13 setembro, 2025

𝑮𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒆 𝑫𝒖𝒃𝒍𝒊𝒏, de James Joyce

 

Autor: James Joyce
Título: Gente de Dublin
Tradutor: B. de Carvalho
N.º de páginas: 221
Editora: Vega/Público
Edição: 1995
Classificação: Contos
N.º de Registo: (563)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Gente de Dublin (Dubliners) é considerada por muitos como uma obra-prima já reveladora da genialidade estilística e temática de James Joyce. Publicada em 1914, contém quinze contos que retratam com precisão e melancolia a vida quotidiana da classe média e trabalhadora de Dublin, no início do século XX.

Cada história é autónoma, mas juntas formam um retrato colectivo da cidade, como espaço estagnado, e dos seus habitantes. Nelas, nas histórias, Joyce constrói um mosaico de vidas marcadas pela memória, pela ironia devastadora, pela hesitação emocional, pela rotina, pela perda da fé, pela paralisia intelectual e pela morte – morte de sonhos, de possibilidades, de relações.

Joyce recorre a uma escrita realista, precisa e observadora, evita sentimentalismos e usa a cidade – Dublin – como presença viva que molda os destinos das suas personagens. O passado e a memória são uma constante. Influenciam na tomada de decisão de algumas personagens, gente simples, e revelam uma identidade irlandesa, muito conservadora, em busca de sentido.

Gente de Dublin revela-nos um território íntimo e crítico atravessado por silêncios e desejos não concretizados. Cada conto evolui ao ritmo do seu protagonista, numa época de transformações socais e políticas, permitindo ao leitor aceder a camadas da relação, da vida humana sem que aconteçam grandes sobressaltos. É sempre o habitual, a normalidade que prevalece. Tudo fica igual, não há suspense. Muitos contos não apresentam uma conclusão, uma solução ao problema. Mas engane-se quem considerar que, pelo facto de não haver surpresas na evolução da história, a narrativa se torna aborrecida. Não! A beleza da escrita de Joyce encarrega-se de nos manter cativos ao enredo. A ingenuidade aparente de alguns relatos convida-nos à reflexão e surpreende-nos.

Gostei da leitura deste livro. Destaco o último conto – O Morto – que testemunha o desmoronar de uma época, de um país. Bela metáfora.




Sem comentários:

Enviar um comentário