21 novembro, 2025

𝑨 𝑴𝒂𝒏𝒕𝒂, de Isabel Minhós Martins e Yara Kono

 



Pequeno livro maravilhoso que nos transporta para histórias da nossa infância.

Cada retalho de tecido guarda uma surpresa. Pode ser lembrança, pode ser brincadeira, pode até transformar-se em roupa nova para uma boneca. Quem sabe quantas histórias ainda estão escondidas nas gavetas, à espera de serem descobertas? 


Retalhos travessos

Este texto nasceu inspirado no livro A manta – uma história aos quadradinhos (de tecido), escrito por Isabel Minhós Martins e ilustrado por Yara Kono. Tal como nessa história, também aqui um retalho de tecido guarda memórias, brincadeiras e segredos. Entre linhas e costuras, o tecido transforma-se em personagem e testemunha de aventuras, trazendo à superfície lembranças da infância e da imaginação.

Quando eu era pequena, adorava brincar na rua com os meus amigos. Corríamos, ríamos e inventávamos jogos sem fim. Mas este retalho de tecido não vinha da rua.

A minha irmã era a costureira da família. Fazia vestidos para mim, mas eu detestava prová-los. Ficava de pé, muito direita, enquanto ela espetava alfinetes para ajustar. “Ai, que já me picaste!”, gritava eu, e ela respondia: “Não te mexas, senão nunca mais acabo!”

Na casa havia metros e metros de tecidos lindíssimos. Pareciam rios coloridos a escorrer das prateleiras. Eu olhava para eles e pensava: “Se eu fosse costureira, faria roupas para a minha boneca, que só tem uma muda de roupa, coitadinha.”

Um dia, não resisti. Peguei na tesoura como quem pega num segredo e cortei um pedaço de tecido. “Vai ser uma saia plissada, igual às da moda!”, pensei. Às escondidas, cosi e cosi, com muito cuidado. Quando terminei, fiquei orgulhosa: a minha boneca parecia uma verdadeira princesa!

Mas… a minha irmã descobriu. Olhou para o tecido cortado e disse: “Quem fez isto?” Eu tentei esconder-me atrás da boneca, mas não resultou. Levei um grande raspanete e fiquei uma semana sem brincar na rua.

Mesmo assim, quando olhava para a boneca de saia nova, eu sorria. Porque às vezes, uma travessura também pode ser uma aventura.

GR



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