quel
Est celui qui lui jettera la première pierre?
Celui-là ne mérite pas d'être sur terre
Ô Lucifer
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Glisser mes doigts dans les cheveux d'Esméralda

Belle
Est-ce le diable qui s'est incarné en elle
Pour détourner mes yeux du Dieu éternel?
Qui a mis dans mon être ce désir charnel
Pour m'empêcher de regarder vers le Ciel?
Elle porte en elle le péché originel
La désirer fait-il de moi un criminel?
Celle
Qu'on prenait pour une fille de joie, une fille de rien
Semble soudain porter la croix du genre humain
Ô Notre-Dame
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Pousser la porte du jardin d'Esméralda

Belle
Malgré ses grands yeux noirs qui vous ensorcellent
La demoiselle serait-elle encore pucelle?
Quand ses mouvements me font voir monts et merveilles
Sous son jupon aux couleurs de l'arc-en-ciel
Ma dulcinée laissez-moi vous être infidèle
Avant de vous avoir mené jusqu'à l'autel
Quel
Est l'homme qui détournerait son regard d'elle
Sous peine d'être changé en statue de sel
Ô Fleur-de-Lys
Je ne suis pas homme de foi
J'irai cueillir la fleur d'amour d'Esméralda

J'ai posé mes yeux sous sa robe de gitane
À quoi me sert encore de prier Notre-Dame?
Quel
Est celui qui lui jettera la première pierre
Celui-là ne mérite pas d'être sur terre
Ô Lucifer
Oh laisse-moi rien qu'une fois
Glisser mes doigts dans les cheveux d'Esméralda

Esméralda



06 dezembro, 2024

𝑴𝒐𝒖𝒔𝒄𝒉𝒊, 𝑶 𝑮𝒂𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑨𝒏𝒏𝒆 𝑭𝒓𝒂𝒏𝒌, de José Jorge Letria com ilustrações de Danuta Wojciechowska

 



Autor: José Jorge Letria
Título: Mouschi, O Gato de Anne Frank
Ilustradora: Danuta Wojciechowska
N.º de páginas: 36
Editora: Edições ASA
Edição (2.ª): Setembro 2002
Classificação: Infantil/Juvenil
N.º de Registo: (BE)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



José Jorge Letria dá voz a um personagem muito especial, o gato Mouschi, para nos revelar a história angustiante da família de Anne Frank que se refugiou num anexo, de um sótão, durante dois anos.

A história narrada pelo gato, que esteve sempre com a família no anexo, centra-se, sobretudo na sua relação com a menina Anne Frank. É pelo seu sentir que acompanhamos o crescimento de Anne, ao longo destes dias: as suas angústias, a sua paixão pela escrita, registada no seu diário, o seu amor por Peter, os desentendimentos com a mãe, os seus sonhos, a sua crescente tristeza, e a sua captura por “cinco homens, um com a farda da polícia alemã”. É ainda pela sua voz que tomamos conhecimento que só o pai de Anne, sobrevive.

Quem conhece O Diário, de Anne Frank, já não é surpreendido pelo trágico final da família. Contudo, este pequeno livro, tão bem ilustrado pela Danuta Wojciechowska, é uma excelente abordagem, para iniciar os mais jovens aos horrores do holocausto, à perseguição dos judeus, ao extermínio nos campos de concentração.

Mouschi é um gato sensível, muito curioso e carinhoso que tudo faz para tornar os dias de Anne menos tristes, mas acaba por confessar que não compreende certas situações:
“Eu, como era gato, e ainda por cima um gato jovem, tinha dificuldade em compreender que aquela menina tinha perdido tudo o que contara para ela - os amigos, a escola, o sonho, a liberdade - e que aquele diário era um postigo que se abria para o exterior e a iluminava por dentro como uma vela que o vento não conseguia apagar ou uma estrela distante mas infinitamente amiga” (p. 12)

No final do livro, Mouschi fala-nos um pouco de si, da libertação de Amsterdão e termina a história com uma mensagem muito linda, carregada de simbolismo e actualíssima.

“Uma coisa é certa. Passaram tantos anos e eu, no pequeno céu dos gatos mortos de tristeza e solidão, nunca mais me esqueci da minha querida Anne Frank, nem nunca mais cheguei a perceber o que pode levar seres humanos a serem por vezes tão cruéis e tão violentos.
Se eu soubesse chorar, mesmo transformado em personagem deste livrinho de memórias, teria sempre duas lágrimas guardadas: uma para Anne e outra para o meu amor por ela. Quem matou esta menina merece ser castigado eternamente por todas as estrelas que há no céu.” (p. 36)

Recomendo este e outros livros que tratem esta temática. É importante que a memória permaneça viva. Não podemos ignorar o passado e permitir que seres humanos cruéis comandem a vida de pessoas inocentes. Infelizmente, o passado está, de novo, bem presente e, o céu continua a receber “estrelas”.



28 novembro, 2024

Canção da Plenitude



Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem - retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.


Lya Luft, in Secreta Mirada

27 novembro, 2024

𝑴𝒂𝒕𝒂𝒓á𝒔 𝑼𝒎 𝑪𝒖𝒍𝒑𝒂𝒅𝒐 𝒆 𝑫𝒐𝒊𝒔 𝑰𝒏𝒐𝒄𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔, Rodrigo Guedes de Carvalho

 

Autor: Rodrigo Guedes de Carvalho
Título: Matarás Um Culpado e Dois Inocentes
N.º de páginas: 350
Editora: D. Quixote
Edição: Outubro 2024
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3627)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Quando terminei As Cinco Mães de Serafim, escrevi que o facto de o autor não ter desvendado alguns mistérios não era relevante para o propósito do livro porque o importante estava lá, dito directamente ou nas entrelinhas. Agora que li a sequela, considero que este livro tinha mesmo de ser escrito. A revelação dos segredos que ficaram em aberto, no anterior, torna a história da família Temeroso bem mais empolgante e emotiva. A narração do mistério que envolveu o desaparecimento de uma irmã do protagonista, Miguel Temeroso, e a morte de outras três, levanta questões profundas sobre noções de culpa, inocência, redenção. A tragédia ocorrida há 50 anos, na noite de 24 de Abril de 1974 acabou por passar quase despercebida, na pequena localidade de Gondarém, devido ao “acto revolucionário que fez cair o regime” e que ocorreu na mesma noite. Só o irmão, Miguel Serafim, permanece emotivamente perturbado (“Morri no dia em que morreram as minhas três irmãs. A única diferença é que continuei a respirar”), num estado de dúvida e de incompreensão, até ao dia em que lhe é revelado um segredo.

RGC mantém a escrita límpida e inteligente do romance anterior e já citado. Aprecio sobremaneira o entrelaçar dos tempos e das histórias que mantém o leitor suspenso. A atmosfera, neste livro, é bem mais densa e envolvente. Há uma aura de mistério, de sobrenatural, que engrandece a narrativa. Sem pressa e envoltas em suspense, as respostas vão surgindo, oscilando entre momentos de dúvidas e de confissões, de violência e de ternura, de desesperança e de aceitação, de encontros, de revelações e de libertação emocional.

Concluo, mantendo a convicção de que “a amizade talvez seja um outro nome para família”.
É esta a mensagem tão bem explorada nos dois livros do RGC e que, neste, eleva a narrativa a um patamar superior, que merece ser lido. No fundo, o importante não é saber quem e como matou. O importante é, mesmo, saber que há alguém, por perto e atento, para apoiar e erguer os que sobrevivem à dor, ao sofrimento.
Recomendo a leitura dos dois livros, contudo este, que pode ser lido de forma autónoma, é, para mim, muito mais impactante.


26 novembro, 2024

Escrevo para...

 



Tal como Al Berto, eu também não escrevo para seduzir...

Escrevo para me aquietar do desassossego que, de quando em vez, me invade, tal uma planta sugadora e me mergulha numa solidão devastadora.

Mas como a larva que se transforma em borboleta, procuro o mar para nele recuperar o fôlego necessário à transformação. 

É na longa contemplação do azul intenso que resgato dúvidas, fortaleço certezas e adquiro a plenitude que me permite, no silêncio de uma folha branca, escrever as palavras certas que resvalam na noite insone.

GR

21 novembro, 2024

Que nenhuma estrela queime o teu perfil, Sophia de Mello Breyner Andresen

 

                                                    Foto GR


Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.


Sophia de Mello Breyner Andresen



20 novembro, 2024

𝑵ã𝒐 𝑺𝒐𝒎𝒐𝒔 𝑨𝒃𝒐𝒓𝒓𝒆𝒄𝒆𝒏𝒕𝒆𝒔: 𝑺ó 𝑷𝒓𝒆𝒄𝒊𝒔𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝑨𝒍𝒈𝒖é𝒎 𝒏𝒐𝒔 𝑬𝒏𝒕𝒆𝒏𝒅𝒂, de Diana Borges

 Autora: Diana Borges
Título: Não somos Aborrecentes: Só Precisamos
que Alguém nos Entenda
N.º de páginas: 67
Editora: (independente)
Edição: Setembro 2024
Classificação: Testemunhos
N.º de Registo: (--)




OPINIÃO ⭐⭐⭐


Diana Borges é uma jovem estudante que ama as palavras. Conhecia-lhe o gosto pela leitura, a voz melodiosa e emotiva, mas desconhecia-lhe o hábito de registar as suas reflexões, angústias e emoções num diário muito pessoal e que, com incentivos de ordem vária, em boa hora, se transformou no seu primeiro livro.

Senti um enorme orgulho quando ela, com um brilhozinho nos olhos e um largo sorriso, me revelou que tinha editado um livro. Quis lê-lo imediatamente. Foi uma agradável surpresa, porque sendo a Diana ainda tão jovem, conquistou-me com uma escrita que evidencia uma responsabilidade e uma maturidade pouco comuns nos dias que correm. Convivo, diariamente, com jovens, por isso, refiro-o com segurança e conhecimento de causa.

Não Somos Aborrescentes, Só Precisamos que Alguém Nos Entenda assenta, essencialmente, em depoimentos de adolescentes que se centram em vivências muito íntimas como, o amor e o sexo na adolescência; os relacionamentos; o ambiente escolar; o bullying; os vícios; a depressão e a ansiedade.

Todos os testemunhos incidem sobre estes temas delicados, todos muito sensíveis, vividos por jovens (rapazes e raparigas). As reflexões da Diana, no final de cada temática, conduzidas com subtileza, mergulham na complexidade da vida destes jovens, nas suas inquietações que vão muito para além do problema das borbulhas ou do aspecto visual e expõem o que, também, ela viveu e sentiu, sobretudo quando teve de se ambientar e integrar numa cultura e mentalidade tão diferentes da sua.

O apelo que ecoa ao longo de várias páginas “EU NÃO QUERO ME MATAR”, bem como a repetição de verbos como “precisamos” e necessitamos” na reflexão final, demonstram que estes jovens não são “aborrecentes", apenas, e só, procuram a compreensão dos pares, dos pais, dos professores, dos educadores, da sociedade.

As sessenta e sete páginas deste livro são preciosíssimas para quem pretende entender e acompanhar os jovens. Recomendo. 




19 novembro, 2024

Galardoados com o Prémio Literário José Saramago




1999 - Natureza Morta, Paulo José Miranda - Portugal
2001 - Nenhum Olhar, José Luís Peixoto - Portugal
2003 - Sinfonia em Branco, Adriana Lisboa - Brasil
2005 - Jerusalém, Gonçalo M. Tavares - Portugal
2007- O Remorso de Baltazar Serapião, Valter Hugo Mãe - Portugal
2009 - As Três Vidas, João Tordo - Portugal
2011 - Os Malaquias, Andréa del Fuego - Brasil
2013 - Os Transparentes, Ondjaki - Angola
2015 - As Primeiras Coisas, Bruno Vieira Amaral - Portugal
2017 - A Resistência, Julián Fuks - Brasil
2019 - Pão de Açúcar, Afonso Reis Cabral - Portugal
2022 - Dor Fantasma, Rafael Gallo - Brasil
2024 - Morramos ao menos no porto, Francisco Mota Saraiva - Portugal



Francisco Mota Saraiva vence Prémio José Saramago 2024

 


O escritor Francisco Mota Saraiva, natural de Coimbra (1988), é o vencedor do Prémio Literário José Saramago pelo romance Morramos ao menos no porto.

O júri desta edição, destacou o facto de o livro possuir "uma qualidade quase musical" e "um estilo muito próprio, quase um idioma particular", que constroem "um romance impiedoso" e "corajoso".

A edição deste ano teve como jurados os escritores e anteriores premiados Adriana Lisboa e Paulo José Miranda, além de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, Guilhermina Gomes, em representação da Fundação Círculo de Leitores e presidente do júri, e a escritora Lídia Jorge, membro honorário.

O escritor com o seu primeiro romance - Aqui onde canto e ardo - venceu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2023